
Mulheres denunciam assédio no ambiente de trabalho
Um administrador de uma empresa do ramo de panificação de Fortaleza foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por assédio sexual contra as funcionárias do estabelecimento. Além de assédio, ele também vai responder por constrangimento ilegal, importunação sexual e outros três crimes.
O caso veio à tona no início de maio, após uma ex-funcionária registrar um boletim de ocorrência, no fim de abril, contra o homem de 56 anos, que trabalha há mais de 15 anos na panificadora. Após isso, outras funcionárias compareceram à Delegacia de Defesa da Mulher e relataram episódios semelhantes.
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A TV Verdes Mares conversou com cinco mulheres. Segundo as vítimas, ele fazia comentários sobre o corpo das mulheres, falava do tamanho dos seios das funcionárias, perguntava da calcinha delas e, no caso de candidatas a um emprego, antes de contratá-las, ele pedia fotos em que elas estivessem com pouca roupa.
Elas relataram que as situações de assédio ocorriam diariamente, sobretudo com quem frequentava a área administrativa da empresa, onde ele trabalha. As mulheres dizem que ele se valia da posição que ocupava para ameaçar as funcionárias caso não fizessem o que ele ordenasse.
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As mulheres contam que ele tinha o costume de pedir para “estalar” as costas das mulheres, ocasião que aproveitava para tocar o corpo delas. Também era costumeiro ele se referir a elas com palavras de baixo calão.
“Às vezes eu entrava na sala dele para ele assinar algum documento, alguma coisa, e ele apalpava meus seios por cima da minha farda, por cima da minha blusa. Aconteceu isso várias vezes e eu me fazia de doida, fingia demência e saía de lá totalmente constrangida. E ele só fazia rir e chamava de gostosa”, relatou uma das funcionárias com quem a TV Verdes Mares conversou.
Denúncias foram investigadas pela Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza
Polícia Civil
O inquérito policial foi concluído no dia 7 de julho e remetido ao Ministério Público do Ceará, que na última quarta-feira (16) denunciou o administrador pelos seguintes crimes:
Constrangimento ilegal
Violência psicológica contra a mulher
Importunação sexual
Assédio sexual
Coação no curso do processo
Fraude processual
Em nota, a defesa de duas das vítimas afirmou que “busca a responsabilização criminal do agressor e a trabalhista da empresa empregadora, como medidas de reparação às vítimas e de justiça contra a violência de gênero no ambiente de trabalho.”
Em um primeiro contato, em maio deste ano, a defesa do administrador negou as acusações e afirmou ter incluído na investigação várias testemunhas que comprovam a boa índole do homem. Em nova nota enviada nesta sexta-feira (18), a defesa do administrador afirmou que está acompanhando o desdobramento do caso na Justiça e disse que “nenhuma manifestação adicional será dada aos meios midiáticos, justamente para preservar a lisura processual”.
A empresa para a qual o acusado trabalha disse que disse não tolerar as condutas descritas e afirmou estar colaborando com a investigação. (Veja o posicionamento completo abaixo)
Relato de uma funcionária da panificadora à TV Verdes Mares
TV Verdes Mares
Assédio recorrente
Uma das funcionárias que denunciou o homem contou que, na última vez que foi apresentar um relatório a ele, o gestor pediu que ela se aproximasse porque ele não estaria entendendo. Quando ela chegou perto, ele se aproveitou da situação para puxar o sutiã da vítima e apalpar os seios dela.
“Ele me agarrava com muita força, me apertava, ele dizia para mim que ia ser rápido, que eu não me preocupasse que ia ser rápido. Ele me virou de frente novamente, e quando ele me virou de frente, nesse dia, ele colocou a mão por dentro da minha farda e começou a apertar os meus seios por dentro do sutiã. E eu estava trêmula, trêmula, trêmula. E ele ficava dizendo para mim que eu ficasse calma porque ia ser rápido”, relata a vítima.
“E a gente que trabalhava lá, que precisava do emprego, ele fazia parecer de uma forma que você tem que se submeter a isso se você quisesse continuar. ‘Porque eu sou assim, eu sou essa pessoa, sabe? E se você quiser funciona dessa forma'”, desabafa.
Outra vítima do administrador contou que não batia ponto nem tinha um banco de horas extras, mas ainda assim, de segunda a sexta-feira, precisava comparecer a uma reunião que ocorria a partir das 18 horas, já depois do expediente. Um dia, antes da reunião, ela foi assediada pelo homem.
“Eu estava muito cansada, exausta do dia a dia, e eu me deitei nas cadeiras para descansar, me deitei de bruços. Aí eu vi a porta dele, no escritório, se abrindo. Como eu sabia o que ele ia fazer, que eu já conhecia a pessoa, eu tentei me levantar. Mas quando ele viu que eu ia me levantar, ele mandou eu permanecer do jeito que eu estava, que era deitada de bruços. Eu obedeci. Aí ele deitou por cima de mim, encostando em mim e ele passou a mão nos meus seios. Eu me senti naquele momento muito invadida, como outras vezes já tinha me sentindo, enjoada e humilhada”, contou a outra mulher.
Além dos episódios de assédio sexual, as funcionárias relatam várias situações de assédio moral no trabalho, com gritos, humilhações e até mesmo ameaças. Uma delas contou que era comum ele dizer que elas não conseguiriam outro emprego melhor.
“Esse comportamento dele era agressivo e recorrente. Ele constantemente nos oprimia com gritos, humilhações, ameaças. Não ameaças de ‘vou te bater’, mas ameaças de ‘você vai perder sua rota’ [a lista de clientes que as vendedoras tinham]”, disse uma terceira funcionária.
Assédio moral e assédio sexual: entenda como reconhecer agressões no ambiente de trabalho
O que diz a empresa
Em nota, a panificadora na qual o administrador trabalha disse não tolerar as condutas descritas pelas denunciantes e afirmou estar colaborando com a investigação.
“A empresa vem a público prestar esclarecimentos sobre as informações recentemente divulgadas nos meios de comunicação. Reafirmamos nosso compromisso inabalável com a criação e manutenção de um ambiente de trabalho seguro, respeitoso e livre de qualquer forma de assédio ou violência.
Continuamos colaborando plenamente com as autoridades competentes no curso das investigações, respeitando o devido processo legal e as garantias constitucionais de todas as partes envolvidas. Nossa prioridade é o bem-estar e a segurança de todos os nossos colaboradores. Reiteramos que não toleramos qualquer conduta que viole a dignidade humana e o ambiente profissional saudável que buscamos construir.
Permanecemos comprometidos com nossos valores de integridade, transparência e responsabilidade social, mantendo nossa confiança no sistema de justiça para o esclarecimento completo dos fatos. Agradecemos a compreensão da sociedade e reafirmamos nosso compromisso com a verdade e a justiça.”
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