Ibovespa cai com saída de capital estrangeiro e temor fiscal

O Ibovespa registrou forte queda nesta quarta-feira (25), fechando em baixa de 1%, aos 135.767 pontos, em um movimento de aversão ao risco causado pela piora do cenário fiscal, saída de capital estrangeiro e tensões políticas em Brasília. O dólar subiu 0,9% e encerrou o dia cotado a R$ 5,56, sendo a moeda brasileira a de pior desempenho entre os emergentes.

A movimentação dos investidores refletiu o temor em relação à sustentabilidade do arcabouço fiscal após o Congresso incluir na pauta um projeto que revoga a reoneração do IOF, o que pode retirar até R$ 10 bilhões das receitas esperadas pelo governo em 2025. O episódio gerou desconforto no mercado e reforçou a percepção de fragilidade na política fiscal.

Ruídos políticos agravam percepção de risco

A articulação do presidente da Câmara, Arthur Lira, por meio do deputado Hugo Motta, para pautar o projeto que anula a cobrança de IOF sobre operações de crédito levou à leitura de uma nova derrota do governo no Legislativo. A medida é vista como um obstáculo ao cumprimento da meta de déficit zero prometida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Na visão dos analistas políticos e econômicos ouvidos pela imprensa, o governo tem enfrentado dificuldades para conter o avanço de medidas que fragilizam a arrecadação, enquanto evita cortar despesas. Essa combinação pressiona os juros futuros e impacta diretamente as ações ligadas à economia doméstica.

Tensão entre Campos Neto e governo volta ao foco

Em meio à turbulência política e fiscal, declarações do ministro Fernando Haddad reacenderam as críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Haddad responsabilizou indiretamente Campos Neto pela atual taxa básica de juros elevada, sugerindo que a decisão de manter os juros altos foi tomada ainda durante sua atuação no Conselho Monetário Nacional.

Economistas, no entanto, destacam que o próprio Banco Central vem atuando com rigor técnico para controlar a inflação. O comitê de política monetária tem tomado decisões unânimes nas últimas reuniões, o que sinaliza coesão na condução da política monetária, apesar das pressões políticas.

Banco Central tenta conter avanço do dólar

Diante da disparada da moeda norte-americana, o Banco Central interveio no mercado com dois leilões simultâneos: um de venda de US$ 1 bilhão à vista e outro de swap reverso, que simula compra de dólares no futuro. A ação visou equilibrar o câmbio e conter o avanço da moeda, mas não foi suficiente para impedir a valorização do dólar.

Mesmo com o índice DXY (que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas) operando estável no exterior, o real teve o pior desempenho do dia. A preocupação do BC é que a escalada cambial contamine a inflação, obrigando o Comitê de Política Monetária a manter juros elevados por mais tempo.

Mercado questiona viabilidade fiscal

A sinalização de que não há mais espaço para aumento de impostos, somada à resistência do governo em cortar gastos, alimenta o ceticismo dos investidores em relação à trajetória fiscal do país. Parlamentares das frentes empresariais têm defendido benefícios setoriais e atuado contra medidas de arrecadação, ampliando a renúncia fiscal e pressionando ainda mais o orçamento público.

A agência Fitch manteve a nota de crédito do Brasil em BB, dois degraus abaixo do grau de investimento, com perspectiva estável. No entanto, o anúncio não foi suficiente para estancar a saída de capital estrangeiro da B3.

O cenário de tensão política, desconfiança fiscal e saída de capital estrangeiro cria um ambiente desafiador para os ativos brasileiros. A expectativa do mercado é que o governo adote medidas mais concretas de controle de gastos e aprovação de reformas estruturais, como forma de resgatar a credibilidade fiscal e estabilizar os mercados.

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