CIATox da Unicamp tem 4,6 mil intoxicações por produtos de limpeza; entenda o risco das ‘misturinhas’ e cuidados com o armazenamento


Os riscos das ‘misturinhas’ dos produtos de limpeza
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O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Unicamp registrou 4,6 mil casos de intoxicação envolvendo produtos de limpeza entre janeiro de 2020 e julho de 2025. Segundo o levantamento, os detergentes e sabões lideram as ocorrências, seguidos pelos alvejantes.
Os dados são da Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Abracit) e consideram os atendimentos por intoxicação acidental, ou seja, não intencional. As crianças foram maioria no período, com 2,9 mil, mas ao menos 1,4 mil atendimentos envolviam adultos.
De acordo com a médica Camila Carbone Prado, do CIATox, enquanto os casos com crianças, normalmente, estão relacionados ao descuido no armazenamento desses produtos, as ocorrências com adultos podem ser consequência do uso inadequado.
🧼 A seguir, veja detalhes sobre os casos de intoxicação, como evitá-los e quando buscar ajuda.
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São chamados domissanitários os produtos usados para limpeza, desinfecção e higienização de ambientes domésticos e coletivos. O número de substâncias relacionadas às ocorrências supera o total de casos porque as intoxicações podem unir um ou mais agentes.
🧼 Segundo dados da Abracit, 192 ocorrências estavam relacionadas ao uso associado, isto é, quando há mistura entre eles.
Os detergentes, amaciantes, sabões e saponáceos representam 40% do total de ocorrências, enquanto os alvejantes, como a água sanitária, e os desinfetantes, formam 28,4% do total (veja os detalhes no gráfico acima).
Perfil das intoxicações

A maioria das ocorrências recebidas pelo CIATox de Campinas envolvia crianças de 1 a 4 anos, que representam 56,2% do total. Outra parcela de 21,9% incluía adultos de 20 a 59 anos, e 7,1% eram idosos acima de 60.
A maioria das exposições foi por via oral – o contato por meio da boca, independentemente de ingestão –, com 84,7%, seguida pela associação de duas ou mais formas de contato. Também houve exposição:
respiratória: 173
nasal: 142
ocular: 94
cutânea: 75
otológica: 2
vaginal: 1
outros: 12
Cuidados no armazenamento
A médica do CIATox destaca que, na grande maioria dos casos, a intoxicação de crianças ocorre devido ao descuido dos adultos no armazenamento dos produtos de limpeza. “A criança tem a questão do acesso, que é do produto ficar em lugar baixo, que não é protegido, naquele armário que ela consegue explorar”, detalha Camila.
“Outra coisa que a gente vê e que acaba sendo um risco, tanto pra criança, quanto pros adultos também, é as pessoas tirarem das embalagens originais e colocarem em outros frascos. Acontece bastante do pessoal pegar qualquer um desses produtos de higiene doméstica e colocar na garrafa de água, na garrafa de refrigerante”.
“Acho que acaba sendo um grande fator de risco para qualquer um. A pessoa acaba abrindo e tomando, e só vai perceber depois que já começou a tomar. Há pessoas que colocam dentro da geladeira, colocam água sanitária dentro de uma garrafinha menor e põe na geladeira”.
Adultos se intoxicam por mau uso e desatenção aos rótulos
Já com relação aos adultos, além do descuido no armazenamento, há outro fator preocupante por trás das intoxicações: a desatenção ao rótulo. Não ler as instruções pode levar a usos errados e perigosos, como a mistura entre produtos incompatíveis e a não diluição em água quando recomendado pelo fabricante.
“Misturar produtos é um risco, porque você acaba gerando um terceiro produto. Você mistura o A com B e acaba virando um C, que tem um potencial maior de intoxicar, pode produzir algum vapor, algum gás que pode ser prejudicial. Para a parte respiratória, acaba se tornando mais complicado do que o produto original do jeito que ele é formulado”, comenta a médica.
Um exemplo é a mistura de álcool com água sanitária, o que pode parecer corriqueiro, mas que traz riscos à saúde e à vida. Ao g1, o professor de química Leandro Camacho explicou que os dois produtos não podem entrar em contato, pois podem causar desmaios e problemas cardiorrespiratórios.
“Ao misturar a água sanitária com o álcool que usamos em casa, pode-se formar ácido clorídrico (componente do ácido muriático, que é um corrosivo) e clorofórmio, aquele produto muito mostrado nos filmes que faz as pessoas desmaiarem. Então, há o risco de desmaio, síncope e até de parada cardiorrespiratória”.
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Quais cuidados devo tomar
Os produtos de limpeza são soluções químicas que exigem cuidados na manipulação. O primeiro passo é ler o rótulo. Além disso, alguns cuidados simples podem evitar casos de intoxicação. Entre eles estão:
manter os produtos fora do alcance das crianças;
manter os produtos em embalagens originais;
usar conforme orientação do fabricante e diluir em água quando necessário;
não fazer misturas com outros produtos.
Quais os sinais de intoxicação e o como buscar ajuda
Ainda segundo a médica, entre os sinais de intoxicação por produtos de limpeza estão:
tosse
falta de ar
sensação de cansaço
ardor nos olhos
ardor na garganta
dor de cabeça
irritação na pele
Nessas situações é possível contatar o CIATox para receber orientações por meio do telefone (19) 3521-7555. Em casos mais graves, como na falta de ar ou irritações intensas, a recomendação é buscar uma unidade de saúde o mais rápido possível.
“Dependendo de como a pessoa se expôs, se ela teve um contato na pele e está ardendo, por exemplo, pode lavar com água, o quanto antes tirar aquela roupa, para não ficar agredindo mais. Já tentar lavar e procurar um serviço mais rápido possível para completar essa lavagem de forma mais eficiente”.
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