No futebol, você pode ter um elenco milionário, um centro de treinamento de padrão europeu, a camisa lavada com sabão importado e a foto no media day do Grupo City. Mas, se lá atrás, entre as traves, o sujeito que veste a 1 não transmite confiança nem para fechar o portão de casa, todo o sonho vira pó. E o Bahia 2025 é a prova viva dessa máxima.A torcida já está cansada de engolir falhas de Marcos Felipe e Ronaldo. Falhas repetidas, falhas decisivas, falhas que custam pontos — e, em alguns casos, a própria dignidade defensiva do time. O vexame mais recente foi de Ronaldo, que conseguiu transformar um chute defensável no terceiro gol do Fluminense, no empate em 3 a 3, na Arena Fonte Nova, pela 17ª rodada do Brasileirão. Não foi azar, não foi “mérito do adversário”. Foi pura inoperância.E aí entra a pergunta incômoda: cadê Cadu Santoro, o homem que deveria pensar o futebol do Bahia com o rigor que se espera de um clube gerido pelo bilionário Grupo City, além de estar passando vergonha mundial ao negociar com Patrick Sequeira, do minúsculo Casa Pia? Como é possível investir tanto em marketing, campanhas, e até contratar técnico medalhão como Rogério Ceni, mas negligenciar a posição mais sensível do jogo? Sem goleiro confiável, não existe projeto, existe só ilusão bem embalada.Boas lembranças não tem preço O torcedor do Bahia sabe bem o que é ter segurança lá atrás. Em 1988, na campanha do bicampeonato brasileiro, Sidmar começou o torneio fechando o gol até sair para a Portuguesa durante a parada da competição. Quem entrou no lugar? Ronaldo Passos, que manteve a muralha de pé e garantiu a qualidade no momento mais decisivo do campeonato. Jean Paulo Fernandes, nos anos 90, também deu segurança ao Tricolor em momentos importantes. E Emerson Ferretti, além de ser referência técnica, foi peça fundamental na conquista do bicampeonato da Copa do Nordeste, provando que goleiro bom é o que aparece quando mais se precisa. Esses nomes não só defendiam bolas — defendiam a história do Bahia.O contraste dói ainda mais quando olhamos para fora. Em 1994, Taffarel foi decisivo para o Brasil conquistar o tetracampeonato — defendeu pênalti contra a Holanda, manteve a calma em jogos nervosos e carimbou seu nome na eternidade. Manuel Neuer fez o mesmo para o Bayern e para a Alemanha, sendo protagonista na Champions League e no Mundial de 2014. E aqui, no “projeto Bahia-City”, seguimos com um rodízio de goleiros que parecem escolhidos em peneira de campeonato de bairro.Sem segurança no futuro O Bahia de Cadu e do Grupo City quer falar de futuro, mas ainda tropeça no básico. Rogério Ceni, que viveu grande parte da carreira sendo referência como goleiro, precisa ser cobrado por aceitar esse nível técnico na meta. Porque, no futebol, sem goleiro não se sonha com título, com Libertadores ou com nada. No máximo, sonha-se com a próxima falha — e, infelizmente, ela não costuma demorar.O que mais precisa acontecer? O que mais o Bahia precisa perder? O que precisa pagar pra ver para entender a importância de se contratar um goleiro? E, se for necessário gastar alto, que se gaste. Até porque, se ser do Grupo City não é isso, sinceramente, não sei mais pra que ser SAF de uma gigante.
Bahia sem goleiro: falhas, omissão e um projeto que tropeça no básico
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