O Brasil se posiciona como uma das principais apostas mundiais na produção de hidrogênio verde, combustível limpo considerado essencial para a transição energética e a descarbonização da economia global. Com uma matriz energética majoritariamente renovável e abundância de recursos naturais como sol, vento e água, o país desponta como potência promissora em um dos setores mais estratégicos do século XXI.
O que é o hidrogênio verde?
O hidrogênio é o elemento mais abundante do universo, mas não é encontrado isolado na natureza em sua forma gasosa. Ele está presente em compostos como a água (H₂O) e hidrocarbonetos. Para ser obtido, precisa ser separado por processos químicos.
A produção de hidrogênio verde (H₂V) ocorre por meio da eletrólise da água, um processo que utiliza eletricidade para quebrar as moléculas de água em hidrogênio (H₂) e oxigênio (O₂). A grande diferença está na origem dessa eletricidade: se ela for proveniente de fontes renováveis — como solar, eólica ou hídrica — o hidrogênio é considerado “verde”, por não emitir gases de efeito estufa durante sua geração.
Outros tipos incluem:
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Hidrogênio cinza: derivado de combustíveis fósseis, com alta emissão de CO₂.
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Hidrogênio azul: também derivado de fósseis, mas com captura e armazenamento de carbono.
Por que o hidrogênio verde é estratégico para o Brasil?
O Brasil possui 83% da sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia. Esse diferencial permite produzir hidrogênio verde a custo mais competitivo e com menor impacto ambiental.
Além do viés ambiental, o H₂V abre uma nova fronteira econômica para o país:
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Criação de empregos na indústria de energia limpa.
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Diversificação da pauta de exportações.
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Descarbonização de setores como siderurgia, fertilizantes, transporte pesado e aviação.
Produção do hidrogênio verde: como funciona?
A eletrólise da água ocorre da seguinte forma:
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Fontes renováveis (solar, eólica, hídrica) geram eletricidade.
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A eletricidade alimenta um eletrolisador, onde ocorre a separação da água em H₂ e O₂.
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O hidrogênio é coletado, purificado e armazenado.
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O oxigênio pode ser liberado ou reutilizado industrialmente.
Existem diferentes tipos de eletrolisadores:
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PEM (membrana de troca de prótons)
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Alcalinos
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De óxido sólido
A eficiência e o custo de produção têm melhorado com o avanço tecnológico e a escalabilidade industrial.
Aplicações do hidrogênio verde
Indústria
O hidrogênio verde pode substituir o hidrogênio cinza em processos como:
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Produção de amônia para fertilizantes.
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Geração de aço verde na siderurgia.
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Fabricação de metanol.
Transporte
Em veículos movidos a célula de combustível de hidrogênio, a eletricidade gerada pelo gás move o motor, com emissão de apenas vapor d’água. A tecnologia é especialmente indicada para:
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Caminhões e ônibus de longa distância.
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Trens e navios.
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Aviação com combustíveis sustentáveis (SAF).
Energia
O hidrogênio atua como armazenador de energia, compensando a intermitência de fontes solar e eólica. Pode ser usado em períodos de baixa geração ou alta demanda, garantindo estabilidade ao sistema elétrico.
Vantagens e desafios
Vantagens | Desafios |
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Zero emissão de CO₂ | Custo elevado de produção |
Ampla aplicação industrial e energética | Falta de infraestrutura de transporte e logística |
Armazenamento de energia em larga escala | Eficiência energética ainda em evolução |
Redução da poluição urbana | Exigência de protocolos rígidos de segurança |
Independência energética no longo prazo | Necessidade de políticas públicas robustas |
O Brasil já conta com iniciativas públicas e privadas em desenvolvimento, incluindo:
Petrobras
Está construindo sua primeira planta-piloto de produção de hidrogênio renovável, como parte da estratégia de transição energética da estatal.
Hub de hidrogênio no Porto do Pecém (CE)
O Ceará lidera com projetos ambiciosos para exportar H₂V, aproveitando sua localização geográfica e abundância de vento e sol. O estado já atraiu empresas europeias e asiáticas para instalação de eletrolisadores no porto.
Outras iniciativas
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Bahia e Rio Grande do Norte também planejam hubs de produção.
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Empresas como Vale, Yara, Fortescue e Unigel estudam plantas de produção em grande escala.
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Universidades e centros de pesquisa desenvolvem projetos de eficiência em eletrolisadores e novas rotas de produção via biomassa.
Panorama global e posicionamento do Brasil
A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que o hidrogênio verde pode representar 10% da demanda energética mundial até 2050. O Brasil, com sua matriz renovável e projetos estratégicos, tem condições de se tornar exportador relevante para a Europa e Ásia, regiões com forte demanda e menores capacidades produtivas.
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