Para além do mercado financeiro e industrial, a nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente estadunidense, Donald Trump, que deve entrar em vigor a partir de 1º de agosto, já acende o alerta também no setor imobiliário. As medidas protecionistas propostas por Trump têm potencial para provocar efeitos em cadeia no Brasil, com impactos que vão da inflação ao encarecimento de insumos da construção civil, passando pela elevação das taxas de juros e retração no crédito imobiliário.“Se o tarifaço for confirmado, o Brasil deve retaliar com novas tarifas sobre produtos americanos. Isso pode tornar mais caro importar materiais como aço e condutores elétricos, o que impacta diretamente a construção civil”, avalia Noel Silva, diretor do Conselho do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci Bahia) . Apesar disso, ele acredita que os efeitos sobre o mercado não serão devastadores. “Pode até haver uma migração de investidores para ativos mais seguros, como imóveis, justamente em busca de estabilidade”, pondera.Já Claudio Cunha, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), vê com mais preocupação os reflexos para o setor. “A construção civil será pressionada por custos mais altos, o que eleva o preço final dos imóveis, reduz investimentos e afeta empregos. A falta de previsibilidade também é crítica, principalmente em um setor que opera em ciclos de longo prazo”.Para ele, mitigar os danos passa por inovação e eficiência. “É hora de otimizar processos, adotar tecnologias que reduzam desperdícios e negociar contratos mais estáveis. O diálogo com o governo também será fundamental para acompanhar medidas de compensação.”Política monetáriaAlém dos efeitos diretos na construção, o tarifaço pode desencadear mudanças significativas na política monetária. Segundo Matheus Moraes, especialista em Direito Tributário, o aumento das tarifas tende a alimentar a inflação americana, forçando o Federal Reserve (o banco central dos EUA) a manter juros altos por mais tempo. Isso cria um efeito dominó: o Brasil, para continuar atrativo aos investidores, será pressionado a manter a taxa Selic elevada. “Com juros altos aqui, o financiamento imobiliário segue caro e os investidores tendem a preferir aplicações em renda fixa. Isso reduz a venda de imóveis, especialmente os novos, e impacta o preço dos usados”.A combinação de crédito restrito e menor apetite por risco pode provocar uma desaceleração no setor, mesmo em um contexto de alta demanda por moradia. Moraes alerta ainda para o impacto no mercado de Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs), sobretudo os que aplicam diretamente em imóveis (os chamados “fundos de tijolo”), que devem enfrentar mais dificuldades para competir com a renda fixa, ainda mais diante da possibilidade de mudança na isenção tributária desses fundos.Por outro lado, a turbulência pode abrir espaço para quem está preparado. “Quem tem capital próprio pode encontrar boas oportunidades de compra, com imóveis sendo negociados com desconto”, diz Moraes. Ele acredita que a recuperação virá, mas no longo prazo, e exigirá atenção redobrada a aspectos tributários, especialmente para quem busca renda com aluguel.A possível aplicação das tarifas é, por ora, um cenário hipotético. Mas a simples sinalização de que podem ser adotadas já movimenta análises e provoca rearranjos estratégicos. O impacto imediato pode ser contido, mas as incertezas no cenário global exigem cautela, visão de longo prazo e, sobretudo, resiliência – uma palavra já bastante conhecida por quem opera no setor imobiliário brasileiro.
Tarifaço de Trump ameaça desacelerar setor imobiliário e elevar custos
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