Jorge, tartaruga que viveu mais de 40 anos em cativeiro na Argentina, chega à Baía de Guanabara


Jorge, tartaruga que viveu mais de 40 anos em cativeiro na Argentina, chega a Baía de Guanabara
Divulgação/Projeto Aruanã
Uma tartaruga-cabeçuda brasileira que viveu mais de 40 anos em cativeiro na Argentina é monitorada desde a última semana nadando nas águas da Baía de Guanabara.
Jorge, a tartaruga, vivia no aquário de Mendoza, na Argentina e foi libertado em 11 de abril deste ano, em Mar del Plata, também no país sulamericano, depois de passar por um longo processo de readaptação para ser reintegrado ao mar.
Como parte de uma operação de apoio à incrível jornada da tartaruga em liberdade de volta ao Brasil, a equipe do Projeto Aruanã, que é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, tem recebido diariamente dados da localização do animal obtidos de um aparelho rastreador via satélite acoplado em seu casco.
As informações georreferenciadas estão sendo enviadas pela pesquisadora argentina Laura Prosdocimi, do Laboratório de Ecologia, Conservação e Mamíferos Marinhos do Museu Argentino de Ciências Naturais, que atua em conjunto com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais do Mar del Plata Aquarium, do Aquário da Cidade de Mendoza e do Instituto de Pesquisas Marinhas e Costeiras de Mar del Plata, Argentina, na readaptação e monitoramento do animal.
Jornada de Jorge: um caso inédito
Com aproximadamente 60 anos e cerca de 130 quilos, Jorge é a tartaruga marinha que passou mais tempo em cativeiro em todo o mundo. Apesar de ter nascido na Bahia (descoberto por estudos genéticos), em 1984, ele foi encontrado por um grupo de pescadores em Bahía Blanca, cidade portuária localizada na província de Buenos Aires, preso acidentalmente em uma rede de pesca. Ferido e em choque térmico, ele tinha cerca de 20 anos e foi levado para o aquário em Mendoza, já que, na época, a reabilitação e a reintrodução de tartarugas marinhas não eram práticas comuns.
Logo, ele se tornou uma celebridade, despertando a curiosidade da população local que ía até o aquário para visitá-lo. Porém, com o passar dos anos, a pressão para a sua libertação ganhou grandes proporções quando, em 2021, um grupo de advogados ambientais entrou com uma ação judicial em prol da sua libertação.
Foi quando, então, Jorge começou a ser preparado para a sua reintegração ao mar. No dia 11 de abril, ele foi liberado na costa de Mar del Plata, na Argentina, após 3 anos de um processo de readaptação à vida livre.
Diante dos desafios na jornada de Jorge em liberdade, o monitoramento do animal ganhou a colaboração do Projeto Aruanã e de diversos projetos e cientistas da Rede ASO-Tortugas —uma rede formada em 2003 que reúne pesquisadores e grupos do Brasil, Uruguai e Argentina dedicados à conservação das tartarugas marinhas no Atlântico Sul Ocidental.
O trabalho desses pesquisadores permitiu complementar o monitoramento com ações de sensibilização junto a projetos de conservação marinha e de comunidades pesqueiras, criando uma rede de comunicação entre os diferentes atores do setor.
Segundo o Aruana, o retorno do animal ao oceano, cuja espécie está ameaçada de extinção, representa um feito inédito e uma oportunidade valiosa para a ciência entender melhor os limites e as possibilidades de reabilitação e conservação marinha.
Jorge adentrou a Baía de Guanabara no dia 16 de julho de 2025, sendo o Projeto Aruanã notificado por Laura Prosdocimi, o que acendeu um alerta de preocupação aos pesquisadores. A Baía de Guanabara, apesar de ainda abrigar uma grande biodiversidade, oferece diversos riscos à sobrevivência de tartarugas marinhas, como a poluição por esgoto e poluentes químicos dos mais diversos, grande tráfego de embarcações e a prática da pesca.
Apesar disso, a região também oferece abrigo e alimentos, sendo um deles o preferido desta espécie, o camarão. Em 2024, relatos enviados por pescadores parceiros do Projeto Aruanã elucidaram a ocorrência comum de tartarugas-cabeçudas juvenis no interior da Baía de Guanabara. Neste sentido, o projeto vem atuando junto aos seus parceiros, que inclui projetos ambientais, órgãos governamentais e pescadores artesanais da região, para que todos estejam em alerta caso avistem o Jorge.
Por dia, o animal emite dois sinais captados via satélite e acessados pelos pesquisadores argentinos, que enviam as informações à equipe do Projeto Aruanã para a atualização sobre as “andanças” da tartaruga marinha pela Baía de Guanabara.
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