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Liberdade artísticaO advogado criminalista Luiz Rutis afirma que a prisão é ilegal e viola a liberdade artística. “A prisão temporária só se justifica se o agente for perigoso”. “Defender a narcocultura não exprime perigo”. “Trata-se, em princípio, de uma atividade protegida pela liberdade artística”, disse.Para ele, criminalizar músicas de funk com base em interpretação subjetiva de autoridade é censura indireta. “O critério sobre o que é permitido ou proibido deve ser sempre objetivo e claro”. Em caso de dúvida, deve prevalecer uma presunção de legitimidade da manifestação cultural, explica.Rutis vê flagrante violação ao princípio da proporcionalidade. “Sem elementos objetivos de periculosidade concreta, o uso da prisão como resposta à manifestação simbólica é um excesso arbitrário. Isso subverte a lógica do Estado de Direito”, declara.Repressão simbólicaMorgado afirma que artistas negros e periféricos são alvo preferencial da repressão simbólica. Ele se refere a outros gêneros musicais, como o sertanejo, o rock e o punk, que também falam de armas e violência e não sofrem o mesmo tipo de perseguição. “Isso revela seletividade e racismo estrutural”, diz o especialista.O antropólogo Vinícius Rodrigues alerta que o uso do termo pelo Estado é político, e não técnico. Ele explica que o termo pode ser uma ferramenta analítica, mas que está sendo usado como rótulo acusatório. Isso reforça a estigmatização do funk e da juventude negra, em sua opinião.Para ele, retratar a desigualdade social em letras de música não é crime. “Como separar o que é fruto da imaginação do que é apologia? A aplicação da lei recai seletivamente sobre artistas periféricos”.Rodrigues também aponta censura velada como estratégia de controle. Para ele, usar MC Poze como exemplo é uma forma de impor medo a outros artistas. “Isso limita a liberdade de denúncia e expressão cultural das periferias”, esclarece.