Festival CachoeiraDoc volta após cinco anos com homenagens à ancestralidade

O CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira marcou o cenário baiano e brasileiro da década passada com uma proposta de mostra de cinema muito ligada às ancestralidades e às necessidades de luta e reinvindicação de imagens e olhares que se dão pelas periferias – do cinema, do país. Sua última edição aconteceu em 2020, de forma online, não só marcada pelas limitações impostas pela pandemia do Covid-19, mas também já sofrendo com cortes nas políticas públicas de financiamento.Agora, depois de cinco anos de hiato, o evento volta a acontecer na cidade de Cachoeira, a 120km de Salvador, no Recôncavo. O X CachoeiraDoc começa nesta terça-feira, 10, e segue até o domingo, 15, com uma programação variada e gratuita que inclui não apenas exibições de filmes, mas também debates, rodas de conversa, laboratórios de roteiro e montagem, oficinas, apresentações e performances.Antes gerido e idealizado por docentes do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), em Cachoeira, o festival tem nova reconfiguração, ainda que preserve a sua identidade original em prol de um cinema politizado e em estreita relação com o território e com os saberes locais. As atuais coordenadoras e diretoras artísticas do evento, Melina Bomfim, Ingá Patriota e Kênia Freitas, conversaram com A TARDE sobre esse novo ciclo.“A gente quis dar continuidade a esse festival que tem uma história e que conseguiu fazer uma reproposição ao pensar o documentário, pensar o território, o cinema militante de luta, ligado a várias questões, mas também levando muito a sério a estética e a política através do cinema”, pontuou Kênia.“O festival tem um pouco a mesma cara de antes, mas uma cara em transformação, como sempre foi da natureza do CachoeiraDoc. A herança que esse festival nos legou é a coletividade, sempre intensificada ao longo dos anos. Então, o que a gente teve de experimentar aqui foi tomar decisões a partir de conversas e pensamentos de vários interesses e desejos, nos estimulando a pensar uma direção coletiva do festival”, complementou Ingá.Apesar de não estarem ligadas ao curso de cinema, todos elas passaram, de alguma forma, por edições anteriores do CachoeiraDoc. Destacam também a participação, neste ano, de diversos alunos e egressos do curso na composição da equipe do evento em diversas frentes e funções.

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Programação nas comunidades

União Sete Flexas, de Caio Dornelas

|  Foto: Divulgação

Além das exibições principais acontecerem no tradicional Cine Theatro Cachoeirano, o festival ocupa demais espaços na cidade. Na noite de abertura, no largo da Igreja D’Ajuda, o evento faz uma conversa e apresentação com sambadeiras locais, destacando a presença de Dona Dalva, uma das precursoras do samba de roda no Recôncavo, e principal homenageada desta edição. Antes disso, será exibida uma mostra de filmes de cineastas palestinas, além da performance Infinitos Impossíveis.Uma das atividades já experimentadas em edições anteriores e que retorna neste 10º ano é o Cinema em Vizinhança. O festival promove exibições dentro das casas das pessoas, praças, quilombos e escolas de Cachoeira, São Félix e suas zonas rurais, em uma espécie de itinerância de porta em porta. A partir de um cardápio de filmes pré-selecionados, é a própria comunidade quem escolhe quais filmes eles querem ver em cada ação.O Cinema em Vizinhança está inserido dentro das atividades formativas do evento que fazem parte da EscolaDoc, uma tentativa de aproximar a prática do cinema documentário com os anseios da população local.“É uma escola a céu abeto, como gostamos de dizer, que ultrapassa os muros da universidade e chama a comunidade para construir junto. Esse pensamento sempre esteve presente no festival, mas este ano essas ações estão completamente intrincadas na programação. Além das mostras, tem oficinas, rodas de conversa, e esta é a primeira vez que vamos realizar um laboratório de roteiro e montagem para filmes em processo de finalização”, destacou Melina.Dentro da programação de pouco mais de 50 títulos, entre curtas e longas-metragens, o público poderá ver filmes documentários com diversas temáticas e estéticas. Alguns destaque são as obras Quem é Essa Mulher?, de Mariana Jaspe; Vasta Natureza de Minha Mãe, de Aristótelis Tothi e Inez dos Santos; e Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, de Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna.Além deste, serão exibidos filmes inéditos na Bahia, como União Sete Flexas, de Caio Dornelas; e Meu Caminho até a Escola, de Diego Jesus. No encerramento, destaque para o curta paraibano As Cegas (1982), da cineasta negra pioneira Antônia Ágape, produção que ficou esquecida por mais de quatro décadas.Prêmio de R$ 6 mil para documentárioNo final do mês passado, o CachoeiraDoc promoveu uma primeira roda de conversa na comunidade. Depois que o festival acabar, no próximo dia 17 deste mês, haverá outra intervenção em outro bairro da cidade. Assim, o evento demonstra compromisso com a localidade, no diálogo com a população, pensando uma transversalidade de saberes.“Esse espaço da roda não é um lugar da conferência, não é um lugar longínquo, mas sim um lugar que é circular. E isso muda como os componentes se colocam no debate, como essa troca acontece”, observou Melina.Ao final do evento, o Melhor Documentário de Longa e o de Curta receberão um prêmio de R$ 6 mil e R$ 4 mil, respectivamente. Do Laboratório de Roteiro e Montagem também sairá um vencedor com o prêmio de R$ 5 mil para auxiliar na finalização. Além disso, o público também escolhe os melhores filmes na categoria Júri Popular.X CachoeiraDoc / A partir de terça-feira (10) até domingo (15) / Cachoeira e São Félix / Programação, locais, horários e mais informações: xcachoeiradoc.com / Entrada gratuita

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