Festival dedicado ao futebol baiano, ‘FutFestBol’ acontece nos Barris

Comprar os ingressos, procurar os assentos, se acomodar e esperar pelo início. O ritual, quase sagrado, une dois públicos distintos: os amantes do cinema e os torcedores mais apaixonados pelo futebol. Agora, mais um encontro entre o esporte e o audiovisual toma forma: o FutFestBol – Festival de Cinema de Futebol da Bahia, que acontece entre os dias 6 e 10 de agosto na Sala de Cinema Walter da Silveira, nos Barris. Todas as atividades do festival têm acesso gratuito, com ingressos pelo Sympla.Ao longo dos cinco dias, serão exibidos 25 filmes produzidos por baianos ou que tratem sobre o futebol baiano, de títulos inéditos a outros já premiados. Destes, dois são longas-metragens, cinco médias e 18 curtas-metragens. Protagonizando as obras, estão temas como a paixão dos torcedores pelos seus times do coração, a presença feminina e de pessoas com deficiência no futebol e histórias de personagens emblemáticos do esporte.O evento é o primeiro voltado para a filmografia de futebol a acontecer no Nordeste e o segundo do país, além do Cinefoot, no Rio de Janeiro. Idealizado pelo diretor Lucas Semente, que também foi responsável pela curadoria, o FutFestBol nasceu a partir da falta que sentia de uma iniciativa que celebrasse o futebol da Bahia através do audiovisual – duas paixões populares.“Eu percebi que a Bahia é apaixonada por futebol, mas que só estava acostumado a assistir nos estádios. Agora, o público tem esse novo espaço para assistir ao futebol, mas de uma nova forma, a partir das narrativas, das histórias que acontecem dentro ou ao redor do esporte”, conta Lucas.O festival chega para mostrar que o futebol vai muito além do esporte, sendo também um grande fenômeno social, e a variedade dos filmes são uma evidência disso. Segundo Lucas, o cinema e o esporte têm muito em comum, e se encontram na emoção de quem faz, assiste e torce.“A primeira palavra que conecta as duas linguagens é ‘paixão’. A paixão pelo futebol se conecta à paixão de quem ama ver histórias audiovisuais. A paixão pela narrativa. O que eu percebo é que as histórias sobre o futebol têm a ver com o futebol jogado em campo, mas não são só o futebol jogado em campo. Você pode até não gostar de futebol e de ir ao estádio, mas passa a gostar das narrativas que estão sendo contadas”, defende o criador do festival.

Lucas Semente, criador do festival

|  Foto: Divulgação

As exibições da mostra cinematográfica têm início no dia 8, com uma sessão do documentário Bahêa, Minha Vida (2011), de Marcio Cavalcanti, feito em celebração aos 80 anos do Esporte Clube Bahia. Com 74.857 ingressos vendidos desde então, o filme acumula a maior bilheteria entre filmes de futebol na Bahia, de acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine).O sábado contará também com duas homenagens especiais: aos 15 anos do festival carioca Cinefoot, criado por Antônio Leal e Tetê Mattos e o primeiro festival de futebol do Brasil e da América Latina, e ao diretor, cartunista e ilustrador Caó Cruz Alves, um dos principais nomes da filmografia de futebol na Bahia, por seu pioneirismo com o curta-metragem Ouviram Alonzanfan, de 1998, título mais antigo na programação do festival. Três produções assinadas por Alves integram a programação.Outro filme presente na exibição é Nêgo: Um Nome na História, com roteiro e direção de Matheus Caldas. Nascido a partir do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Caldas no curso de Jornalismo, a obra foi para ele uma chance de unir seu interesse pela comunicação e sua grande paixão: o esporte. Agora, sete anos depois da defesa, tem a chance de assistir ao seu projeto em uma tela de cinema. “Eu fico realizado, muito feliz mesmo, de lembrarem de mim no processo de pesquisa e terem o meu documentário como referência. Acabou também me fazendo entrar novamente em contato com algumas pessoas com quem eu não conversava há muito tempo, os entrevistados e tudo mais. E eu e o meu documentário fazemos parte de um marco na história do cinema sobre o futebol baiano, que é o primeiro festival sobre o futebol da Bahia. O meu documentário estar inserido nessa demarcação de espaço, eu acho que é muito importante”, celebra Caldas.

Matheus Caldas

|  Foto: Marcello Góis

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Barril triplicadoAlém das sessões, o festival promoverá duas outras atividades nos Barris: uma oficina de narração de jogos com estudantes do Colégio Estadual Senhor do Bonfim e um painel de conversa, que será realizado no bar Velho Espanha, no mesmo bairro.O painel abre as atividades do festival, das 19h30 às 21h30 de hoje. Na conversa, batizada ‘Resenha Pré-FutFestBol’, os participantes Taís Amordivino (Amordivino Filmes), Caó Cruz (Stúdio Caó) e Junior Ribeiro (Nós Produzimos) se debruçarão sobre os desafios para a produção de filmes de futebol na Bahia, relembrando como essa produção tem sido feita e debatendo os caminhos para facilitar a criação de filmes dessa modalidade. A mesa será mediada por Lucas Semente.“O público pode esperar uma troca afetuosa, potente e cheia de memória. Antes de ser cineasta, fui jogadora, joguei bola até os 18 anos. Então, esse encontro vai além do filme: é sobre vivência, sobre futebol como linguagem, arte. Vai ser um espaço para falar de filme, coletividade, de luta, tudo isso que o futebol também carrega”, diz a diretora Taís Amordivino.Além da mesa, Amordivino participará do festival com a estreia de seu curta Dilma Mendes: Futebol & Raça. O documentário reconhece a trajetória de uma das maiores técnicas de futebol feminino no Brasil. Mulher negra, baiana de Camaçari, Dilma Mendes foi a responsável por descobrir a ex-jogadora Miraildes Maciel Mota, a Formiga.Dialogando com o tema, a diretora relata que fazer cinema sendo uma mulher preta já é um desafio por si só, e continuar fazendo filmes relevantes e com potência transformadora, mais ainda.“Tenho a felicidade de construir uma trajetória sólida de mais de 12 anos fazendo filmes relevantes que tocam em temas essenciais, e o filme da Dilma Mendes é um exemplo disso. Uma mulher negra, nordestina, pioneira no futebol feminino, que revelou nomes como Formiga. E, ainda assim, é pouco conhecida até mesmo na Bahia. Apesar de hoje estar registrada no Museu do Futebol, sua história segue invisibilizada. O filme é justamente para isso: para que mais gente conheça essa mulher gigante”, diz.No dia seguinte, quem comanda a oficina de narração de jogos é Rainan Peralva, narrador e apresentador na Rede Bahia. Lá, estudantes do Colégio Estadual Senhor do Bonfim aprenderão na prática como transmitir a emoção que acontece em uma partida para a audiência da televisão, do rádio ou do streaming.Para Peralva, além de mostrar como é trabalhar com narração, a oficina é uma oportunidade de mostrar que ele é um reflexo daqueles jovens. Nascido e criado em Plataforma, ele conseguiu realizar o próprio sonho mesmo sem conhecer ninguém da área e acreditando que não era possível. “Isso de ser narrador bateu em mim mesmo quando eu tinha 20 ou 21 anos. Eu não tinha me habituado a nada, gostado de nada. Eu fazia engenharia mecatrônica, sabe? Então, eu acho que esse contato próximo comigo pode fazer com que eles acreditem desde pequenos”, afirma.No terceiro e último dia, homenagens mais que especiais. Dessa vez, os holofotes estarão voltados à Sylvia Abreu, produtora executiva e fundadora da Truq Produtora de Filmes, que em 1998 abriu os caminhos para a filmografia de futebol no estado. A programação será encerrada com um dos mais recentes lançamentos da produtora, O Último Jogo, o primeiro e único longa-metragem de ficção baiano, assinado por Roberto Studart.“O FutFestBol é uma importante iniciativa, que poderá colaborar levando um novo público ao cinema e mostrar aos realizadores e à indústria cinematográfica este amplo campo temático a ser melhor explorado”, defende Sylvia.Os espectadores também poderão votar na competitiva que premiará o melhor média e o melhor curta-metragem dentre os exibidos. A premiação acontecerá no domingo, após exibição especial do filme O Último Jogo. Receberão troféus os escolhidos em 1º, 2º e 3º em cada categoria.

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