Casas, templos, palácios e afins – o legado do arquiteto Edgard Nascentes Coelho em BH

O arquiteto Edgard Nascentes, nascido na cidade do Rio de Janeiro em 1853, diplomou-se pela Escola Nacional de Belas-Artes, sediada na então capital federal. Transferiu-se para Belo Horizonte em 1894, onde trabalhou na seção de arquitetura da Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) até 1897, sendo autor de notáveis projetos para edifícios públicos na cidade. Após a extinção da CCNC, foi nomeado desenhista na prefeitura e, posteriormente, transferiu-se para a Secretaria de Agricultura.

Sua atuação profissional, tanto no poder público quanto na iniciativa privada – que também pautou sua exuberante produção arquitetônica na capital mineira – foi marcada pela capacidade inigualável de projetar praticamente todos os tipos de edificações necessárias ao funcionamento de uma cidade: templos, palácios, residências, assim como edifícios governamentais, militares, educacionais, fabris, de lazer, entre outros.

Residência do ex-prefeito José Oswaldo Araújo, atual escritório de Gustavo Penna Arquitetos & Associados, localizado na v. Álvares Cabral, n. 414. (Crédito: GPA&A / Daniel Mansur).

Enquanto integrante da CCNC e adotando o ecletismo como linha de criação, Nascentes elaborou diversos projetos de grande porte para a capital mineira: a antiga Estação Ferroviária Central (1896), demolida; o Palacete do Secretário de Finanças de Minas Gerais (1897), atual Arquivo Público Mineiro; o Quartel do 1º Batalhão da Polícia Militar (1897); a Escola Normal (antigo Fórum), atual Instituto de Educação (1897); a Faculdade de Direito (1896) demolida; e a antiga Câmara dos Deputados (cerca de 1896), demolida.

A igreja São José, projetada por Edgard Nascentes Coelho em 1901, é um dos mais suntuosos templos em estilo eclético de influência neogótica da capital mineira. (Crédito: Belotur / Reprodução).

Paralelamente ou após os trabalhos da CCNC, ele projetou vários edifícios representativos da paisagem inicial da cidade: o Grande Hotel (1897), demolido; a Companhia Industrial de Belo Horizonte (1898), posterior 104 Tecidos; a Igreja de Santa Efigênia (1900); a antiga Santa Casa de Misericórdia (1900), demolida; a Igreja Sagrado Coração de Jesus (1900); a Igreja São José (1901); o Teatro Municipal (1909), demolido; e o antigo Colégio Izabela Hendrix (1909), demolido.

O antigo Palacete do Secretário de Finanças de Minas Gerais, projetado em 1897, atualmente abriga o Arquivo Público Mineiro, situado na Av. João Pinheiro, n. 372. (Crédito: Ulisses Morato).

Além das obras de uso público, no âmbito da arquitetura doméstica Nascentes Coelho criou alguns palacetes oficiais e várias residências particulares, tais como: o Palacete do Secretário de Finanças (1897), atual Arquivo Público Mineiro; o Palacete Vivacqua (1909), atual Museu da Cadeira Brasileira; a chácara do Sr. Estevão Pinto (1899); a residência do senador Benjamim de Lima (1899), demolida; e a casa do ex-prefeito José Oswaldo Araújo (1903), atual Escritório Gustavo Penna Arquitetos & Associados.

A antiga Faculdade de Direito (1896), que ficava na Praça da República (atual Praça Afonso Arinos). Edificio demolido. (Crédito: Cartão-postal / Reprodução).
A Escola Normal, projetada inicialmente em 1909 para abrigar o Fórum, foi reformada em 1930 para receber o atual Instituto de Educação, localizado na R. Pernambuco, n. 47. (Crédito: Cartão-postal / Reprodução).
O antigo Senado Mineiro ficava na Praça da República (atual Praça Afonso Arinos). Edificio demolido. (Crédito: Cartão-postal / Reprodução).
A Companhia Industrial de Belo Horizonte (1898), posteriormente denominada 104 Tecidos, localizada na Praça Rui Barbosa, foi a primeira grande fábrica de tecidos de BH. (Crédito: Raimundo Alves Pinto)

Edgard Nascentes Coelho, que foi casado com Adélia Zoe Renault, residiu e teve escritório na Rua Espírito Santo, n. 1192 – um ponto central da cidade e estratégico para a gestão de seus projetos e obras. Além de ter sido um dos mais importantes criadores da paisagem arquitetônica inicial de Belo Horizonte, Nascentes Coelho inspirou três dos seus dez filhos a seguirem a sua profissão: Dario Renault Coelho, Victor Renault Coelho e Dorito Renault Coelho. Assim como o pai, os seus filhos também se tornaram prestigiados arquitetos na capital mineira, atuando sobretudo entre as décadas de 1910 e 1930, período no qual criaram um vasto acervo de notáveis edificações públicas e privadas.

Em 1917, Edgard Nascentes Coelho, detentor de uma produtiva e exemplar trajetória profissional, faleceu em Belo Horizonte aos 64 anos, deixando um legado diversificado de obras arquitetônicas que atualmente integram o patrimônio edificado da cidade.

Conheça algumas obras projetadas por Edgard Nascentes Coelho

1. Palacete Vivacqua
O Palacete Vivacqua, projetado em 1909, situado na esquina da Rua Gonçalves Dias com a Rua Sergipe, atualmente abriga o Museu da Cadeira Brasileira. (Crédito: Rose Guedes).

No salão deste palacete – atual Museu da Cadeira Brasileira – a ilustre família Vivacqua promoveu inúmeros encontros, nas décadas de 1920 e 1930, dos quais participava a elite intelectual de Minas Gerais. Personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Abgar Renault, Milton Campos e Guimarães Rosa eram presenças frequentes nessa nobre residência de arquitetura eclética. A dançarina, atriz, escritora e feminista Dora Vivacqua (1917-1967), popularmente conhecida como Luz del Fuego, também residiu no palacete.

2. Quartel do 1º Batalhão da Polícia Militar
Quartel do 1º Batalhão da PMMG (1897) – Praça Floriano Peixoto, Santa Efigênia, BH. (Crédito: Guia do Bem).

O Quartel do 1º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, localizado na Praça Floriano Peixoto, no bairro Santa Efigênia, foi uma das primeiras edificações de Belo Horizonte. No início de 1897, sob a direção do Conde de Santa Marinha, foi iniciada a sua construção. No entanto, em abril de 1898, um incêndio de grandes proporções destruiu a maior parte da edificação. Após passar por obras de recuperação, o quartel foi inaugurado em maio de 1899.

3. igreja Sagrado Coração de Jesus
Igreja Sagrado Coração de Jesus, situada na Av. Carandaí, n. 1010. (Crédito: Ivan Capdeville Junior).

A Igreja do Sagrado Coração de Jesus, projetada em 1901 e inaugurada em 1920, é considerada o segundo templo católico da capital. A majestosa construção – concebida em estilo eclético de inspiração neogótica e atualmente integrante do patrimônio cultural do município – foi executada em terreno doado por Aarão Reis, engenheiro-chefe da CCNC, e promovida por Anna Adalgisa de Aquino Salles, esposa do ex-presidente do Estado, Francisco Salles, a qual arrecadou os fundos necessários.

4. Casarão Aristides de Paula Ferreira (atual EMEI Timbiras)
Casarão Aristides de Paula Ferreira – esquina Timbiras / Espírito Santo / Av. Álvares Cabral. (Crédito: Ulisses Morato).

Este suntuoso casarão com porão alto foi projetado em 1907, em estilo eclético de inspiração neoclássica, para Aristides de Paula Ferreira. A construção, que atualmente abriga parte da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Timbiras, destaca-se no contexto urbano por desenvolver sua fachada – repleta de janelões emoldurados – rente às calçadas das três vias que conformam a esquina: as ruas Timbiras e Espírito Santo e a Av. Álvares Cabral.

5. Casa na Avenida Brasil
Casa na Av. Brasil, n. 1087 – exemplar da arquitetura eclética de BH. (Crédito: Guia do Bem).

Esta charmosa casa, localizada na Av. Brasil, n. 1087, foi projetada em 1907 e chama a atenção por dois aspectos pouco comuns em sua época de construção: o afastamento frontal, que propiciou um jardim na frente da casa; e o seu telhado à vista, que apresenta três águas cortadas. Por outro lado, o porão alto e o alpendre lateral, guarnecido por lambrequim e guarda-corpo rendilhado em ferro fundido, são elementos típicos das casas ecléticas dos primórdios da capital mineira.

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