Países criticam custos da COP30 no Brasil
Mensagens enviadas a representações do governo brasileiro no exterior revelam que delegações de vários países têm manifestado preocupação com a estrutura de hospedagem para a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025.
Os relatos, obtidos pelo Jornal Hoje por meio da Lei de Acesso à Informação, indicam que dificuldades para reservar hotéis e preços elevados podem levar a cortes nas comitivas internacionais. Entre janeiro e junho deste ano, embaixadas brasileiras em 11 países receberam alertas de governos e ONGs ambientais sobre os desafios logísticos para a conferência climática da ONU.
Em um dos documentos, a representação do Brasil em Berlim relatou que uma diretora do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha expressou preocupação com deslocamento e hospedagem em Belém. Outro participante apontou receio de “encarecimento excessivo” nos serviços durante o evento, citando hotéis, restaurantes e táxis.
A situação se repete em outros países. A delegação chinesa afirmou ter “grande dificuldade em reservar hotéis, com baixa disponibilidade e preços muito elevados”. A embaixada brasileira na Suíça informou que o custo das acomodações pode levar a uma redução na equipe enviada pelo país, já que seria difícil justificar os valores ao parlamento suíço.
A Indonésia também sinalizou que sua delegação deve ser menor do que na COP29 – cerca de 500 pessoas, contra 800 no ano passado –, por causa dos preços praticados em Belém.
Reunião de emergência na ONU
A preocupação da Indonésia também afeta outros países em desenvolvimento. Na terça-feira (29), o escritório climático da Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma reunião urgente para debater os preços altos nas acomodações para a COP30.
Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, afirmou à Reuters que os países que representa não querem diminuir suas delegações e cobrou respostas do governo brasileiro. O Brasil concordou em abordar as preocupações dos países sobre acomodações e apresentar um relatório em 11 de agosto.
Para especialistas, o cenário pode comprometer a proposta inclusiva da conferência.
A professora Amina Wenten Guerra, doutora em Direito Internacional e conselheira da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, destaca que a COP precisa envolver governos e sociedade civil em pé de igualdade.
“Não é interessante para o Brasil que a reputação do evento seja de um encontro extremamente caro, que mais exclui do que inclui atores, especialmente países do Sul Global e menos desenvolvidos. A gente precisa de um diálogo de fato horizontal, que envolva a maior parte dos países do mundo”, afirmou.
49 mil leitos: 14 mil em hotéis
Países pressionam governo brasileiro por causa dos preços dos hotéis durante a COP30 em Belém
Belém conta atualmente com cerca de 49 mil leitos disponíveis para receber os participantes da COP30, segundo a Secretaria Executiva para a Cop 30. Desses, pouco mais de 14 mil estão em hotéis da capital paraense.
A expectativa é que cerca de 50 mil visitantes desembarquem na cidade para o evento, incluindo integrantes de delegações de mais de 190 países, pesquisadores, empresários e representantes da sociedade civil.
Na internet, os valores cobrados para o período da conferência chamam a atenção. Há anúncios de hospedagem em hotéis por R$ 109 mil para os 11 dias do evento. O aluguel de casas chega a R$ 140 mil, e o de chácaras ultrapassa meio milhão de reais.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), 500 apartamentos foram reservados para as comitivas estrangeiras, com tarifas de até US$ 300 por diária (cerca de R$ 1,6 mil).
O presidente da entidade, Antonio Santiago, afirma que os hotéis cinco estrelas ofereceram diárias de US$ 100 a US$ 300 para atender pedidos do governo, mas que, fora desse acordo, os valores seguem o mercado.
“Existe tarifa de 300, 500, até 1,5 mil dólares, dependendo da categoria do hotel. O que nós não podemos é nos meter na parte comercial dos hotéis”, disse, destacando que a maioria dos leitos pertence a redes internacionais.
Plano de acomodação em fases
Em nota divulgada nesta sexta-feira, a Secretaria Extraordinária da COP30 informou que o plano de acomodação para a conferência está sendo implementado em fases, com prioridade inicial para os países que participarão diretamente das negociações oficiais.
Segundo a pasta, estão disponíveis atualmente 2,5 mil quartos individuais, com tarifas fixadas entre US$ 100 e US$ 600 por diária (de aproximadamente R$ 550 a R$ 3,3 mil na cotação atual).
A secretaria destacou ainda que, para os 73 países classificados pela ONU como menos desenvolvidos, foram reservados 15 quartos individuais por delegação, com valores entre US$ 100 e US$ 200 (até R$ 1,1 mil). De acordo com o secretário extraordinário para a COP30, Walter Corrêa da Silva, a ONU também oferece subsídios para essas delegações, mas há expectativa de que os valores possam ser revistos e ampliados para facilitar a participação dos países.
Negociação em âmbito estadual
O governo do Pará afirma ter firmado um acordo com a ABIH para facilitar a hospedagem das delegações e demais participantes, mas diz que a negociação de preços é feita diretamente entre locadores e clientes, sem previsão legal para intervenção do poder público.
A Procuradoria do Estado informou que o governo segue dialogando com o setor hoteleiro para incentivar práticas consideradas responsáveis durante o evento.
Além da rede hoteleira, a oferta de hospedagem para a COP30 inclui imóveis para aluguel por temporada e navios de cruzeiro. O governo estadual afirma trabalhar para ampliar a capacidade e concluir obras de infraestrutura até outubro.
Mensagens enviadas a representações do governo brasileiro no exterior revelam que delegações de vários países têm manifestado preocupação com a estrutura de hospedagem para a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025.
Os relatos, obtidos pelo Jornal Hoje por meio da Lei de Acesso à Informação, indicam que dificuldades para reservar hotéis e preços elevados podem levar a cortes nas comitivas internacionais. Entre janeiro e junho deste ano, embaixadas brasileiras em 11 países receberam alertas de governos e ONGs ambientais sobre os desafios logísticos para a conferência climática da ONU.
Em um dos documentos, a representação do Brasil em Berlim relatou que uma diretora do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha expressou preocupação com deslocamento e hospedagem em Belém. Outro participante apontou receio de “encarecimento excessivo” nos serviços durante o evento, citando hotéis, restaurantes e táxis.
A situação se repete em outros países. A delegação chinesa afirmou ter “grande dificuldade em reservar hotéis, com baixa disponibilidade e preços muito elevados”. A embaixada brasileira na Suíça informou que o custo das acomodações pode levar a uma redução na equipe enviada pelo país, já que seria difícil justificar os valores ao parlamento suíço.
A Indonésia também sinalizou que sua delegação deve ser menor do que na COP29 – cerca de 500 pessoas, contra 800 no ano passado –, por causa dos preços praticados em Belém.
Reunião de emergência na ONU
A preocupação da Indonésia também afeta outros países em desenvolvimento. Na terça-feira (29), o escritório climático da Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma reunião urgente para debater os preços altos nas acomodações para a COP30.
Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, afirmou à Reuters que os países que representa não querem diminuir suas delegações e cobrou respostas do governo brasileiro. O Brasil concordou em abordar as preocupações dos países sobre acomodações e apresentar um relatório em 11 de agosto.
Para especialistas, o cenário pode comprometer a proposta inclusiva da conferência.
A professora Amina Wenten Guerra, doutora em Direito Internacional e conselheira da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, destaca que a COP precisa envolver governos e sociedade civil em pé de igualdade.
“Não é interessante para o Brasil que a reputação do evento seja de um encontro extremamente caro, que mais exclui do que inclui atores, especialmente países do Sul Global e menos desenvolvidos. A gente precisa de um diálogo de fato horizontal, que envolva a maior parte dos países do mundo”, afirmou.
49 mil leitos: 14 mil em hotéis
Países pressionam governo brasileiro por causa dos preços dos hotéis durante a COP30 em Belém
Belém conta atualmente com cerca de 49 mil leitos disponíveis para receber os participantes da COP30, segundo a Secretaria Executiva para a Cop 30. Desses, pouco mais de 14 mil estão em hotéis da capital paraense.
A expectativa é que cerca de 50 mil visitantes desembarquem na cidade para o evento, incluindo integrantes de delegações de mais de 190 países, pesquisadores, empresários e representantes da sociedade civil.
Na internet, os valores cobrados para o período da conferência chamam a atenção. Há anúncios de hospedagem em hotéis por R$ 109 mil para os 11 dias do evento. O aluguel de casas chega a R$ 140 mil, e o de chácaras ultrapassa meio milhão de reais.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), 500 apartamentos foram reservados para as comitivas estrangeiras, com tarifas de até US$ 300 por diária (cerca de R$ 1,6 mil).
O presidente da entidade, Antonio Santiago, afirma que os hotéis cinco estrelas ofereceram diárias de US$ 100 a US$ 300 para atender pedidos do governo, mas que, fora desse acordo, os valores seguem o mercado.
“Existe tarifa de 300, 500, até 1,5 mil dólares, dependendo da categoria do hotel. O que nós não podemos é nos meter na parte comercial dos hotéis”, disse, destacando que a maioria dos leitos pertence a redes internacionais.
Plano de acomodação em fases
Em nota divulgada nesta sexta-feira, a Secretaria Extraordinária da COP30 informou que o plano de acomodação para a conferência está sendo implementado em fases, com prioridade inicial para os países que participarão diretamente das negociações oficiais.
Segundo a pasta, estão disponíveis atualmente 2,5 mil quartos individuais, com tarifas fixadas entre US$ 100 e US$ 600 por diária (de aproximadamente R$ 550 a R$ 3,3 mil na cotação atual).
A secretaria destacou ainda que, para os 73 países classificados pela ONU como menos desenvolvidos, foram reservados 15 quartos individuais por delegação, com valores entre US$ 100 e US$ 200 (até R$ 1,1 mil). De acordo com o secretário extraordinário para a COP30, Walter Corrêa da Silva, a ONU também oferece subsídios para essas delegações, mas há expectativa de que os valores possam ser revistos e ampliados para facilitar a participação dos países.
Negociação em âmbito estadual
O governo do Pará afirma ter firmado um acordo com a ABIH para facilitar a hospedagem das delegações e demais participantes, mas diz que a negociação de preços é feita diretamente entre locadores e clientes, sem previsão legal para intervenção do poder público.
A Procuradoria do Estado informou que o governo segue dialogando com o setor hoteleiro para incentivar práticas consideradas responsáveis durante o evento.
Além da rede hoteleira, a oferta de hospedagem para a COP30 inclui imóveis para aluguel por temporada e navios de cruzeiro. O governo estadual afirma trabalhar para ampliar a capacidade e concluir obras de infraestrutura até outubro.