Hoje radicada no Rio de Janeiro, a ex-senadora Heloísa Helena foi eleita por Alagoas em 1998 e se notabilizou pelas posturas firmes e a sua independência em relação ao PT, partido do qual foi expulsa em 2003, após se rebelar contra a reforma da previdência proposta pelo governo Lula.No ano seguinte, fundou o PSOL e, em 2006 disputou a presidência da República. Após o fim do seu mandato de senadora, retornou a Maceió e voltou a lecionar na Universidade Federal de Alagoas.“Sempre houve a pressão para que eu ficasse no Rio”, lembra Heloísa, cujo pai trabalhou como pedreiro na capital fluminense. Após pedir demissão da universidade, ela finalmente aceitou o convite, com uma missão muito bem definida.“Fui para o Rio ajudar a tirar a Rede da clandestinidade política. A gente não tinha um segundo de tempo de tv ou rádio, não tínhamos fundo eleitoral nem fundo partidário. Então era fundamental que nós tivéssemos uma federação”, lembra a ex-senadora.“Marina mudou o domicílio eleitoral para São Paulo e eu fui para o Rio num esforço para que o PSOL nos aceitasse na federação. Agradeço muito PSOL porque nos acolheu claro que outros partidos poderiam nos acolher, como PDT e PSB nos chamaram, do mesmo jeito que agora”, diz Heloísa, com a transparência que é sua marca registrada.VassalagemHoje, ela percorrer os estados brasileiros e busca ouvir das bases o interesse de permanecer na federação com o PSOL ou seguir para outra federação. Sobre a relação com Marina Silva, amiga de décadas e que se tornou sua antagonista no partido, Heloísa é direta.“Na política existem amizades, às vezes relações são desfeitas por pensamentos distintos, de concepção partidária, de análise de conjuntura, mas se tem uma coisa que ninguém pode reclamar de mim é de todos os gestos que eu dei. Porque eu pedi demissão da Universidade Federal de Alagoas, para ir ajudar a Rede, eu mudei meu domicílio eleitoral pra ir ajudar a Rede, então a vida é assim mesmo, tem pessoas que querem amizade, tem pessoas que querem vassalagem, então eu respeito a decisão que o grupo dela tomou e acho que eles têm obrigação de nos respeitar também. Porque senão fica muito ruim”.
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Eleições 2026A ruptura traumática com Marina em muito difere da saída do único senador da Rede, Randolfe Rodrigues (AP), que solicitou sua desfiliação em meio ao debate sobre a exploração de petróleo na margem equatorial, que renderia ‘royalties’ ao seu estado.“Tenho o maior respeito por Randolfe. Quem primeiro decidiu apoiar Lula na Rede foi Randolfe. Defendi a resolução que permitisse apoiar as candidaturas do campo democrático popular, que poderia ser Lula ou Ciro. Eu votei no Ciro. Quando vejo nos jornais que algumas brigas na Rede foram relacionadas à eleição presidencial eu só não começo a rir porque tenho muita raiva de mentira”, diz Heloísa.Ela lembra que Randolfe saiu fora do prazo, permitindo ao partido preservar o fundo eleitoral e o fundo partidário, que o acompanhariam em caso de migração dentro da janela partidária. ‘Ele poderia ter saído numa época que ele levaria o fundo eleitoral, que era dele, porque nas candidaturas majoritárias, o senador, se mudar de partido, leva o fundo, ao contrário dos deputados federais, então nós temos maior respeito por ele por isso. Ele não quis transformar algo que ele considerava fundamental para o estado dele numa guerra interna do partido’, elogia a ex-senadora.Sobre a possibilidade de uma candidatura presidencial em 2026, Heloísa Helena deixa tudo em aberto. Para ela, qualquer decisão será fruto de debate interno. ‘O momento é de construção partidária’, diz a coordenadora de mobilização da Rede, ainda muito ferida pelo processo eleitoral da legenda.“Pra se ter uma ideia, as coisas mais loucas que disseram de mim foi ‘cachorra louca’ e ‘velha derrotada’. Além de quase uma centena de ações judiciais dos gananciosos que não aceitam perder uma coisa tão pequena como a Rede, combativa, necessária, mas pequena. Não precisava uma guerra como essa”, lamenta.