Morte de Preta Gil ressignifica “Drão”, música de Gilberto Gil

A canção “Drão”, escrita por Gilberto Gil em 1981, atravessa décadas como uma das mais comoventes reflexões sobre o fim de uma relação. No entanto, desde o último domingo, 20, ganhou uma nova dimensão: a do luto pela perda de Preta Gil, filha de Gil e Sandra Gadelha (a própria Drão), que morreu aos 50 anos após uma longa batalha contra o câncer.Segundo análise da Revista Bravo, a canção se tornou um “monumento emocional brasileiro”, com versos que ajudam o país a nomear o amor e a ausência. É impossível não rever sua letra à luz do momento atual. O trecho “Drão, os meninos são todos sãos” soa como um consolo que atravessa gerações, e agora também como uma despedida comovente de pai para filha.Um hino ao recomeço Originalmente composta como uma espécie de carta de encerramento do casamento com Sandra Gadelha, “Drão” nunca foi apenas uma canção sobre separação. Era, desde o início, um hino à aceitação, à maturidade emocional e à permanência do afeto mesmo quando a vida muda de rumo. Como escreveu Gil: “Não pense na separação / Não despedace o coração / O verdadeiro amor é vão, estende-se infinito.”Ao perder a filha, Gil vê a letra ganhar um novo significado. Se antes falava de uma transformação amorosa, agora ecoa no silêncio do luto, como símbolo de um vínculo eterno, que nem a morte apaga.

Sandra Gadelha se emocionou ao ver a filha cantando a música ‘Drão’ com Gilberto Gil

|  Foto: Reprodução | Redes Sociais

Preta Gil: trajetória pública, corajosa e transformadoraPreta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu no berço da música e da política cultural brasileira, mas construiu seu próprio legado. Cantora, atriz, apresentadora, empresária e ativista, Preta estreou na música em 2003 com Prêt-à-Porter, um álbum que misturava samba-funk, pop e axé, e que já apontava para sua personalidade artística: ousada, plural, afetuosa.Mas foi fora do palco que Preta Gil talvez tenha protagonizado suas maiores revoluções. Em 2017, fundou a Mynd, agência de marketing de influência voltada para a diversidade e a representatividade. Tornou-se uma das vozes mais potentes em defesa do corpo livre, da identidade racial e da liberdade sexual, assumindo-se como mulher negra, gorda, bissexual e pansexual.Segundo dados do Google Trends, as buscas por “Preta Gil legado” e “música Drão Gilberto Gil” aumentaram mais de 1.200% após a notícia de sua morte, mostrando como a artista permanece no centro da cultura afetiva brasileira.

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Luto público, luta íntimaDiagnosticada em janeiro de 2023 com um câncer no intestino, Preta passou por quimioterapia, radioterapia e diversas cirurgias. Chegou a comemorar a remissão em dezembro daquele ano, após uma reconstrução intestinal, mas em agosto de 2024 a doença retornou, alcançando linfonodos, ureter e peritônio.A cantora buscou tratamento no Memorial Sloan Kettering, em Nova York, e usou as redes sociais como espaço de conscientização sobre os sintomas e a importância do diagnóstico precoce. Foi uma forma de transformar sua dor em mobilização coletiva, especialmente entre mulheres negras.O falecimento foi comunicado por Gilberto Gil em uma nota breve e emocionada: “É com tristeza que informamos o falecimento de Preta Maria Gadelha Gil Moreira em Nova Iorque, onde estamos cuidando dos procedimentos de repatriação ao Brasil. Pedimos compreensão a amigos, fãs e imprensa nesse momento difícil em família”.Com a morte de Preta, o Brasil perde uma artista plural, uma empreendedora inovadora e uma voz fundamental na luta por um país mais justo e representativo. E a canção “Drão”, mais uma vez, ajuda a costurar o país com sua sensibilidade atemporal. 

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