A recente sequência de anúncios de medidas fiscais no Brasil — que incluem iniciativas como o Vale Gás, a Medida Provisória (MP) da energia elétrica e promessas de luz gratuita — levanta uma questão crucial para o mercado: o risco fiscal segue relevante ou já está sendo ignorado pelos investidores?
A percepção predominante entre analistas é que, embora essas ações ampliem o desequilíbrio nas contas públicas, o mercado financeiro local está, ao menos temporariamente, priorizando outros vetores, principalmente o fluxo de capital estrangeiro e o cenário externo de alocação de recursos.
A força do capital estrangeiro sobre a Bolsa brasileira
O movimento de entrada de capital estrangeiro se intensificou nas últimas semanas, em parte pela queda global das taxas de juros, que obriga investidores institucionais a buscar mercados mais arriscados e com maior potencial de retorno. A Bolsa brasileira, nesse contexto, aparece como uma das mais atrativas do mundo.
Em dólares, o valuation do mercado acionário brasileiro está entre os mais baratos, independentemente do indicador utilizado. Além disso, com o câmbio relativamente desvalorizado, o Brasil se posiciona como um destino interessante para quem quer diversificar sua alocação internacional.
Esse fluxo externo é hoje um dos principais motores de sustentação do Ibovespa, superando, em impacto, as preocupações locais com o desajuste fiscal.
O investidor estrangeiro está mais otimista que o doméstico
Enquanto o investidor brasileiro lida cotidianamente com os efeitos práticos da expansão fiscal e dos riscos associados — como inflação e necessidade futura de ajuste nas contas públicas —, o investidor estrangeiro adota uma visão mais ampla e, para muitos, mais otimista.
Como afirmam especialistas, o investidor externo não olha apenas a “foto” do momento, mas sim o “filme” completo: um cenário global de juros em queda e a necessidade de buscar ativos mais arriscados, mas com potencial expressivo de valorização.
Nesse sentido, a Bolsa brasileira, mesmo com seus desafios domésticos, se encaixa perfeitamente: atrativa, barata e com possibilidade de ganhos relevantes no médio e longo prazo.
O fiscal continua sendo o “calcanhar de Aquiles” do Brasil
Apesar do otimismo em relação ao fluxo de capital estrangeiro e ao potencial de valorização da Bolsa, os problemas fiscais seguem sendo uma âncora para o desempenho dos ativos brasileiros.
De acordo com analistas, se o país conseguisse endereçar as questões fiscais — ao menos sinalizando um compromisso com o ajuste —, seria possível vislumbrar um dólar mais estável, talvez em torno de R$ 5, e um Ibovespa que poderia superar os 180 mil pontos.
Entretanto, sem esse “dever de casa”, a valorização dos ativos locais ocorre de forma mais tímida do que poderia, represada pelas incertezas fiscais e políticas.
A janela de oportunidade: Bolsa barata e potencial de bull market
Outro ponto que reforça o atrativo do mercado brasileiro é o baixo percentual atual de alocação dos investidores locais em renda variável. Esse fator cria uma assimetria: basta uma melhora na percepção de risco ou uma janela favorável para que haja um movimento expressivo de alta.
Em cenários de alta intensidade, não seria incomum observar a Bolsa brasileira subindo, em apenas um mês, o equivalente à rentabilidade de um ano inteiro de aplicações tradicionais atreladas à Selic — hoje em patamar elevado.
Esse potencial de bull market — um ciclo de alta sustentado — é, justamente, o que muitos investidores estrangeiros estão antecipando ao se posicionarem no Brasil neste momento.
O fator preponderante: cenário externo favorável
Em resumo, o fator mais determinante para a atual dinâmica do mercado brasileiro é o ambiente externo. Com a tendência global de queda de juros, o fluxo de capital estrangeiro tende a se manter robusto, alocando recursos em mercados emergentes com boas perspectivas, como o Brasil.
Mesmo com o risco fiscal persistente e a ausência de uma política clara para reequilibrar as contas públicas, o capital externo segue sendo atraído pela combinação de Bolsa barata, câmbio favorável e potencial de retorno elevado.
O mercado financeiro brasileiro vive um momento paradoxal: internamente, acumula desafios, mas, externamente, é visto como uma oportunidade rara. Se, por um lado, as políticas de expansão fiscal preocupam e geram dúvidas quanto à sustentabilidade das contas públicas, por outro, o fluxo de capital estrangeiro, impulsionado pelo cenário global de juros em queda, garante uma sustentação e até um potencial de valorização para os ativos locais.
O “filme”, como destacam especialistas, é mais positivo que negativo — mas o roteiro depende, ainda, de como o Brasil vai ou não enfrentar seu desafio fiscal.
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