Carga tributária, juros altos e Bolsa Família: o que trava o crescimento do Brasil

O Brasil vive há décadas preso a um ciclo de baixo crescimento econômico, juros elevados, carga tributária sufocante e dependência crescente de programas sociais. Mas afinal, por que o país que já foi mais rico que a China e a Índia hoje perde relevância global?

Essa foi a pergunta central debatida no podcast Diário do Poder, que reuniu os jornalistas Cláudio Humberto, Pedro Luís Rodrigues e o economista Marcos Keller. As respostas revelam um diagnóstico contundente: o modelo econômico brasileiro está esgotado e inviabiliza o desenvolvimento sustentável de longo prazo.

Carga tributária sufoca a economia

A primeira grande trava do crescimento é a carga tributária. Segundo Marcos Keller, a reforma tributária recém-aprovada não reduz impostos. Ela apenas reorganiza, mantendo o peso total da arrecadação.

Atualmente, a carga tributária brasileira representa cerca de 34% do PIB, superior à média de países emergentes e até de nações desenvolvidas. Para comparação:

  • México: 14% do PIB

  • Chile: 20,8%

  • China: 22%

  • Estados Unidos: 34% (com o dobro da renda per capita do Brasil)

  • Canadá: 33% (com ampla rede de bem-estar social)

Além disso, há uma tributação invisível, embutida em tarifas de energia, água e serviços públicos. Consumidores de maior renda e empresas subsidiam diretamente os de baixa renda, gerando um custo oculto de aproximadamente R$ 150 bilhões só no setor elétrico, o equivalente a 1,5% do PIB.

A armadilha do Bolsa Família

Outro entrave está na dependência crescente dos programas sociais. Hoje, em 12 estados brasileiros há mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada, especialmente no Norte e Nordeste.

O impacto disso vai além do fiscal. Segundo Keller, isso gera uma distorção no mercado de trabalho, elevando o custo da mão de obra. Afinal, uma família que já recebe em média R$ 666 mensais do Bolsa Família só aceitará empregos formais com salários bem superiores ao benefício, tornando inviável para pequenas empresas contratar.

A lógica é econômica e racional: para muitos, compensa mais permanecer no programa social do que assumir um emprego formal de baixo salário. Isso gera pressão inflacionária nos salários, menos produtividade e mais informalidade.

Juros altos, investimento baixo

A consequência direta desse desequilíbrio fiscal e trabalhista é uma das maiores taxas de juros reais do mundo. Enquanto países desenvolvidos operam com juros reais próximos de zero ou negativos, no Brasil o investidor encontra Tesouro IPCA+ pagando inflação + 7,4% ao ano, algo impensável em qualquer país desenvolvido.

Para Keller, isso torna o investimento produtivo desvantajoso. Empresários preferem aplicar no Tesouro Direto a investir em máquinas, fábricas ou contratar trabalhadores.

O Brasil se tornou o paraíso de quem tem dinheiro e o inferno de quem quer produzir”, resume o economista. Com juros tão altos, a produtividade estagna, o parque industrial encolhe e o país empobrece, não em termos absolutos, mas em relação ao restante do mundo.

Comparação internacional humilhante

Os números escancaram o atraso:

  • China: PIB cresceu 30 vezes desde 1985

  • Índia: crescimento de 11 vezes no mesmo período

  • Brasil: cresceu apenas 2,7 vezes em 40 anos

Em 1983, o Brasil tinha PIB equivalente ao da China. Hoje, a China é a segunda maior economia do mundo, e o Brasil patina.

A lógica da curva de Laffer

A insistência em aumentar impostos pode gerar o efeito oposto: queda na arrecadação. Keller explica que, a partir de determinado ponto, a elevação de tributos desestimula tanto o trabalho e a produção que a própria base arrecadatória encolhe. É o conceito da Curva de Laffer, amplamente documentado na economia.

Resultado? Mais informalidade, mais sonegação e menos crescimento.

O IOF é só mais um sintoma

A recente alta do IOF sobre remessas internacionais e operações financeiras evidencia o problema. Segundo Keller, o IOF deveria ser um imposto regulatório, usado esporadicamente. Hoje, virou imposto arrecadatório, afetando negativamente investimentos externos e encarecendo o crédito no país.

Existe saída para o Brasil?

Sim, mas ela passa por uma escolha política clara e uma mudança de modelo. Os três pilares são:

  1. Redução drástica do gasto público, principalmente com programas de transferência de renda que não têm porta de saída.

  2. Abertura econômica e menos intervenção estatal, copiando modelos bem-sucedidos como Vietnã, Coreia do Sul e Israel.

  3. Estímulo ao investimento produtivo, com juros reais mais baixos e segurança jurídica.

Sem isso, a tendência é a perpetuação do ciclo vicioso: baixo crescimento, alta carga tributária, juros extorsivos e dependência estatal.

A pergunta que fica

O Brasil precisa decidir que país quer ser. Uma nação que premia o trabalho, o empreendedorismo e o crescimento, ou uma sociedade refém de benefícios, juros altos e de um Estado pesado, ineficiente e incapaz de gerar prosperidade.

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