Programa ambiental recebe verba internacional para preservação do mico-leão-preto no Pontal do Paranapanema


Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus)
Instituto de Pesquisas Ecológicas
Na edição de estreia do Fundo de Reintrodução de Espécies, da Colossal Foundation em parceria com a Re:wild, o Programa de Conservação do Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), na região do Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste Paulista, está entre os projetos escolhidos para receber o valor de US$ 50 mil, o equivalente a mais de R$ 270 mil.
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O fundo apoia com recursos financeiros e colaboração técnica iniciativas que atuam por meio da reintrodução e da translocação para fortalecimento populacional de espécies ameaçadas de extinção e, assim, beneficiar também o hábitat e as comunidades.
O fundo da Fundação Colossal/Re:wild se posiciona como o único inteiramente dedicado a apoiar projetos de refaunação e reintrodução de espécies selvagens em todo o mundo. Com esse foco, o fundo otimiza parcerias e recursos para maximizar o sucesso e ampliar o impacto das ações de conservação. Os projetos serão apoiados por até 12 meses consecutivos, com solicitações de subsídios de até US$ 50 mil por ano.
O programa, liderado há mais de 10 anos pela bióloga Gabriela Cabral Rezende, já realizou sete translocações. Segundo a pesquisadora, apesar de todos os desafios, a translocação é a ferramenta mais vantajosa para populações em risco de extinção em decorrência de tamanho populacional reduzido e baixo fluxo gênico.
“Sempre tivemos clareza de que o manejo das populações ameaçadas de mico-leão-preto, por meio da translocação e da reintrodução, é uma estratégia fundamental não apenas para salvar a espécie, mas também para restaurar a diversidade funcional de seu hábitat nativo — a Mata Atlântica brasileira. Mas esse trabalho exige profundo conhecimento técnico e a coragem de assumir riscos significativos. Ter parceiros como o Fundo de Reintrodução de Espécies da Fundação Colossal nos empodera a enfrentar esse desafio e nos aproxima de garantir que essas populações se afastem cada vez mais da extinção”, explicou Gabriela.
Confira as espécies-alvo dos programas que vão receber recursos do Fundo de Reintrodução de Espécies, da Colossal Foundation/Re:wild:
Jabuti-do-bolson (Gopherus flavomarginatus) — Criticamente Ameaçada; Novo México, Estados Unidos; Fundo Turner para Espécies Ameaçadas;
Mico-leão-preto — Ameaçada; Brasil; IPÊ;
Condor-da-califórnia (Gymnogyps californianus) — Criticamente Ameaçada; Idaho, Estado Unidos; Tribo Nez Percé;
Skiffia-dourada (Skiffia francesae) — Extinta na Natureza; México; Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo;
Faisão-do-vietnã (Lophura edwardsi) — Criticamente Ameaçada; Vietnã; Associação Europeia de Zoológicos e Aquários e Viet Nature; e
Sapo-arlequim-de-wampukrum (Atelopus sp.) – Criticamente Ameaçada; Equador; Centro Jambatu.
Utilização do dinheiro
Com o apoio do Fundo da Colossal Foundation/Re:wild, o Programa de Conservação do Mico-leão-preto terá condição de expandir as translocações para outros fragmentos que precisam de suplementação ou ainda de reintrodução da espécie.
Para fevereiro de 2026, já está marcada a oficina do Grupo de Acompanhamento do Programa de Manejo Populacional dos Micos.
“Até o fim deste ano, vamos acumular o arcabouço teórico para levarmos à reunião de fevereiro. Vamos trabalhar com as informações de viabilidade populacional mais atualizadas (aumentamos as capturas e amostras coletadas). Com esse trabalho do grupo envolvido no programa, conseguiremos ter uma visão melhor em termos de genética e tamanho das populações e, principalmente, pensar nas urgências. Isso inclui olhar para as populações que estão em risco, mas também para populações-fonte, ou seja, de onde devem vir esses animais, pensando no resultado no médio e longo prazo, nas misturas genéticas que vamos promover. A ideia é chegar a essas conclusões junto com esse grupo de especialistas que acompanha o Programa de Manejo Populacional dos Micos, a partir dessa oficina em fevereiro”, explicou Gabriela.
Gabriela Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto
Instituto de Pesquisas Ecológicas
Ela antecipa sobre a quais populações de micos-leões-pretos se refere.
“Precisamos entender a situação de algumas populações (incluindo da Estação Ecológica Caetetus/Fundação Florestal), confirmar a extinção local de micos-leões-pretos em três fragmentos da Estação Ecológica Mico-leão-preto (ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e avaliar a qualidade do hábitat, bem como as potenciais ameaças nesses fragmentos da ESEC. Também precisamos avaliar outras populações como potenciais populações-fonte para futuros manejos. Afinal, do ponto de vista genético os micos não podem sair sempre do Parque Estadual do Morro do Diabo (Fundação Florestal), precisamos ter outras populações-fonte”, disse a coordenadora.
A expectativa é a de que o próximo grupo será translocado no segundo semestre de 2026, durante a estação chuvosa, quando há maior oferta de alimento.
Histórico das translocações
A primeira translocação do Programa de Conservação do Mico-leão-preto ocorreu em 1995 e outras quatro seguiram ocorrendo até 2008. Na época, essas ações de manejo, juntas, movimentaram 22 micos-leões-pretos para a Fazenda Mosquito, no Pontal do Paranapanema, em um fragmento onde a espécie não estava mais presente.
“Alguns micos vieram da Fazenda Rio Claro, em Lençóis Paulista (SP), e outros de fragmentos que foram desmatados na região de Buri (SP). O IPÊ acompanha esses micos na Mosquito desde então e sabemos que essa nova população conseguiu se estabelecer e permanecer na área”, contou Gabriela.
Neste mês de agosto, o Programa de Conservação do Mico-leão-preto também aprovou outra proposta para viabilizar o estudo de 30 anos depois da primeira translocação na Fazenda Mosquito, no Pontal do Paranapanema.
“Vamos realizar um censo para avaliar se essa população já é viável e autossustentável ou se precisamos de mais translocações para garantir sua existência no longo prazo”, disse Gabriela.
A expectativa é de que o estudo tenha início ainda neste ano. Os primeiros resultados devem ser divulgados em 2026.
As translocações mais recentes
Em janeiro de 2024, o programa iniciou um novo ciclo de translocações com um grupo da população-fonte do Parque Estadual do Morro do Diabo, que teve como destino o fragmento florestal da Fazenda San Maria, também no Pontal do Paranapanema.
“Escolhemos a população do fragmento como alvo de nossa ação porque ela apresenta sérios riscos de se extinguir nos próximos 10, 20 anos, por conta de seu tamanho reduzido e da baixa variabilidade genética. Suplementando essa população, levando mais micos para lá, ganhamos tempo para, a partir da restauração de corredores florestais, conseguirmos a conectividade funcional com outras áreas de floresta da região, o que pode levar 20, 30 anos. Já temos observado declínio nessa população e precisávamos agir com urgência para evitar essa extinção local”, revela a coordenadora.
Em janeiro de 2025, um novo grupo foi translocado e uma semana depois veio a notícia da perda da fêmea-alfa. O fato desestabilizou o grupo, desencadeou uma cadeia de eventos e forçou os animais a buscarem novos arranjos sociais.
“Após a morte dela, o macho-alfa se separou dos dois subadultos e ficamos bastante preocupados com suas perspectivas de sobrevivência. Continuamos monitorando ambos os grupos de perto usando seus colares VHF e, em maio, iniciamos os esforços de recaptura para substituir os colares”, contou Gabriela.
Equipe do Programa de Conservação durante a soltura dos micos-leões-pretos
Instituto de Pesquisas Ecológicas
A equipe já identificou a formação de um novo casal: do macho translocado em 2024 com fêmea subadulta do grupo translocado em 2025. Recentemente, os pesquisadores também identificaram a formação de um novo grupo do macho-alfa da translocação de 2025 com duas fêmeas: uma do grupo translocado de 2024 e a outra da população da San Maria mesmo.
“Em resumo, atingimos outro indicador de sucesso: a formação de novos grupos. E tudo isso aconteceu mais rápido do que esperávamos, provavelmente impulsionado pela instabilidade social causada pela perda da fêmea-alfa. Agora, aguardamos ansiosamente o próximo capítulo… Esperamos que ambos os novos grupos tenham filhotes durante a próxima temporada reprodutiva”, disse Gabriela.
Programa de Manejo Populacional
O programa é desenvolvido por um grupo de especialistas para definir estratégias de manejo voltadas à conservação de espécies ameaçadas de extinção, como o mico-leão-preto, seguindo as diretrizes da Instrução Normativa nº 5/2021, do ICMBio. O Programa de Manejo Populacional do Mico-leão-preto foi produzido em uma oficina participativa que ocorreu em março de 2023. O documento final consolidado do programa foi chancelado por todas as instâncias pertinentes e publicado no site do ICMBio em março de 2024, quando então passou a ser válido pelo prazo de 10 anos. É esse documento que passará por atualização em fevereiro de 2026 na oficina que Gabriela antecipou.
No Brasil, esta estratégia, quando aplicada a espécies ameaçadas de extinção em nível nacional, deve estar vinculada aos Planos de Ação Nacionais para Conservação de Espécies Ameaçadas, que abordarão o planejamento para conservação de cada táxon de uma forma integrada: um planejamento único que agregue todos os esforços direcionados àquela espécie no Brasil, abrangendo ações na natureza e em ambiente ex situ, quando cabível.
O manejo de populações de mico-leão-preto é uma ação presente no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-coleira (PAN PPMA/ICMBio), que é parte da estratégia nacional e global de conservação da biodiversidade.
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