| Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
A jovem cresceu observando os saveiros deslizando pelo Rio Jaguaripe, morrendo de vontade de subir em um deles. Mas a mãe não deixava. “Às vezes, quando o saveiro estava ancorado, eu subia. Mas velejar só mais tarde, aos 14, 15”, lembra.Aos oito anos de idade, o fascínio da menina pelos barcos era tão grande que ela, em terra firme, tentava reproduzir a forma das embarcações com pedaços de isopor. Aos 12, já usava os galhos de jaqueira na sua brincadeira que viraria um hobby. Dois anos depois, seu tio Jailton, dono do saveiro É a vida, convenceu sua mãe a deixá-la passear com ele, dando início a uma história de amor e entusiasmo entre a menina e o saveiro.
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Atualmente, Izana produz uma ou duas réplicas por mês, que podem ser compradas por meio do Instagram @iza_sacramento. A matéria-prima vem do terreno de um amigo do pai da artesã. “A gente não derruba árvores, a gente retira as galhas, que se renovam”, diz ela, que tem a ajuda do pai para recolher esse material.Retiradas as galhas, a madeira é cortada por uma motoserra e depois por uma serra de mesa, até que se obtenham as lâminas finas com as quais Izana molda as réplicas. Quando está empolgada ou quando há pressa para a conclusão do trabalho, a artesã vira a noite. “Eu já fiquei dos dias seguidos praticamente sem dormir, com cochilos de duas horas”.Os planos da jovem para este ano incluíam a construção de um saveiro real, com a madeira da jaqueira, uma vez que as árvores usadas originalmente para esse fim, massaranduba e sucupira, estão protegidas por lei ambiental e não podem mais ser exploradas.Mas o projeto de construir uma embarcação navegável foi adiado pelo ingresso de Izana na Ufba. Durante os próximos seis anos, a garota vai se dedicar aos estudos universitários. A área de atuação na arquitetura ainda não está decidida, mas é provável que Izana aproveite os seus conhecimentos de navegação em projetos acadêmicos.A decisão pela carreira foi sinuosa como os ventos do Rio Jaguaripe. “A arquitetura era um flerte meu antigo, mas eu mudei completamente de rumo, pensei em fazer direito ou jornalismo, e anos depois de analisar matérias que tinham a ver comigo, voltei a flertar com arquitetura”, conta a universitária, que cursou um semestre desse curso na Ucsal, mas nesse segundo semestre muda para a Ufba.Única mulher a construir saveiros em Jaguaripe, Izana lembra que duas outras garotas entraram nas oficinas, mas desistiram. Apesar do predomínio masculino no ambiente, a jovem garante que nunca foi discriminada e credita a ausência de mulheres à natureza do ofício. “Querendo ou não, é um trabalho bruto. A gente trabalha direto com serra, com martelo, com formão, e acho que não é todo mundo que gosta”, diz a universitária, que não pretende abandonar a produção de réplicas.Destaque
| Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
Bira Portugal elenca Izana como uma dos três alunos de sua primeira turma de oficinas que se destacaram, juntamente com Leo e Rogério. Esse último dá aulas de navegação em Jaguaripe.Portugal reconhece que os saveiros são historicamente dominados por figuras masculinas e ressalta a importância do pioneirismo de Izana: “Graças a Deus, ela é uma menina interessada, está comigo desde 2016 e me acompanha nos bordejos que eu faço”, conta Bira. No ramo náutico, bordejar significa velejar em zigue-zague, mudando de rota, ao sabor dos ventos.Sobre a preservação dos saveiros, Bira acredita que a utilização das embarcações para passeios turísticos é a melhor alternativa para a preservação desse meio de transporte. Algo que, aliás, já é feito por alguns proprietários de barcos, como o próprio Bira. “Se não transformar em transporte de turismo, eu acredito que vai acabar. Só vai ficar um ou dois”, aposta Bira.