
Associação de Desenvolvimento Juvenil e Infantil (Adeji) foi descredenciada da administração de Centros de Educação Infantil (CEIs) na Zona Sul da capital; novas organizações sociais já foram definidas para 7 unidades. Troca de gestão deixou mais de 100 funcionários sem resposta sobre recontratação. CEI Abayomi I foi fechado durante troca de organização social na gestão e alunos serão encaminhados para o Abayomi II.
Reprodução/Google Maps
A Prefeitura de São Paulo descredenciou a Associação para o Desenvolvimento Educacional de Jovens e Infância (Adeji), responsável por administrar oito creches municipais na Zona Sul da capital, após a Diretoria Regional de Ensino identificar falhas na prestação de contas.
A mudança na gestão dos Centros de Educação Infantil (CEIs) Alegria, Algodão Doce, Arco-Íris, Sakura, Abayomi I e II, Brincar e Ateliê da Infância surpreendeu mais de 100 funcionários na última segunda-feira (7). O CEI Abayomi I foi fechado, e os alunos foram transferidos para o Abayomi II.
Professores relataram ao g1 que não foram oficialmente informados pela organização social (OS) sobre o descredenciamento e souberam da troca por meio de gestores das unidades e de pais de alunos.
“Nós fomos pegos de surpresa. A única informação que temos é que uma instituição que não sabemos de onde é vai ficar conosco, na creche em que trabalho. Mas não sabemos se irão ficar com os funcionários. A única coisa que pediram foi para a gente enviar o currículo. Estamos até agora aguardando”, afirmou uma professora, que prefere não ser identificada por temer represálias.
Segundo ela, em outra creche, em que uma colega trabalhava, nenhum dos antigos profissionais foi reaproveitado. “A Adeji não falou nada para a gente. Só enviou uma nota depois dizendo que vão tentar reverter a situação.”
Uma outra funcionária, que também não será identificada, relatou ao g1 ter sido surpreendida no primeiro dia do recesso com várias mensagens no grupo da unidade que prestava serviço. “Assim descobri que o nosso tão merecido descanso passou de recesso para uma demissão. Sem mais informações. Me vi perdida, com um misto de sentimentos de uma só vez. Desempregada e desamparada.”
Uma terceira professora ouvida pelo g1 afirmou que não há garantia de que todos os funcionários serão recontratados pelas novas OS.
“Saímos de recesso e o que era para ser um descanso virou um pesadelo. Fui até a unidade onde participei de um processo seletivo, respondi um questionário e conversei com os novos mantenedores, que disseram que não vão ficar com todos. Disseram que até segunda vão avisar se fui aprovada ou não”, relatou.
A associação descredenciada chegou a ser investigada pela Polícia Federal no caso que envolve desvio de dinheiro público de creches conveniadas da Prefeitura de São Paulo. Em julho de 2024, a PF indiciou 116 pessoas suspeitas de desviar dinheiro público.
Em novembro, a Justiça Federal autorizou a abertura de um inquérito contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em relação às operações suspeitas envolvendo as creches. Na época, Nunes disse que ficou perplexo com a autorização e negou as acusações.
Em nota, a associação disse que o descredenciamento não tem relação com a investigação, e que “foi surpreendida por essa decisão [da prefeitura], que se fundamenta em supostas falhas administrativas relacionadas à sobreposição de informações em extratos bancários”. Alegou que acionou a Justiça e que “espera retomar plenamente suas atividades” (veja nota completa abaixo).
A Secretaria Municipal da Educação também reforçou que o descredenciamento não tem relação com a investigação da PF e garantiu a continuidade do atendimento a todas as crianças das oito unidades.
“Das oito creches, sete já têm nova parceria com outras Organizações da Sociedade Civil (OSCs), e os alunos do CEI Abayomi foram transferidos para o CEI Abayomi II, na mesma rua. Cerca de 90% dos funcionários aceitaram a proposta de recontratação feita pelas novas entidades”, informou a pasta.
Além disso, informou que “cerca de 90% dos funcionários das unidades aceitaram a proposta de recontratação feita pelas outras OSCs”.
O que diz a ADEJI
“A ASSOCIAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO JUVENIL E INFANTIL (ADEJI), por meio de sua assessoria jurídica, vem a público esclarecer a situação referente à intenção unilateral da DRE-SA de romper os Termos de Colaboração.
A ADEJI, com mais de uma década de atuação exemplar e reconhecida no cuidado e educação de crianças, foi surpreendida por essa decisão, que se fundamenta em supostas falhas administrativas relacionadas à sobreposição de informações em extratos bancários. É fundamental esclarecer que este caso não tem relação alguma com qualquer tipo de investigação realizada por polícia judiciária ou outro órgão de controle.
A ADEJI comprovou a origem dessas inconsistências com a apresentação de extratos bancários impressos pela própria agência do Banco do Brasil e uma declaração formal da instituição financeira, atestando que a sobreposição decorreu de um manuseio específico do portal bancário, algo comum de acontecer.
Neste momento, a ADEJI reitera a confiança em sua valorosa equipe de educadores e colaboradores, cujo trabalho é reconhecido pelos altíssimos índices de avaliação.
Diante da situação, a ADEJI acionou o Poder Judiciário, apresentando farta documentação e provas irrefutáveis que atestam a lisura de sua gestão e possui plena e inabalável confiança de que a Justiça, ao analisar o caso com a devida profundidade, restabelecerá a normalidade.
Uma decisão judicial é aguardada nos próximos dias, e a ADEJI espera retomar plenamente suas atividades, contando com o contínuo empenho de todos os seus colaboradores”.
O que diz a Secretaria Municipal da Educação
“A Secretaria Municipal de Educação (SME) informa que os termos de colaboração firmados com a Associação de Desenvolvimento Juvenil e Infantil (ADEJI) para a administração dos Centros de Educação Infantil (CEIs) foram descontinuados em razão de irregularidades identificadas pela Diretoria Regional (DRE) na prestação de contas.
Os descredenciamentos não têm relação com qualquer investigação conduzida pela Polícia Federal. Todas as crianças têm garantia da continuidade do atendimento.
Das oito unidades, sete já contam com nova parceria firmada com outras Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e as crianças atendidas pelo CEI Abayomi foram remanejadas para o CEI Abayomi II, localizado na mesma rua.
Cerca de 90% dos funcionários das unidades aceitaram a proposta de recontratação feita pelas outras OSCs”.
Polícia Federal indicia 116 em inquérito da Máfia das Creches