Número de feminicídios no primeiro semestre de 2025 é o segundo pior dos últimos dez anos, na Paraíba


Cerca de duas mulheres foram vítimas de feminicídio por mês na Paraíba em 2024
Editoria de Arte/G1
O número de feminicídios no primeiro semestre de 2025, na Paraíba, foi o segundo pior dos últimos dez anos. A quantidade de casos deste ano só é menor da que foi registrada em 2018, quando 22 mulheres foram vítimas de feminicídios no primeiro semestre.
De janeiro a junho de 2025, a Paraíba registrou 19 feminicídios, em diferentes cidades, de acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Foram 3 feminicídios registrados no mês de janeiro, seis no mês de fevereiro, mais três em março, 2 em abril, 3 em maio e 2 em junho.
Para a pesquisadora de gênero, Glória Rabay, vários fatores influenciam a manutenção de números ainda altos. “Um fator é cultural, porque a lei, em si, não vai fazer diminuir nada, porque existem muitos fatores que explicam a violência contra as mulheres, fatores culturais, do machismo, e a gente tem visto um crescimento de práticas misóginas nos últimos anos, com o avanço da direita no Brasil, a gente tem visto que os discursos de misoginia, de ódio contra as mulheres, eles têm se proliferado fundamentalmente nas redes sociais”, explica a pesquisadora.
Os casos registrados até o momento, em 2025, aconteceram em Cajazeiras, Coremas, Araçagi, Cacimba de Dentro, Campina Grande, Conde, Cuité, Itaporanga, João Pessoa, Mulungu, Patos e Pilões, Pombal, Santa Rita, Solânea e Marizópolis.
Glória Rabay ressalta, portanto, que a prática do feminicídio não está restrita a um determinado território. “Embora sejam as mulheres pretas, pobres, periféricas, as maiores vítimas, a gente vai encontrar vítimas com qualquer característica social. Da mesma forma, a gente vai encontrar homens violentos em qualquer lugar da sociedade, sejam pessoas pobres, sejam pessoas com recursos, sejam homens brancos, sejam homens pretos, porque a cultura machista está disseminada por toda a sociedade, não está apenas em um determinado núcleo, determinada bolha. Isso explica porque os casos de feminicídio estão espalhados em todo o território”, detalha.
Nos primeiros seis meses do ano, 19 mulheres foram assassinadas por motivação de gênero, 18 foram vítimas de homicídio doloso e duas foram vítimas de latrocínio.
Em março de 2015, a Lei nº 13.104 foi sancionada incluindo o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Em 2024, uma nova legislação, a Lei 14.994, tornou o feminicídio um crime autônomo e estabeleceu outras medidas para prevenir e coibir a violência contra a mulher. Conforme a lei, o feminicídio é o assassinato de mulheres por razões da condição do sexo feminino.
Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A pena para os condenados pelo crime de feminicídio pode chegar 40 anos de prisão, maior do que a incidente sobre o de homicídio qualificado (12 a 30 anos de reclusão).
A pesquisadora Glória Rabay avalia como um passo positivo e essencial para conscientização da população sobre a violência de gênero.
“Eu penso que a Lei do Feminicídio foi um grande passo para que a gente possa observar esse tipo de acontecimento, esse tipo de violência, porque agora a gente tem um nome para dizer: ‘essa mulher foi morta porque é mulher. Ela foi atingida na sua característica, no seu gênero, um gênero do qual se espera a subserviência e ela teve a ousadia de dizer não’. Então ela foi atingida por isso. O feminicídio não é um fenômeno recente, ele é um fenômeno que há muito tempo acontece, só que a gente não dava esse nome. Então quando a gente dá o nome certo, isso ressalta, isso aparece com mais força. Eu acho que o único caminho para diminuir o feminicídio é o processo educativo, é através da educação”, reforça a pesquisadora Glória Rabay.
Ela explica que esse processo educativo contra o feminicídio não é de responsabilidade única da escola, embora seja um lugar muito importante. O processo educativo é de toda a sociedade. “Ele deve acontecer na escola, deve acontecer na mídia, deve acontecer nas igrejas, deve acontecer na família, ou seja, em qualquer espaço. É inademissível que empresas, por exemplo, do setor privado, permitam práticas misóginas, ou seja, essas práticas que reforçam a impressão de que as mulheres devem ser subservientes. Elas alimentam o machismo, que por sua vez alimenta o feminicídio. A responsabilidade contra essa prática é de toda a sociedade”, explica a pesquisadora.
Feminicídios em 2024
Em 2024, 25 mulheres foram assassinadas na Paraíba, simplesmente, por serem mulheres. Cerca de duas mulheres foram vítimas de feminicídio por mês no estado.
O acompanhamento do g1 é feito mês a mês com base em dados da Secretaria da Segurança e da Defesa Social (Seds) solicitados via Lei de Acesso à Informação.
Apesar do número do ano passado ainda ser alto, em relação a 2023, houve uma queda de 26,47% no número de casos, quando 34 feminicídios foram contabilizados no estado.
Avaliando mês a mês, o período do ano mais violento para mulheres foram os meses de fevereiro e setembro, com 4 e 5 feminicídios, respectivamente. Houve apenas um mês (agosto) em que nenhum feminicídio foi registrado.
Mulheres na Paraíba são cada vez mais ameaçadas, perseguidas, violentadas e mortas
Os crimes aconteceram nas cidades de João Pessoa (4), Campina Grande (2), Marizópolis (2), Patos (2), Aparecida (1), Bonito de Santa Fé (1), Cabedelo (1), Fagundes (1), Itaporanga (1), Malta (1), Massaranduba (1), Montadas (1), Monteiro (1), Nova Floresta (1), Paulista (1), Santa Rita (1), São José de Piranhas (1), São Vicente do Seridó (1) e Sousa (1).
Conforme o levantamento do Núcleo de Dados da Rede Paraíba de Comunicação, a maioria dos crimes foi cometido por homens que mantinham ou mantiveram algum tipo de relacionamento com a vítima. Além disso, a maioria das mulheres foi assassinada por disparos de arma de fogo.
Além dos feminicídios, 41 mulheres foram vítimas de homicídios dolosos.
Ano de 2012 foi o mais violento para mulheres da Paraíba na última década
Como denunciar
Denúncias de estupros, tentativas de feminicídios, feminicídios e outros tipos de violência contra a mulher podem ser feitas por meio de três telefones:
197 (Disque Denúncia da Polícia Civil)
180 (Central de Atendimento à Mulher)
190 (Disque Denúncia da Polícia Militar – em casos de emergência)
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