O mercado financeiro brasileiro enfrentou um dia de intensa volatilidade, refletindo o clima de incerteza global. Mesmo com o anúncio de suspensão temporária das tarifas comerciais impostas pelo ex-presidente Donald Trump, o dólar comercial fechou em alta de 0,92%, cotado a R$ 5,899 nesta quarta-feira (10), enquanto o Ibovespa recuou 2,54%, aprofundando as perdas da semana.
Fuga para o dólar: o que está por trás da valorização
Apesar do gesto diplomático de Trump ao estabelecer uma trégua de 90 dias nas tarifas aplicadas a diversos países, investidores continuam buscando refúgio no dólar. O movimento é reflexo direto da saída de capitais dos mercados emergentes, intensificada por um cenário de forte incerteza global.
Um dos principais gatilhos para esse comportamento foi a venda maciça de títulos do Tesouro dos Estados Unidos por parte de países como China e, possivelmente, Japão. Essa pressão vendedora sobre os Treasuries — tradicionalmente considerados os ativos mais seguros do mundo — deixou os investidores apreensivos, lembrando o ambiente caótico do início da pandemia de Covid-19.
Impactos no Brasil: pressão sobre câmbio e inflação
A escalada do dólar tem consequências diretas para a economia brasileira. Com a moeda americana se valorizando frente ao real, o preço de produtos importados sobe, pressionando ainda mais a inflação. Esse efeito em cadeia impõe um novo desafio ao Banco Central do Brasil, que já vinha adotando uma política monetária restritiva.
Desde 2023, o BC realizou sucessivas altas na taxa Selic para conter a inflação. Agora, sob a liderança de Gabriel Galípolo, o comitê sinaliza a possibilidade de novas elevações dos juros, caso o câmbio continue pressionando os preços internos.
A bolsa em queda e o comportamento dos investidores
A desvalorização de 2,54% no Ibovespa nesta sessão reflete a aversão ao risco por parte dos investidores. Durante a maior parte do pregão, o dólar operou acima de R$ 6, gerando temor sobre a saúde financeira de empresas dependentes da importação ou expostas ao endividamento em dólar.
Investidores institucionais, atentos aos desdobramentos da política externa americana, optaram por reduzir posições em ativos brasileiros, contribuindo para o derretimento da bolsa.
Lula e equipe monitoram efeitos do tarifário de Trump
Segundo apuração da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, ministros do governo Lula interpretam o recuo de Trump como um sinal de fragilidade diante das pressões internas nos Estados Unidos. A suspensão temporária das tarifas, que baixam para o piso de 10% em quase todos os casos, pode ser apenas o início de um recuo maior, inclusive em relação à China, onde as tarifas anunciadas por Trump podem atingir até 145%.
A avaliação é de que o governo brasileiro deve agir com cautela, evitando qualquer enfrentamento direto com o ex-presidente americano neste momento de instabilidade. O ministro Fernando Haddad já afirmou que “não se desafia um doido”, reforçando a postura de neutralidade do Brasil.
Impactos esperados para os próximos dias
Com os mercados globais ainda tentando digerir os efeitos da venda dos Treasuries e da política comercial norte-americana, espera-se que a volatilidade continue. A fuga de capitais dos emergentes pode persistir, mantendo o dólar pressionado e exigindo mais firmeza do Banco Central brasileiro.
Por ora, a recomendação de especialistas é atenção redobrada com o cenário externo. Investidores devem observar com cautela os próximos passos de Trump e a atuação do BC em resposta à alta cambial, especialmente em um ano de grande sensibilidade econômica e política.
O post Dólar disparam mesmo com recuo parcial de Trump; Ibovespa afunda 2,54% apareceu primeiro em O Petróleo.