
Sem chuvas, Rio Acre está prestes a alcançar a menor cota histórica em menos de 1 ano
A pouco mais de 30 centímetros da pior cota da história em Rio Branco, alcançada em setembro do ano passado, o Rio Acre encerrou o mês de julho com a menor média para o período. A situação alerta para a possibilidade de o manancial bater novamente ou até superar a marca negativa de 1,23 metro em menos de um ano, segundo a Defesa Civil Municipal.
Ainda de acordo com dados do órgão, a última chuva volumosa foi registrada há 94 dias, com 99,20 milímetros. Desde o dia 28 de abril, Rio Branco teve apenas outras duas chuvas ‘significativas’ para o período, sendo em 1º de maio (23,8 mm) e 27 de maio (26 mm), há 45 dias. Este cenário de seca contribui para a diminuição diária do nível do rio.
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Nível do Rio Acre acende alerta para estiagem severa em 2025 em Rio Branco
Júnior Andrade/Rede Amazônica
Com poucas oscilações, o principal rio do Acre está abaixo de 3 metros desde o dia 3 de junho e, desde então, já preocupava as autoridades por conta da possibilidade de mais uma seca severa seguida.
O cenário se concretizou em julho, que não registrou nenhuma chuva significativa. Nesta quinta-feira (31), a Defesa Civil Municipal marcou 1,55 metro, quase 15 metros abaixo do que foi registrado em 17 de março deste ano, quando o manancial alcançou 15,88 metros e afetou mais de 30 mil pessoas.
Para a Defesa Civil, chuvas significativas são aquelas com volume acima de 30 mm, principalmente neste período mais seco, quando o solo está saturado e absorve pouco.
”Temos fatores suficientes [para nos preocupar]: muitos dias sem chuvas, altas temperaturas, umidade do ar em queda e qualidade do ar ruim. Produtores rurais, piscicultores e toda a cadeia da bacia leiteira estão no prejuízo. Precisamos agir rápido”, disse o coordenador da Defesa Civil municipal, tenente-coronel Cláudio Falcão.
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Ainda de acordo com o coronel, há um indicativo de que Rio Branco entre em situação de emergência devido à estiagem, já que o baixo nível do manancial pode comprometer ainda mais o abastecimento na cidade.
“Temos fatores suficientes para poder pedir uma decretação de emergência visando a agilidade das ações de resposta para aquelas pessoas que estão passando por situações difíceis, e precisamos agir rapidamente […] então, esse ano, o que tudo indica é que a gente possa, inclusive, se igualar [à marca de 1,23 metro]”, complementou.
Rio Acre alcançou 15,88 metros em março deste ano; quatro meses depois, manancial está a apenas 30 centímetros da menor cota da história
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Baixo nível de chuvas
Conforme levantamento do g1 com base nos dados divulgados diariamente pela Defesa Civil de Rio Branco, a situação de alerta para o baixo quantitativo de chuvas vem desde maio, quando o volume ficou em 73,4 milímetros, o correspondente a 79% do aguardado para o mês.
Em junho, a situação foi ainda mais crítica: choveu apenas 26,6 milímetros em todo o mês, a soma de seis dias de precipitação. O esperado era 39,4 mm.
Em julho, onde o aguardado era que chovesse 29,3 mm, o total chegou a 30% do esperado: choveu somente 8,8 milímetros no dia 28 de julho.
Com seca do Rio Acre, órgãos de fiscalização ficam em alerta para abastecimento de água em Rio Branco
Júnior Andrade/Rede Amazônica
Seca
Saulo Aires de Souza, especialista em regulação de recursos hídricos e saneamento básico da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), explicou que a atmosfera funciona como um reservatório.
Por conta do aquecimento global, que eleva a temperatura na Terra, esses “reservatórios” aumentam a capacidade de armazenar vapor d’água e quando enchem, ocorre o fenômeno da chuva que, nesse caso, costuma ser mais intensa na forma de tempestades. Foi isto que aconteceu na última segunda (28), única chuva do mês.
“A água não infiltra e, em um determinado momento, começa a diminuir a alimentação do lençol freático, e o rio vai ficar mais vulnerável quando ficar submetido a períodos mais secos, porque a parcela da água que deveria infiltrar e, nos períodos secos, alimentar os rios, não infiltra, vai embora escoando”, destacou.
Esta irregularidade na quantidade de chuvas faz com que aumente a frequência de secas e de cheias.
Falta de chuvas impactam em seca de rios no estado do Acre
Abastecimento
O coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Carlos Batista, disse que o Serviço de Água e Esgoto do Acre (Saneacre), que atua em com 21 municípios, e o Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb) já operam nas comunidades mais afastadas da área urbana, que têm o abastecimento com poços artesianos.
“As Defesas Civis Municipais elaboram os planos para as ações caso a seca seja mais severa, ações dentro do próprio município. A gente articula, faz todo esse trabalho de juntar todas essas informações para otimizar os recursos para o enfrentamento desse período de seca”, complementou.
Operação Estiagem iniciou em julho em Rio Branco
Arquivo/Defesa Civil de Rio Branco
Em Rio Branco, por exemplo, é feita a Operação Estiagem, que abastece as comunidades rurais. Entre os moradores que receberam o abastecimento no primeiro dia da operação está a autônoma Daiane Sousa, que mora na Comunidade Rural Panorama há seis anos.
Ela relata que a seca é uma preocupação de todos os anos e que prejudica a subsistência das famílias que vivem ali.
“Todo ano a gente sofre com esse problema de água aqui porque, quando é no começo do verão, os poços secam. Não temos água encanada aqui. A gente depende dos poços. Fizemos manifestação para trazerem água encanada para cá, mas até agora nada foi resolvido. A gente sofre todo ano com isso. Tem muita criança, idoso aqui para dentro. E é esse sofrimento, essa tormenta que temos todos os anos”, lamentou.
Há seis anos na comunidade, Daiane Sousa relata que a seca é uma preocupação constante
Aline Pontes/Rede Amazônica Acre
Com o início da seca, segundo a moradora, algumas famílias chegam a recorrer a empresas de caminhões-pipa, mas, o preço pode ser muito caro e a entrega, muitas vezes, demora. Por isso, o abastecimento por meio da operação se torna crucial.
“Porque como todos falam, água é vida. A gente depende da água para sobreviver. Podemos ficar um dia sem alimento, mas sem água a gente não consegue ficar, passar um dia sem beber água, sem ter água pra fazer as coisas de casa”, finalizou.
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