
Rachaduras em casa do bloco B, interditada por risco de desabamento há oito anos
Mobiliza Moras/Acervo
Em meio ao anúncio da ampliação da moradia estudantil da Unicamp, na sexta-feira (8), os estudantes que vivem no complexo recebem a notícia com “felicidade”, mas denunciam problemas estruturais e organizacionais que afetam a vida dos moradores.
Superlotação, fiação elétrica antiga, iluminação baixa, falta de segurança e sistema hidráulico desatualizado são problemas apontados por quem vive no alojamento no distrito de Barão Geraldo, em Campinas (SP).
A compra de uma área no valor de R$ 20 milhões para a ampliação da moradia foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consu) há três anos, e a formalização será oficializada em uma cerimônia de assinatura nesta segunda-feira (11).
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Inácio da Silva, representante discente da moradia, contou ao g1 que o local enfrenta falta de investimentos em reformas e já registrou casos de assalto dentro da unidade.
“Por exemplo, a nossa fiação elétrica não contempla mais as necessidades atuais, as caixas d’água estão precisando serem trocadas pois não atendem mais os pré-requisitos estabelecidos pela Anvisa”, relatou.
O representante afirmou que a compra do terreno é um dos primeiros passos para a melhoria do espaço e para a democratização do acesso à educação.
“Os moradores estão muito felizes. Embora a gente saiba que muito difícil e que nós [que vivemos na unidade hoje] não estaremos aqui para viver a ampliação da moradia. Isso é muito importante, porque a gente tá ampliando o acesso ao estudo”, explicou Inácio.
➡️ O Programa de Moradia Estudantil oferece habitação gratuita a estudantes de baixa renda da Unicamp que morem fora de Campinas. Os alunos vivem em casas compartilhadas com outros estudantes, e também há a possibilidade de famílias viverem em estúdios.
Segundo a Unicamp, a moradia acolhe cerca de mil pessoas atualmente. Com a ampliação, a expectativa é que a universidade tenha capacidade para abrigar mais 1,4 mil alunos. Veja a nova área adquirida abaixo.
Vista aérea da moradia estudantil e a demarcação da área adquirida de 44 mil metros quadrados
Reprodução Unicamp
Superlotação
A ampliação é o caminho para solucionar uma das principais reivindicação dos moradores: a superlotação. Vivendo em cômodos pequenos e com somente um quarto, estudantes precisam fazer “gambiarras” e adaptar espaços para conseguir abrigar todo mundo.
“Geralmente não tem fila de espera porque nós nos organizamos para tentar abrigar todas as pessoas que precisam de vaga, então até mesmo quando consta no sistema que não há vagas, a gente recebe as pessoas, e essa é a consequência de estarmos lotados”, destacou Inácio.
Carolina Vega, residente no conjunto desde 2022 e representante discente da moradia, explicou que divide o espaço com mais três pessoas oficialmente contempladas pelo programa. Além delas, outros dois estudantes, que não têm vínculo formal com o programa, também precisam permanecer no local.
“É um lugar superlotado, eu acho desconfortável cinco pessoas em uma casa. Quatro pessoas eu já acho problemático visto que a moradia só tem um quarto e uma sala grande. Na minha casa, a gente conseguiu dividir a sala e ter mais um quarto”, relatou.
Segundo os próprios estudantes, a prática de realocar moradores que não são oficialmente contemplados pelo programa de habitação estudantil dentro do complexo é comum. Eles mesmos se organizam para acomodar todos que precisam permanecer na moradia.
“Tem muito estudante que está na moradia, mora lá, mas não é registrado pelo sistema porque a Unicamp [atualmente] não tem a quantidade suficiente de bolsas para a demanda que a gente tem”, disse Carolina.
Infiltrações são constantes, denunciam moradores
Mobiliza Moras/Acervo
Quartos divididos por cortinas
O estudante Miguel Camargo é um exemplo disso. Aluno de pós-graduação na Unicamp, ele relatou que precisou ficar hospedado na moradia, na casa de alguns amigos, por morar longe da universidade.
Miguel apontou a superlotação e a escassez de vagas como os principais problemas atuais da moradia. Para ele, o fato de os quartos serem divididos apenas por cortinas compromete a privacidade dos moradores e dificulta a criação de um ambiente adequado para os estudos.
“O perfil dos estudantes está mudando cada vez mais, e precisamos de políticas de permanência e moradia. Além disso, a especulação imobiliária e os alugueis são muito caros em Barão Geraldo, nos forçando a morar longe da universidade”, pontuou.
Miguel também ressaltou que considera o sistema de transporte público de Campinas “precário” e que, por não terem direito ao desconto na passagem, os alunos de pós-graduação enfrentam custos ainda maiores com deslocamento e aluguel.
Vazamento hidráulico na Moradia Estudantil
Carolina Vega
Novo terreno
O terreno, com cerca de 45,2 mil m², fica ao lado da atual moradia. Segundo a Unicamp, metade dessa área será destinada à construção das novas residências, enquanto a outra metade será ocupada por:
equipamentos de apoio administrativo;
espaços para atividades esportivas e culturais; e
desenvolvimento de projetos de extensão universitária.
O galpão já existente no terreno será adaptado para abrigar programas de extensão e atividades culturais.
A nova área também vai incluir espaços dedicados a grupos artísticos estudantis, como teatro, música e artes visuais, além da instalação de um refeitório e a utilização de áreas verdes para convivência, hortas comunitárias e um campo de futebol.
Além disso, o complexo contará com um núcleo integrado de assistência ao estudante, que reunirá estruturas voltadas ao atendimento das políticas de permanência dos alunos na universidade.
De acordo com a Unicamp, “a previsão é que num prazo de 18 meses sejam executadas as obras da área já edificada e, num período de aproximadamente quatro anos, esteja concluído o processo de construção das residências”.
Aprovação da compra
Antes da aquisição pela Unicamp, o terreno pertencia a uma empresa do setor de vedação industrial.
O aval para a compra ocorreu durante reunião do Conselho Universitário, órgão máximo de deliberação interna, em maio de 2023.
Na época, a Unicamp informou que o espaço se dividia entre 22,6 mil m² de área livre e 22,5 mil m² com edificações, com área construída de 4,5 mil m².
“O pagamento será realizado com recursos orçamentários já previstos no Plano Plurianual de Investimentos, acrescidos com suplementos da reserva. Desde meados de 2022, vem sendo realizados estudos para a ampliação de novos módulos domiciliares e reforma dos existentes. O processo de planejamento e construção na nova área está sendo incorporado a esses esforços e a previsão de início das obras será definida em breve'” disse a nota divulgada pela Unicamp à época.
O que diz a Unicamp
Em nota, a Unicamp comunicou que “tem ciência dos problemas relatados pelos alunos e sempre reconheceu a necessidade de realizar melhorias estruturais em sua moradia estudantil, as quais são implementadas regularmente, de acordo com as solicitações, pelas equipes de manutenção da universidade”.
Também ressaltou que houve um aumento natural no número de pedidos em razão do incremento das políticas institucionais de inclusão e permanência, sobretudo a partir de 2014.
“É importante registrar ainda que a Unicamp oferece bolsa auxílio moradia àqueles estudantes que não são contemplados com vagas na residência universitária. A compra do terreno vizinho à atual estrutura faz parte do plano de expansão para atender à demanda por vagas adicionais. As questões de segurança são revistas, reavaliadas e discutidas com frequência com os integrantes do Conselho Deliberativo da Moradia”, finalizou.
*Estagiárias sob supervisão de Marcello Carvalho e Gabriella Ramos.
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