Miriam Leitão toma posse na Academia Brasileira de Letras


Miriam Leitão toma posse na Academia Brasileira de Letras
Reprodução/Jornal Nacional
A jornalista e escritora Miriam Leitão tomou posse na Academia Brasileira de Letras na noite de sexta-feira (8), na sede da entidade, no Rio de Janeiro.
Nesta casa de tradições, todo novo acadêmico que chega é recebido por palavras. Que são faladas no discurso de boas-vindas.
“Com seu olhar ao mesmo tempo crítico e esperançoso…”, discursa Antonio Carlos Secchin, secretário geral da Academia.
Que são escritas no diploma que atesta a sua nova condição: imortal.
Palavras de carinho, de orgulho — no reconhecimento da família, na emoção dos novos colegas.
“Não há como explicar a emoção de estar ao lado dessa mulher tão presente na vida, tão resistente, tão transcendente”, celebra Fernanda Montenegro.
A posse de Miriam Leitão, décima segunda mulher a ingressar na ABL, também foi marcada por gestos. O mais simbólico deles, talvez, pôde ser lido na chegada dela ao salão nobre, acolhida por outras três imortais.
“A ABL tinha, sim, que renovar seus quadros, sua visão e trazer mais mulheres para fazer parte do nosso plenário”, afirma Rosiska Darcy.
Miriam foi eleita no dia 30 de abril para ocupar a vaga do cineasta Cacá Diegues, morto em fevereiro.
Ao longo de pouco mais de três meses, se dividiu entre as demandas diárias do ofício e uma pesquisa aprofundada sobre a vida dos imortais que ocuparam a cadeira de número 7 antes dela. Entre as coincidências, descobriu a história de pessoas que, assim como ela, lutaram pela democracia e foram perseguidas pela ditadura militar. Dos dez ocupantes da cadeira, nove homens e apenas uma mulher.
“É pouco. É quase nada… em 128 anos de história. Entre o dia em que uma mulher assumiu a cadeira sete pela primeira vez, em 1981, e hoje, em que a segunda mulher toma posse na mesma cadeira, passaram-se 44 anos, quatro meses e um dia. É muito longo o tempo que pedem de nós. Eu reverencio todas as mulheres escritoras do Brasil. Nossa obra coletiva é imortal”, discursou Miriam.
A jornalista que escreve colunas, fala na TV, assina grandes reportagens, ganha prêmios, é também uma escritora de mão cheia. Já publicou 16 títulos. Entre eles, crônicas, textos infantis, reflexões sobre meio ambiente, a história da economia brasileira. Uma produção variada, de uma mulher que sempre amou as palavras e foi trazida por elas até o ponto mais alto da nossa literatura.
“Ela participou da história da comunidade Krenak ao longo dos últimos 30 anos, quando nós tivemos que defender o Rio Doce, que é o mesmo rio dela. Nós somos do mesmo rio. A Miriam é grande. Bem-vinda, Miriam”, celebra o também imortal Aílton Krenak.
Filha de uma família de origem humilde do interior de Minas, Miriam cresceu dividindo com os pais e com os 11 irmãos o amor pela leitura. Recitavam poesias de Castro Alves, patrono da cadeira que ela agora ocupa.
Semeando livros, informação, conhecimento, Miriam Leitão é a prova imortal do poder vivo que a palavra tem.
“Essa casa é uma casa que defende a língua portuguesa, defende a literatura. Mas esse é um país multiétnico e multilíngue. Então é preciso também, junto com Aílton Krenak, quem sabe buscar os outros idiomas falados no Brasil. Quem sabe trabalhar nisso também. Eu tenho tanto o que fazer aqui com essas pessoas nesse momento, então eu vou sentar com eles pra ver qual é a tarefa, qual é a pauta”, conclui Miriam.
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