O legado de Sebastião Salgado, ícone da fotografia brasileira que morreu nesta sexta-feira (23) aos 81 anos, ultrapassou as lentes e gerou impactos tangíveis por meio do Instituto Terra, a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) em recuperação no país. Em mais de 25 anos de história, a Organização Não Governamental (ONG) plantou mais de 3 milhões de árvores no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais.
A jornada de Salgado com a causa ambiental ganhou forma em 1998, quando ele e a esposa Lélia Deluiz Wanick Salgado decidiram restaurar a antiga fazenda de gado da família. Nascia ali o Instituto Terra, sediado em Aimorés, na divisa com o município de Baixo Guandú (Espírito Santo).

A principal propriedade do instituto é a Fazenda Bulcão, com 676 hectares, antes degradados por anos de atividade pecuária. O casal assumiu a missão de recuperar a área e, no verão de 1999 para 2000, realizou o primeiro plantio na região, colocando 10 mil mudas no solo com a ajuda de estudantes, amigos e colaboradores da região.
Nos próximos anos, Instututo Terra ganhou um viveiro de plantas nativas, além de criar um Centro de Educação para Restauração Ambiental, responsável por levar técnicas ecológicas para produtores e escolas da região.
O trabalho de recuperação resultou no retorno de espécies nativas da Mata Atlântica à região. Também viabilizou a regeneração de nascentes e córregos do Vale do Rio Doce.
A trajetória e o trabalho do Instituto Terra é compartilhado nas redes sociais. “Além de ampliar o trabalho de restauração ecossistêmica, queremos promover transformação social, cultural e ambiental, garantindo qualidade de vida e trabalho para milhões de pessoas. Para isso, caminhamos juntos: produtores rurais, povos indígenas, crianças, jovens e adultos, toda a comunidade da região”, informa o coletivo em publicação.
“Em mais de 27 anos, nos tornamos uma ONG de referência mundial em restauração ecossistêmica, educação ambiental e desenvolvimento rural sustentável. Com o plantio de árvores nativas na Mata Atlântica, estamos promovendo a recuperação ambiental, melhorando a qualidade de vida das comunidades e impulsionando a transformação social na bacia do Rio Doce”.

Morre Sebastião Salgado
A informação sobre a morte de Sebastião Salgado foi confirmada, nesta manhã, pelo Instituto Terra. A causa da morte ainda não foi divulgada e nem informações sobre as cerimônias de despedida.
“Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”, diz trecho do comunicado.
“Neste momento de luto, expressamos nossa solidariedade a Lélia, a seus filhos Juliano e Rodrigo, seus netos Flávio e Nara, e a todos os familiares e amigos que compartilham conosco a dor dessa perda imensa. Seguiremos honrando seu legado, cultivando a terra, a justiça e a beleza que ele tanto acreditou ser possível restaurar. Nosso eterno Tião, presente! Hoje e sempre”, completou o Instituto Terra.
Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, no início de 2024, o artista comentou sobre a relação com a idade e o trabalho. “O que vier pela frente é lucro. As pessoas vivem, quando muito, até os 90, e estou mais próximo da morte”, declarou à época em que sinalizou um ritmo mais leve.
Quem foi Sebastião Salgado
Sebastião Salgado nasceu nasceu em Aimorés, no Vale do Rio Doce, no interior de Minas Gerais, em 8 de fevereiro de 1944. Foi no estado natal que ele conheceu Lélia Wanick Salgado, quando ela tinha 17 e ele, 19. Os dois estavam juntos há cerca de 61 anos. Ela se formou em Arquitetura e ele, em Economia. Os dois integravam um grupo revolucionário de esquerda e, conforme aumentava a perseguição política durante a ditadura militar brasileira, decidiram deixar o país para se exilarem em Paris.
Em terras francesas, Salgado descobriu o talento para a fotografia quando pegou emprestada uma câmera de Lélia. Sua ascensão foi meteórica em Paris, onde passou por diferentes agências e conseguiu deixar sua marca.
Mais tarde, Lélia se tornou diretora da galeria Magnum, antes de abrir um estúdio independente, que pouco a pouco passou a ser dedicado à produção de Salgado. O trabalho de Lélia é, aliás, reconhecido como chave para o sucesso do marido. “Não sei dizer onde termino e onde começa Lélia”, afirmou o fotojornalista na entrevista.
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