Niède Guidon, referência nas pesquisas sobre a ocupação humana nas Américas, morre aos 92 anos


Em 1963, a arqueóloga soube da existência de pinturas rupestres no interior do Piauí. Foi o suficiente para o despertar de uma missão de vida. Morre a arqueóloga Niède Guidon, aos 92 anos
Morreu nesta quarta-feira (4), aos 92 anos, a arqueóloga Niède Guidon, uma referência nas pesquisas sobre a ocupação humana nas Américas.
No quebra-cabeças da história da humanidade, uma brasileira encontrou peças que desafiaram certezas. Filha de pai francês e mãe brasileira, Niède Guidon nasceu em Jaú, no interior de São Paulo. Em 1963, a arqueóloga formada pela USP soube da existência de pinturas rupestres no interior do Piauí. Foi o suficiente para o despertar de uma missão de vida.
“Eu trabalhava em São Paulo, no Museu do Ipiranga, e uma pessoa que foi visitar o museu contou que aqui no Piauí tinha esses desenhos. Quando foram minhas férias, eu vim até aqui pela primeira vez e vi a importância dessas pinturas”, contou Niède Guidon em 2023.
Depois de concluir um doutorado na França, Niède voltou ao sertão do Piauí e trouxe com ela uma comitiva de pesquisadores:
“E consegui, na França, que a França financiasse as pesquisas aqui. Foi aí que começou, então, a missão franco-brasileira do Piauí”, disse Niède Guidon.
O trabalho descobriu vestígios pré-históricos que confrontaram teorias mundiais sobre a chegada dos primeiros habitantes às Américas.
“As pesquisas da doutora Niède Guidon, que deram datação de mais de 50 mil anos, colocou por água abaixo a teoria do povoamento das Américas ter acontecido pelo Estreito de Bering. A contribuição da doutora Niède Guidon para a pesquisa arqueológica é infinita”, diz Conceição Lage, pesquisadora UFPI e Fundação Museu do Homem Americano.
Niède Guidon morre aos 92 anos
Jornal Nacional/ Reprodução
As descobertas impulsionaram a criação, em 1979, do Parque Nacional Serra da Capivara, hoje com 1,3 mil sítios arqueológicos e o reconhecimento da Unesco como Patrimônio da Humanidade.
Na madrugada desta quarta-feira (4), a pesquisadora sofreu um infarto e morreu em casa, em São Raimundo Nonato. Niède Guidon foi velada no Museu do Homem Americano, um dos dois criados por ela para abrigar os achados pré-históricos. Lá, onde também funciona um centro de pesquisa, amigos e admiradores foram se despedir da cientista que colocou o Piauí no mapa da arqueologia mundial.
O governo do Piauí decretou luto oficial de três dias. O presidente Lula lembrou que a pesquisadora foi fundamental para tornar a Serra da Capivara patrimônio da humanidade.
Inovadora, Niède apoiou projetos para gerar emprego e renda a comunidades locais.
“Ela mudou a minha vida. De uma menina que nasceu no pé da serra e que prosperou através da educação incentivada dela. Ela sempre dizia que não adianta só fazer pesquisa, só fazer ciência e deixar o social de lado. Nós vamos continuar fazendo o que ela nos ensinou a fazer”, diz Marian Rodrigues, chefe do Parque Nacional da Serra da Capivara/ ICMBio.
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