As taxas dos títulos do Tesouro Direto estão em forte trajetória de queda nas últimas semanas, especialmente os papéis prefixados e atrelados ao IPCA. Ainda assim, a demanda continua alta — e, surpreendentemente, os principais compradores são os bancos.
Esse movimento levanta uma pergunta essencial: por que os grandes investidores seguem comprando, mesmo com as taxas em níveis historicamente mais baixos? A resposta está nas expectativas para a Selic e no cenário dos juros futuros.
Queda das taxas: tendência acelerada em 2025
Analisando a curva dos prefixados mais longos, como o Tesouro Prefixado 2032, nota-se que a taxa já chegou a superar 15% ao ano em 2024. No entanto, desde o lançamento do título em fevereiro de 2025, a taxa entrou em rota de queda, testando recentemente suportes na faixa de 13,60% a 13,40%.
O mesmo padrão se repete com o prefixado 2028, cuja taxa máxima também bateu 15%, mas caiu para 13,43% no último fechamento. No caso dos títulos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+ 2029 e 2040, a tendência é semelhante: os juros já ultrapassaram 8% em alguns momentos, mas hoje oscilam entre 7,00% e 7,30%.
Tesouro IPCA+: taxas menores, demanda maior
Apesar da redução das taxas, os leilões recentes de Tesouro IPCA+ — especialmente os com juros semestrais — registraram demanda total. O IPCA+ 2035, por exemplo, foi ofertado com taxa de 7,49% e teve sua oferta integralmente absorvida pelo mercado. Já o IPCA+ 2060 saiu com 7,32% e também teve todos os títulos vendidos.
Isso indica que, mesmo com a tendência de queda, investidores institucionais ainda consideram as taxas atrativas no cenário atual. A lógica é simples: quem compra agora garante rendimentos maiores se os juros caírem no futuro, obtendo valorização via marcação a mercado.
Tesouro Selic: bancos compram toda a oferta
Outro destaque é o comportamento do Tesouro Selic. Mesmo com a menor atratividade frente aos prefixados e IPCAs, a última oferta do Tesouro Nacional de 500 mil títulos foi integralmente comprada, tanto nos vencimentos curtos quanto nos longos.
Esse padrão se repete há meses: o Tesouro oferta, os bancos absorvem tudo. Isso mostra que os grandes players continuam confiando na estabilidade da Selic no curto prazo, além de usarem esses papéis como instrumento de liquidez.
Expectativa da Selic e juros futuros
A projeção do mercado para a taxa Selic até dezembro de 2025 está em 14,81%, indicando que o ciclo de alta terminou. O mercado acredita que os cortes devem começar a partir de abril de 2026.
Com base nessas expectativas, os juros futuros para abril de 2027 estão em torno de 13,84%. Esse dado reforça o apetite dos bancos por prefixados com vencimento em 2026 e 2027, cujas taxas ainda superam esse patamar.
Por exemplo, o Tesouro Prefixado 2026 foi vendido com taxa de 14,61%, e o 2027, com 13,79% — ambos integralmente absorvidos, mesmo com volume expressivo de títulos.
Alongamento da dívida e oferta estratégica
O Tesouro Nacional tem aproveitado o apetite dos investidores para alongar o perfil da dívida pública. No último leilão do prefixado com vencimento em 2029, foram ofertados 12 milhões de títulos — todos comprados. Esse movimento ajuda a reduzir o risco de refinanciamento da dívida em prazos mais curtos e sinaliza confiança do governo em relação ao controle fiscal.
Além disso, o prefixado com juros semestrais e vencimentos em 2032 e 2035 também teve toda a sua oferta comprada, mesmo com taxas mais baixas em relação a leilões anteriores.
Oportunidade ou armadilha?
Para o investidor pessoa física, o cenário atual continua atrativo — principalmente nos títulos IPCA+, cujas taxas ainda estão acima de 7% e protegem contra a inflação. Já nos prefixados, o momento exige mais cautela: a queda nas taxas tem sido rápida, e o ganho futuro dependerá do comportamento da Selic nos próximos trimestres.
Vale lembrar que a valorização dos títulos no Tesouro Direto ocorre não apenas pelo pagamento de juros, mas também pela marcação a mercado — que tende a ser favorável em cenários de queda na taxa básica.
O que o investidor deve fazer?
Diante da movimentação intensa dos bancos e da queda contínua nas taxas do Tesouro Direto, o investidor atento pode aproveitar oportunidades pontuais, principalmente em:
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Tesouro IPCA+ com vencimento médio (2029–2035), para proteção inflacionária
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Tesouro Prefixado 2026 e 2027, ainda com taxas superiores aos juros futuros
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Tesouro Selic, como reserva de liquidez ou diversificação segura
A tendência é de queda nas taxas de juros, mas o tempo de entrada será cada vez mais relevante. Por isso, acompanhar o mercado e realizar aportes graduais pode ser a melhor estratégia.
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