
No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quinta-feira (5), veja como indígenas da maior terra indígena do país têm aprendido usar a tecnologia como aliada na proteção territorial das comunidades. Jovens Yanomami participaram da oficina na Terra Indígena Tabalascada, no Cantá
Samantha Rufino/g1 RR
Mapear e ajudar na fiscalização da maior terra indígena do Brasil, a Terra Yanomami. Esta é a nova missão de seis jovens indígenas do povo Yanomami e Y’ekwana que participaram do curso de operação de drones, na Terra Indígena Tabalascada, no Cantá, interior de Roraima.
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No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quinta-feira (5), o g1 mostra como os jovens indígenas tem apostado na tecnologia como uma das alternativas para atuar no monitoramento e proteção do território, ameaçado, principalmente, pelo garimpo ilegal.
A formação foi uma iniciativa da Hutukara Associação Yanomami (HAY), a mais representativa deste povo, que tem como presidente Davi Kopenawa, líder indígena reconhecido nacionalmente pela luta em defesa dos povos e do meio ambiente.
Jovens mulheres Yanomami operam drone durante curso
Samantha Rufino/g1 RR
As etapas do curso incluem aulas práticas e teóricas. Para participar, os seis jovens saíram das suas comunidades, em Roraima e no Amazonas. Uma delas foi a jovem Tais Mainaa, da região do Missão Catrimani, em Roraima. Foi a primeira vez que ela saiu da terra indígena, onde nasceu.
“Aprendi a fazer isso, mas quero aprender mais sobre o drone. Estou iniciando agora, mas estou gostando muito de aprender”, disse a jovem, na língua Yanomami.
Tais Mainaa saiu pela primeira vez da Terra Yanomami para aprender a pilotar drone
Samantha Rufino
Esta é a segunda turma a se formar pelo curso. As oficinas são realizadas em parceria com a HAY e o Conselho Indígena de Roraima (CIR). As aulas são ministradas pelo Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena.
Os jovens realizam o monitoramento com fotos georreferenciadas, que incluem dados de localização geográfica, e vídeos. Cidiclei Palimitheli, de 26 anos, da comunidade Palimiú, em Roraima, foi monitor da turma. Ele se formou no primeiro curso e agora auxilia os novos alunos.
Cidiclei é de uma das comunidades mais afetadas por invasores. Em 2021, a região foi atacada a tiros por garimpeiros. O rio Uraricoera, que banha a comunidade, era usado pelos invasores para acessar as áreas de garimpo ilegal.
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O cenário mudou após a instalação de um cabo de aço de uma ponta a outra no rio, em fevereiro de 2023, para impedir a entrada dos invasores. Agora, Cidiclei usa o drone para ajudar a fortalecer a vigilância.
“Eu aprendi para pensar no futuro, poder fazer denúncias e mandar para organizações [indígenas]. Aprendi a monitorar com drone e tirar foto, fazer vídeo para poder denunciar os invasores que estão entrando dentro do nosso território”, disse.
Cidicley Yanomami foi monitor na turma de operadores de drone
Samantha Rufino/g1 RR
Gestão do território
Além de possíveis ameaças, os drones também podem ser usados para controle das roças das comunidades e mapeamento de áreas de difícil acesso. A Terra Yanomami é formada por vegetação de floresta e por serras.
O engenheiro agrônomo do CIR, Giofan Erasmo Mandulão, é quem ministra as aulas. Além de ensiná-los, o professor cadastra os alunos Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), obrigatório para operar drones no Brasil.
“O uso dessa tecnologia é para eles enxergarem de uma forma diferente, ter um contato diferente com a tecnologia e ver a terra indígena do alto, ter maiores áreas para cobrir de forma que eles consigam enxergar a áreas antes que eles não conseguiam acessar. Eles podem usar essa ferramenta para fazer o monitoramento territorial”, explicou.
As aulas foram ministradas na Terra Indígena Tabalascada, pois a vegetação se assemelha com a encontrada na Terra Yanomami, segundo ele. Mandulão também formou a primeira turma dos operadores.
Alunos durante oficina de drones
Ronny Alcântara/Rede Amazônica
Para Guilherme Kepropeteri Dias Yanomami, de 36 anos, da Região Ajuricaba no Amazonas, a ferramenta vai auxiliar a comunidade. Ele pretende repassar o que aprendeu para outros indígenas.
“Quando eu subi ele [drone] bem alto, eu consegui ver as margens de tudo que está aqui por perto, a estrada, as serras e o igarapé. A gente consegue localizar a distância das aldeias, podemos registrar, tirar foto. Isso eu vou passar para os parentes, para lideranças e para os jovens que atuam nas escolas”.
Ênio Yanomami, tesoureiro da Hutukara, enxerga as oficinas de drones como uma possibilidade de manter a vigilância do território, independente da presença de forças de segurança no território. A ideia é que futuramente os jovens operadores levem os drones e os mantenham nas comunidades.
“Os não-indígenas chegam na comunidade, ajuda um pouquinho, depois vai embora. Então, o nosso objetivo era formar os jovens porque eles são permanentes. Muita gente não confia [nas denúncias] essas imagem são comprovantes para poder denunciar qualquer invasor. Sem essas tecnologias, como que a gente pode mostrar com prova?”.
O curso foi realizado entre os dias 26 a 30 de maio, em Boa Vista e no Cantá.
Drones usados na oficina
Samantha Rufino/g1 RR
Terra Yanomami
Com 9,6 milhões de hectares, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial. Localizado no Amazonas e em Roraima, o território abriga 31 mil indígenas, que vivem em 370 comunidades. O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não indígena e se divide em seis subgrupos de línguas da mesma família, designados como: Yanomam, Yanomamɨ, Sanöma, Ninam, Ỹaroamë e Yãnoma.
O território stá em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal, a partir da posse de Lula (PT), começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.
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