A arquitetura inaugural de BH foi projetada em casarões do antigo Curral del Rei

A fundação de Belo Horizonte, em 1897 – nova capital de Minas Gerais, implantada com edifícios em estilo eclético, nos moldes da Escola de Belas Artes de Paris  – contou com o maior corpo técnico de arquitetos já reunido no Brasil até então para a criação de uma cidade. Isso se deu em casarões coloniais do antigo arraial do Curral del Rei, que abrigaram os dois primeiros escritórios de arquitetura de Belo Horizonte – um estatal e outro privado.

Em fevereiro de 1894, o governo estadual nomeou o engenheiro Aarão Reis para chefiar a Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC), instituindo um prazo de quatro anos para erguer a nova capital sobre o antigo Curral del Rei, transformando-o num dos maiores canteiros de obras das Américas.

Dentre os vários setores técnicos e administrativos da CCNC – instalada num antigo sobrado colonial da rua General Deodoro, esquina com a Rua do Rosário – destacou-se a seção de arquitetura, responsável pelos desenhos dos edifícios, praças e monumentos que definiram a paisagem urbana inicial da nova cidade. Esse antigo sobrado, portanto, abrigou o primeiro escritório estatal de arquitetura da história da capital mineira. Ele ficava onde hoje se encontra a esquina da Rua dos Timbiras com a Rua Sergipe, local que, considerando a sua importância simbólica, merecia um marco de sinalização.

Escritório central da CCNC, instalado no sobrado da Rua General Deodoro, equina com Rua do Rosário. Foto tirada entre 1894 e 1895. (Fonte: Acervo da CCNC/colorizada).

No escritório da Rua General Deodoro trabalharam os arquitetos brasileiros José de Magalhães, Edgard Nascentes Coelho e Francisco Izidro Monteiro; além do italiano Luiz Olivieri, do belga José Verdussen, do francês Paul Villon e do português Alfredo Camarate. Dali saíram os projetos arquitetônicos dos palácios, secretarias de estado, templos, palacetes, casas para funcionários públicos, estações ferroviárias, quartel, cemitério, fórum, imprensa oficial, ginásio e outras edificações providas pelo governo estadual para a fundação da cidade.

O Palácio Presidencial, atual Palácio da Liberdade, obra em estilo eclético projejada em 1895 pelo arquiteto José de Magalhães, chefe da seção de arquitetura da CCNC. (Fonte: Ulisses Morato, 2022).

Por outro lado, em 1897, o italiano Luiz Olivieri – um dos mais destacados arquitetos da CCNC – inaugurou o primeiro escritório particular de arquitetura de Belo Horizonte em outro casarão colonial do arraial, desta feita na importante Rua de Sabará. Esse acontecimento marcante não passou despercebido pelo notável historiador da epopeia construtiva da capital, Abílio Barreto, que hoje epresta seu nome ao único imóvel remanescente do Curral del Rei, o Museu Histórico Abílio Barreto. Assim, no livro Belo Horizonte Memória Histórica e Descritiva – História Média (1936), ele relembrou o feito de Olivieri:

Em geral, os projetos dos prédios particulares que se iam construindo eram desenhados pelo Sr. Luís Oliviere, que no dia 22 de julho [de 1897] instalara o seu escritório de arquitetura à Rua de Sabará, ou pelos arquitetos da Comissão Construtora, em horas extraordinárias de trabalho.

Trecho da Rua de Sabará, no antigo arraial do Curral del Rei, onde o italiano Luiz Olivieri instalou, em 1897, o primeiro escritório particular de arquitetura de BH. Foto de 1895. (Fonte: Acervo da CCNC/colorizada).

Olivieri foi um dos maiores expoentes do estilo eclético em Belo Horizonte – marcado pela exuberante ornamentação e pelo uso de elementos da arquitetura greco-romana, entre outras – tendo assinado mais de 400 projetos públicos e privados. Além disso, desempenhou papel fundamental no desenvolvimento da cultura arquitetônica da cidade: realizou a primeira exposição de arquitetura (1911); publicou o primeiro livro – O Architecto Moderno no Brasil (1911) – e, posteriormente, lançou O Lar Moderno (1931).

Palacete Dantas, antiga residência de José Dantas, projetado em estilo eclético pelo arquiteto Luiz Olivieri em 1915. (Fonte: Ulisses Morato, 2022).

Por fim, vale destacar que esses dois feitos históricos denotam, a um só tempo, a relevância dos arquitetos pioneiros de Belo Horizonte para a fundação da nova cidade e o extraordinário prestígio social que essa profissão desfrutava naquela época. Mais do que criar edifícios, esses profissionais ajudaram a moldar a identidade urbana da nascente capital – um legado que merece ser amplamente conhecido e valorizado.

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