
Chinês é flagrado com mais de R$ 800 mil em ‘ouro bovino’ na Castelo Branco em Iaras
Após a apreensão de mais de R$ 800 mil em cálculo biliar bovino, o chamado ouro bovino, com um homem de nacionalidade chinesa na Rodovia Castello Branco (SP-280), em Iaras (SP), o g1 conversou com especialista agropecuário para explicar o que é esse material, por que é tão raro e como ele se transforma em um produto valioso no mercado internacional.
O “ouro bovino” nada mais é do que cálculo biliar, ou seja, pedras que se formam na vesícula biliar de bois. O nome popular vem do alto valor comercial do produto, que pode chegar a até R$ 300 mil por quilo.
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Segundo o médico veterinário Walter de Oliveira Graça Júnior, técnico agropecuário na região de Itapetininga (SP), o cálculo biliar é formado por resíduos de colesterol, bilirrubina e sais que se acumulam e se solidificam no organismo do animal ao longo dos anos.
“É um resíduo fisiológico que só aparece com o tempo. Animais mais velhos, criados de forma extensiva, têm mais chance de apresentar esses cálculos”, explica Walter.
‘Ouro bovino’ apreendido em rodovia de Iaras (SP)
Reprodução/Polícia Civil
Por que é tão raro?
A raridade do cálculo biliar está diretamente relacionada à forma como o gado é criado no Brasil. Por causa das exigências do mercado consumidor, a pecuária nacional prioriza o abate precoce, ou seja, de animais jovens, com ciclos produtivos curtos.
“Para atender a demanda da carne, os bois são abatidos cada vez mais cedo. E isso reduz muito a chance de se desenvolver um cálculo biliar, que depende de tempo e de condições específicas de saúde do animal”, explica Walter. “É algo que geralmente só se encontra em vacas de descarte, de pequenos produtores ou de animais mais velhos criados soltos no pasto.”
De acordo com ele, em média, a cada 100 vacas criadas, apenas duas podem apresentar a pedra e, muitas vezes, com tamanho pequeno, entre 1 e 5 centímetros.
Por ser raro, o cálculo biliar é altamente valorizado. No mercado asiático, o quilo pode custar entre R$ 100 mil e R$ 300 mil, dependendo da qualidade e da pureza.
“O Brasil produz cerca de 2 mil quilos por ano. Mas, para isso, são abatidos milhares de animais. Em média, são necessários dois mil bois para conseguir um quilo desse material”, afirma o veterinário. O valor elevado é o motivo pelo qual o produto ficou conhecido como “ouro bovino”.
‘Ouro bovino’ apreendido em rodovia de Iaras (SP)
Reprodução/Polícia Civil
Para que serve?
As pedras de fel são usadas principalmente na medicina tradicional chinesa, com relatos históricos de mais de 2 mil anos. Em países asiáticos, o material é empregado na fabricação de medicamentos para transtornos neurológicos, convulsões, amuletos e outros.
De acordo com o especialista, o Brasil não reconhece a eficácia médica dessas substâncias, e o uso não é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Existe um mercado legal?
Embora a comercialização não seja ilegal, ela acontece, na maioria das vezes, fora dos trâmites oficiais, sem fiscalização sanitária ou pagamento de impostos. Muitos desses produtos saem do país por meio de exportações clandestinas ou intermediários.
“Não é proibido vender, mas é um mercado informal. Há extrações feitas em frigoríficos por pessoas que escondem o material e vendem por fora, inclusive com suspeitas de exportação sem controle”, diz o especialista.
Polícia Rodoviária apreendeu mochila, com 1,181 kg contendo fel bovino, avaliado em mais de R$ 800 mil
Reprodução/Polícia Rodoviária
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