Especialista defende Selic alta até 2026 e critica antecipação do corte de juros pelo mercado

Em entrevista ao canal CNN Money, a economista Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, defendeu que o Banco Central do Brasil não deve iniciar o ciclo de corte da Selic antes do fim de 2026. Para a especialista, os dados de atividade econômica ainda são robustos e a inflação permanece bem acima da meta — fatores que, segundo ela, inviabilizam uma política monetária mais frouxa no curto prazo.

Pressão do mercado antecipa cortes sem base econômica

Embora o mercado financeiro esteja projetando uma redução da taxa básica de juros já para este ano, com estimativas de que a Selic termine 2025 em torno de 14,75%, Fontes afirma que essa expectativa é inconsistente com a realidade fiscal e inflacionária do país. “Os dados de crédito e emprego estão fortes. Não há justificativa para antecipar um corte”, afirmou.

Ela também pontuou que a inflação projetada para 2025 e até 2028 segue fora do centro da meta de 3%, o que compromete a credibilidade do regime de metas inflacionárias. “O mercado parece estar ignorando a importância de manter a taxa elevada por mais tempo”, completou.

Inflação desancorada e atividade aquecida

De acordo com Fontes, os principais vetores que deveriam justificar a queda da Selic ainda não estão presentes. O desemprego segue em mínimas históricas, o consumo está aquecido e a inflação de 2024 gira em torno de 5,5% — acima do intervalo superior da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

Ela aponta ainda que a valorização temporária do real contribui para aliviar a inflação de curto prazo, mas que o segundo semestre costuma ter um movimento de saída de dólares, pressionando o câmbio e potencialmente elevando os preços novamente.

Ano eleitoral pressiona política monetária

Com a proximidade das eleições de 2026, Marília alerta para o risco de interferência política nas decisões do Banco Central. “A pressão para cortar juros será enorme. Mas sem controle da inflação, isso só agrava os desequilíbrios macroeconômicos”, explicou.

A economista vê com ceticismo as promessas de ajuste fiscal para os próximos anos. Segundo ela, o governo atual errou ao não implementar cortes de gastos no início do mandato. “Como sempre no Brasil, a conta vai estourar no próximo presidente”, criticou.

Credibilidade do Banco Central em xeque

Fontes também avaliou o desempenho de Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco Central e indicado pelo presidente Lula. Para ela, o novo presidente perdeu uma oportunidade de consolidar a confiança do mercado ao sinalizar um possível ritmo mais brando de aperto monetário na primeira oportunidade.

“Ele começou bem, mantendo a linha do Copom anterior. Mas na primeira chance, cedeu à pressão por redução de ritmo. Isso enfraquece a sinalização de compromisso com o controle da inflação”, disse.

Meta de inflação é possível com responsabilidade fiscal

Contrariando a tese de que a meta de 3% seria inalcançável para o Brasil, Fontes argumenta que o país já mostrou capacidade de controlar a inflação com juros mais baixos no período pré-pandemia, desde que mantida a disciplina fiscal.

Ela citou o período de 2016 a 2019, quando a inflação média ficou próxima de 3% com a Selic em patamares moderados, graças ao teto de gastos e reformas estruturais. “É perfeitamente possível. O problema é o descontrole de gastos após a pandemia, com auxílios temporários se tornando permanentes e aumento da dívida pública”, apontou.

Alerta para dominância fiscal e impacto nos mais pobres

A economista também abordou o risco de dominância fiscal — quando o aumento dos juros em vez de conter a inflação, piora as expectativas ao aumentar a preocupação com a sustentabilidade da dívida pública. Apesar de o Brasil ainda não estar nesse cenário, ela afirma que é uma possibilidade real, caso o arcabouço fiscal seja abandonado.

“Inflação alta é um dos maiores fatores de desigualdade social. Os mais pobres não conseguem se proteger da perda de poder de compra”, enfatizou, defendendo que o compromisso com inflação baixa deve ser prioridade absoluta.

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