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Pelo menos seis empresas receberam autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM) em 2025 para realizar pesquisas sobre a presença de ouro ou minério de ouro às margens do Rio Verde, em cidades do Sul de Minas. Outras oito empresas ainda aguardam a liberação formal da agência para iniciar as atividades de prospecção.
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A movimentação ocorre em meio à segunda fase da Operação Fogo no Garimpo, deflagrada nesta terça-feira (5) pela Polícia Federal em parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a própria ANM. A ação resultou na apreensão de 13 dragas e destruição de outras 12 em cidades do Sul de Minas. Segundo a Polícia Federal, 13 trabalhadores foram presos em flagrante, mas liberados.
Conforme as investigações, os envolvidos atuavam sob a justificativa de extração de areia, mas realizavam extração de ouro. Em alguns casos, sem autorização legal para exploração mineral, apenas com licença para pesquisa.
Áreas em azul mostram autorizações de pesquisa para ouro às margens do Rio Verde; em verde, requerimentos que aprovam aprovação
Reprodução / ANM
De acordo com as autoridades, a exploração clandestina de ouro tem causado sérios impactos ambientais na região, como o assoreamento de rios, a degradação de ecossistemas aquáticos e a contaminação de recursos hídricos. A suspeita é que garimpeiros ilegais estejam se aproveitando do aumento de pedidos formais de pesquisa para se estabelecer em áreas sensíveis do Rio Verde.
Autorizações para pesquisa
Segundo levantamento do g1, ao todo foram concedidas oito autorizações pela ANM só neste ano para pesquisa de ouro ou minério de ouro às margens do Rio Verde em Varginha, Três Corações e São Sebastião do Rio Verde. Ainda há outros 10 pedidos de autorização de pesquisa aguardando autorização pela agência.
Atualmente, apenas quatro empresas na região possuem concessão de lavra — ou seja, autorização federal – para exploração de ouro ou minério de ouro:
Duas em Pouso Alegre (ouro), no Rio Sapucaí
Uma entre Varginha e Três Corações (minério de ouro), no Rio Verde
Uma em São Vicente de Minas (minério de ouro), no Rio Aiuruoca
A diferença entre ouro e minério de ouro está na forma de ocorrência: enquanto o ouro é o metal puro, o minério de ouro é uma rocha ou depósito que contém o metal associado a outros minerais, exigindo processamento para extração.
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Agência Nacional de Mineração registra pedidos de pesquisa por ouro no Sul de Minas: em azul, áreas já autorizadas; em verde, áreas que aguardam autorização
Reprodução ANM
Dados do Sistema de Informações Geográficas da Mineração (SIGMINE), da Agência Nacional de Mineração, ainda apontam que há autorizações ativas para a pesquisa de ouro em praticamente todo o Sul de Minas, em regiões que não necessariamente se restringem às margens dos rios.
O mapa mostra que há uma concentração de áreas que estão sendo pesquisadas nas regiões de Campanha, Pouso Alegre e Passa Quatro.
Interesse real ou efeito momentâneo?
Apesar do aumento nos pedidos de pesquisa, especialistas ouvidos pelo g1 avaliam que não há indícios de uma “corrida do ouro” no Sul de Minas. O engenheiro geólogo Paulo Henrique Silva Lopes, natural de Monte Santo de Minas e atuante na região de Ouro Preto, afirma que a mineração na região historicamente é voltada a materiais para a construção civil, como areia e granito.
Mapa SIGMINE mostra em azul concentração de áreas com pesquisas ativas para ouro no Sul de Minas; em vermelho, áreas que já são exploradas
Reprodução ANM
Segundo ele, é comum que a retirada de areia nos rios revele traços de ouro, o que pode motivar novos requerimentos. No entanto, isso não significa necessariamente a existência de grandes depósitos.
“Pode ser que alguém achou alguma coisa, teve interesse de pesquisar e fez o requerimento. Mas a partir do momento em que começa a extrair, é necessário ter a concessão de lavra. Esse sim precisa declarar a extração de ouro”, explicou o geólogo.
Lopes também destacou que, em regiões como Varginha e arredores, o ouro não é abundante como em outras partes do país, como a Província Mineral de Tapajós, no Pará.
Geólogo Paulo Henrique Silva Lopes fala sobre exploração de ouro no Rio Verde, no Sul de MG
Reprodução g1
“Na região de Varginha eu não considero que seja um boom. É uma área muito voltada para a construção civil. Tem muito granito, charnoquitos, rochas duras. O ouro aparece, mas não em volumes que justifiquem grandes investimentos”, avaliou.
Outro ponto citado pelo especialista é que a maioria dos pedidos de pesquisa não chega a resultar em lavra efetiva.
“A maioria das requisições acaba sendo postergada. O prazo para apresentar o relatório final de pesquisa é de três anos, e muitas empresas deixam para a última hora, sem conseguir concluir os estudos. Isso emperra o processo e a área fica parada por anos”, completou.
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