Hugo Motta tenta se firmar como ‘linha dura’, mas enfrenta críticas sobre articulação política


O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem buscado reforçar sua imagem de comando firme à frente da Casa. Desde que assumiu o cargo, tem adotado medidas para endurecer o controle sobre o comportamento dos parlamentares e respondeu a críticas com declarações enfáticas.
“Se vocês estão confundindo esse presidente paciente com um presidente frouxo, vocês estão muito enganados. Aqui não é o jardim de infância”, afirmou Motta em fevereiro, no discurso mais contundente desde que chegou à presidência da Casa.
Proibição de cartazes e bonés
Logo no início do mandato, Motta proibiu o uso de cartazes, panfletos e bonés provocativos no plenário da Câmara. A decisão foi tomada após um tumulto entre deputados da base do governo e da oposição, durante discussões sobre a denúncia da PGR contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Motta usa redes sociais para rebater críticas ao Congresso por derrubada do IOF
Suspensões cautelares de mandato
Hugo Motta foi o primeiro presidente da Câmara a aplicar o mecanismo de suspensão cautelar de mandato, incluído no regimento interno da Casa em 2024, durante a gestão de Arthur Lira (PP-AL).
A ferramenta permite que a Mesa Diretora proponha ao Conselho de Ética o afastamento temporário de parlamentares investigados por quebra de decoro — com efeito imediato, mesmo que ainda caiba recurso ao plenário.
Em maio, o Conselho de Ética aprovou a primeira suspensão cautelar da história: o deputado Gilvan da Federal (PL-ES) foi afastado por 90 dias após proferir ofensas à ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT).
Nesta semana, o mesmo mecanismo foi aplicado ao deputado André Janones (Avante-MG), por ofensas homofóbicas ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Janones também foi suspenso por três meses.
Hugo Motta, presidente da Câmara
Câmara dos Deputados/Reprodução
Caso Glauber Braga
Motta também teve participação ativa no processo de cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), acusado de agredir uma integrante do MBL em 2024.
Em abril deste ano, Braga iniciou uma greve de fome em protesto. Após mais de uma semana, Motta fez um acordo com o deputado: comprometeu-se a não pautar a decisão final em plenário por ao menos 60 dias.
Aliados de Braga, no entanto, acusam Motta de favorecer o andamento do processo. Segundo eles, o presidente da Câmara poderia ter interrompido uma reunião da CCJ que analisava um recurso do psolista — o que atrasaria a tramitação. Em vez disso, optou por adiar o início da sessão plenária, permitindo que o processo avançasse.
Articulação política
Apesar da postura mais rígida no controle disciplinar, deputados ouvidos pelo g1 avaliam que Motta teve dificuldades na articulação política.
Entre governistas e oposicionistas na Câmara, há uma avaliação de que:
Motta não entregou a substituição da alta do IOF, acertada com o ministro Fernando Haddad em reunião com líderes;
segurou a votação da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, desagradando a oposição;
não conseguiu resolver os atrasos no pagamento das emendas parlamentares.
Um parlamentar lembrou que o mandato de Motta é de apenas um ano. Com as eleições de 2026 no horizonte, há pouca margem para “tentar algo novo” no segundo semestre.
Avaliação positiva
Apesar das críticas, o presidente da Câmara também recebeu elogios. O líder do PDT, deputado Mário Heringer (MG), classificou a atuação de Motta como positiva:
“Ele fez o papel de botar a cara dele e ser a cara do Legislativo. Ele fez bem. Na média geral achei que ele foi muito bem até, inesperado para mim. Vi ele fazendo um grande enfrentamento, o que eu não esperava dele”.
Pauta ‘tóxica’
A própria presidência da Casa reconheceu que os primeiros seis meses foram marcados por forte polarização. Em maio, Motta afirmou:
“A Câmara gasta energia sem produzir algo positivo”, ao comentar o foco da Casa em debates ideologicamente marcados.
Dentre os temas que dominaram o semestre estiveram:
A tentativa de suspensão de processo contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), por envolvimento em trama golpista;
A greve de fome de Glauber Braga;
Discussão sobre o projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro.
‘Quero ver o Brasil superar desafios’, diz Motta
Após a última sessão do semestre, Motta mudou o tom nas redes sociais e destacou o número de matérias aprovadas:
“Só nesta semana, a Câmara votou 30 matérias. A cada dia, busco melhorar e estar à altura do cargo que ocupo. Eu quero ver o Brasil superar os muitos desafios que tem pela frente”, escreveu.
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