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Nas pistasA transmissão que não depende de ensinamentos formais, mas da convivência, está presente na trajetória do administrador de empresas Pedro Rebouças e seus dois filhos, Pedro Herculano e Diego Rebouças. Desde a década de 1990, o patriarca da família corre. Começou aos 38 anos, depois do trabalho, dando voltas no Dique do Tororó, em Salvador. A prática virou hábito, depois virou tradição.O maior sonho dele era correr a São Silvestre com os dois filhos. “Em 2021, a gente conseguiu. Corremos os três juntos”, conta Pedro, hoje com 71. A relação com o esporte, segundo ele, sempre foi menos sobre competição e mais sobre união.“Todo aniversário dele, Dia dos Pais, tem que ter corrida em família”, diz Diego, de 40 anos, que admite não ser o mais empolgado quando o assunto é corrida. “Mas faço questão de acompanhar meu pai, a minha maior motivação é a alegria dele”.Pedro Herculano, de 45 anos, transformou a prática herdada pelo pai em hábito de vida. Ele se prepara para correr a Maratona de Berlim em setembro e lembra com carinho da primeira vez em que acompanhou o pai numa prova oficial. Ele tinha 17 anos na época. “De lá para cá, corremos meia maratona, maratona inteira, longões de fim de semana”, conta. “A corrida virou uma meta conjunta”.As pistas uniram pai e filhos, mesmo com a distância geográfica entre eles. Morando em Maceió, Alagoas, Pedro e Diego mantêm uma rotina intensa de treinos, e quando estão juntos em Salvador priorizam momentos como a corrida tradicional da família, que sai do Porto da Barra até o Rio Vermelho, com banho de mar na volta.Cada um tem seu ritmo e objetivos. Diego, por exemplo, é atleta de Ironman, uma das provas mais desafiadoras do triatlo, composta por natação, ciclismo e corrida em sequência e sem pausas. Eles contam que, ao longo dos anos, os papéis se inverteram. No início, os filhos tinham dificuldade para acompanhar o ritmo do pai. Hoje, com a diferença de idade, são eles que ajustam o passo para correr ao lado dele.Em uma das maratonas, por exemplo, Pedro Rebouças abriu mão do próprio tempo para acompanhar Diego, que estava com dificuldades. Em outra, os filhos reduziram o ritmo na São Silvestre para que o pai, recém-operado, pudesse participar. “É assim que a gente funciona”, resume Pedro Herculano.Nos campos
| Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
Assim como na corrida, no futebol a presença do pai desde cedo ajudou a moldar a relação afetiva e os interesses do filho. O cantor baiano Falcão conta que cresceu em um ambiente onde o futebol era parte da rotina, influenciado pelo pai e por amigos da escola.Torcedor do Esporte Clube Vitória, ele fez questão de incluir o filho Guilherme Falcão nesse universo desde cedo. Ainda pequeno, com dois anos, Guilherme já frequentava o Barradão ao lado do pai.Mesmo quando Falcão estava longe de casa por causa do trabalho, o interesse do jovem pelo futebol seguia firme. O menino passou a frequentar as competições por conta própria e a acompanhar o time com regularidade. “Foi aí que eu percebi que a paixão era minha também”, afirma Guilherme. Hoje, aos 17 anos, é ele quem liga para o pai sempre que o Vitória entra em campo.As camisas do time também fazem parte da relação entre os dois. Falcão passou toda a coleção para o filho, que costuma vestir uma diferente a cada dia da semana. As conversas sobre escalações e resultados continuam sendo parte do dia a dia. Mesmo após se mudar de Salvador, Guilherme intensificou a presença nos jogos do Vitória, incluindo partidas como visitante.Durante a infância, ele chegou a jogar em escolinhas, participou de campeonatos e foi bolsista por meio do futebol. Hoje, a prática virou lazer, mas o envolvimento com o time permanece. As lembranças mais fortes que guarda com o pai têm relação direta com o clube: uma delas foi o título da Série B em 2023. “Meu pai me ligou no final do jogo e foi super emocionante”, conta o jovem.Para Falcão, o futebol tem um papel claro na relação com o filho. Ele acredita que esse tipo de interesse em comum ajuda a manter vínculos, mesmo com a distância. A forma como a paixão pelo esporte foi transmitida entre gerações, segundo ele, é algo comum. “O futebol, em sua grande maioria, é uma herança de pai pra filhos”.Nas relaçõesO voo solo de Guilherme é atravessado por lembranças que reafirmam os vínculos construídos ao lado do pai. O mesmo aconteceu com Julie de Assis. A confirmação de que a música seria um caminho para ela veio cedo, durante uma turnê de São João que Cicinho faria. A mãe tentou impedir a viagem, preocupada com os riscos, mas Julie, decidida, passou por baixo dos braços dela. “Saí correndo e disse para ela que aquele era o meu destino”, conta a cantora.Desde então, pai e filha mantêm uma parceria que se fortaleceu com o tempo e virou também projeto artístico. Eles apresentam juntos o show De pai pra filha, realizado principalmente durante as festas juninas. Na preparação para as apresentações, trocam ideias sobre repertório e discutem a melhor dinâmica para o palco. Julie reconhece no pai não apenas influência musical, mas também traços de personalidade. “É muito comum que eu ouça que eu sou igual a ele”.Para Bruno Matos, a relação com o pai foi o espaço que encontrou para errar, testar e questionar. “Isso fez toda a diferença no meu aprendizado”, diz. O título que dá nome à marca de sorvetes de Bruno reflete o impulso de criar algo próprio, mas sem abandonar as raízes: “Forasteiro também é uma homenagem ao meu pai, porque ele sempre foi um forasteiro: inovador, inquieto e curioso”.Para a família Rebouças, a paternidade de Pedro se expressa nas pistas de corrida. Diego se lembra das várias vezes em que o pai, mesmo estando em melhor forma, reduzia o ritmo para acompanhá-lo e lhe trazer água durante a prova. “Esse é quem ele é”, afirma com orgulho. No fim de cada competição, o beijo do pai e o almoço em família são as maiores recompensas. “Porque o importante é estar junto”, resume Pedro Herculano.