EUA contra o mundo? País restringe dados meteorológicos de satélites

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou que vai restringir o acesso global a dados meteorológicos produzidos por satélites militares a partir do fim deste mês. A justificativa é o aumento dos “riscos de cibersegurança”, mas a medida tem causado preocupação internacional, especialmente entre centros de pesquisa climática e meteorologistas.A decisão atinge diretamente informações essenciais sobre tempestades, furacões, cobertura de nuvens, gelo marinho e mudanças climáticas, até então compartilhadas por meio do programa Defense Meteorological Satellite Program (DMSP), operado pelas Forças Armadas americanas desde os anos 1960.O anúncio foi feito pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), que, apesar de não operar os satélites, processava os dados para uso civil e científico. A implementação do bloqueio chegou a ser adiada após protestos, mas agora está confirmada.Dados cruciais para prever desastres naturaisMeteorologistas alertam que o corte de acesso aos dados pode reduzir a precisão das previsões climáticas, principalmente em países sem satélites próprios ou com infraestrutura limitada.Segundo o meteorologista Peter Knippertz, do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT), a atmosfera funciona como um “sistema caótico”, onde “mesmo pequenas diferenças de temperatura, pressão ou vento em locais relativamente distantes e também em momentos diferentes podem ter grande impacto”, disse ele à DW.

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Peter diz ainda, que a exclusão das informações representará “uma perda estatisticamente mensurável na qualidade das previsões”, especialmente as de curto prazo.As informações eram usadas em modelos numéricos por instituições do mundo todo, como o National Snow and Ice Data Center (NSIDC), nos EUA, que analisa o gelo marinho no Ártico. Sem os dados militares, o centro precisará recorrer a fontes alternativas, como satélites japoneses.O que será perdido?Os satélites do DMSP ainda ativos transmitem dados como:Cobertura de nuvens e temperatura (via Operational Linescan System – OLS)Perfis de umidade e radiação térmica (via Special Sensor Microwave Imager Sounder – SSM/IS)Parâmetros oceanográficos e solar-geofísicos usados em previsões estratégicas militares e civisEssas informações são fundamentais para a previsão de fenômenos como o La Niña, ciclones e ondas de calor. Além disso, contribuem com pesquisas sobre o aquecimento global e a definição de rotas marítimas seguras.Com o bloqueio, centros civis e meteorologistas precisarão ajustar seus modelos com menos dados, o que deve afetar principalmente as regiões tropicais e os países em desenvolvimento.

Satélite faz monitoramento e rastreamento

|  Foto: Divulgação | Agência Espacial Europeia (ESA)

Estações fechadas e cortes orçamentáriosAlém do fim do compartilhamento de dados de satélite, os EUA decidiram fechar o Observatório Mauna Loa, no Havaí, um dos principais centros mundiais de monitoramento de CO2 na atmosfera.O local, que coleta informações desde 1958, é referência em estudos sobre mudanças climáticas e emissões de gases do efeito estufa. Diferente da justificativa de segurança usada no caso dos satélites, o fechamento do Mauna Loa teria sido motivado por cortes orçamentários promovidos pelo governo Trump, que demitiu 800 funcionários da NOAA em março.Preocupação global com dados meteorológicosPara especialistas, a decisão dos EUA representa um retrocesso na cooperação científica internacional, justamente em um momento de aumento dos eventos climáticos extremos.Ainda que satélites europeus, japoneses e chineses possam suprir parte da lacuna, países mais pobres serão os mais prejudicados, por dependerem do acesso gratuito e aberto às informações meteorológicas americanas.A aproximação da temporada de furacões no Atlântico intensifica o alerta. Dados em tempo real, como os gerados pelos sensores OLS e SSM/IS, são essenciais para salvar vidas e preparar defesas civis com antecedência.

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