Estudo aponta potencial do Rio para se tornar polo global de data centers e inteligência artificial

O Rio de Janeiro quer se tornar um dos dez maiores polos de inteligência artificial (IA) do mundo até 2032. Essa é a ambição do projeto Rio AI City, que prevê a construção de um complexo de data centers com capacidade energética de até 3,2 gigawatts, operando exclusivamente com energia limpa e renovável.
A iniciativa, liderada pela Elea Data Centers e apoiada pela Prefeitura do Rio, pretende atrair bilhões de dólares em investimentos, gerar mais de 10 mil empregos qualificados e consolidar a cidade como referência global em infraestrutura digital.
Nesta terça-feira (12), no Rio Innovation Week 2025, a consultoria global BIP apresentou um estudo inédito que avaliou as qualidades e desafios da cidade para se consolidar nesse mercado.
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Segundo Eduardo Augusto Blascovi Pozzi, diretor da BIP no Brasil, a análise utilizou metodologias internacionais da empresa e dados coletados nos escritórios da Itália, Espanha, Reino Unido e Brasil para medir o nível de atratividade do Rio para investimentos desse porte. O levantamento considerou o Rio como “atrativo” para o setor.
“O Rio de Janeiro hoje está em 3,5 (nota), entre atrativo e muito atrativo. Já faz sentido investir aqui, até por isso a Elea está investindo. Temos mão de obra qualificada e uma localização estratégica”, afirmou Eduardo.
Para o especialista, o Rio conta com energia limpa e condições geopolíticas que facilitam a atração de investidores e de empresas que precisam desse serviço.
“A gente tem um ambiente natural e geopolítico estável. Deus não nos deu terremotos, vulcões, etc. Somos um país neutro, não temos guerras e nem inimigos. Temos disponibilidade de recursos humanos e recursos renováveis. Então, isso tudo nos torna um ambiente propício para esse tipo de indústria”, comentou Eduardo Pozzi.
Mercado de data centers e posição do Brasil
O levantamento mostrou que o mercado global de data centers é dividido em quatro modelos principais:
Enterprise: exclusivos para grandes empresas.
Colocation: compartilhados por várias empresas.
Hyperscale: operados por gigantes como Google e Amazon.
Edge: voltados para aplicações de baixa latência, como carros autônomos.
“O mercado de IA está explodindo neste momento. Latência é fundamental — quanto mais próximo o data center do usuário, mais rápido o processamento. Hoje, na América Latina, apenas São Paulo aparece entre as 20 cidades mais relevantes no mercado de colocation”, analisou Eduardo.
“O que é latência? É você clicar no teu celular e a tela mover imediatamente. Para a tela mover, não adianta só ter processador, você tem que ter rede, a rede tem que funcionar mais rápido. Quanto mais próximo o data center tiver do usuário, melhor”, explicou.
Segundo o estudo, o Brasil é relevante no cenário regional, mas ainda 27 vezes menor que os Estados Unidos nesse setor. A infraestrutura de telecomunicações do Rio, especialmente em backbones de saída, foi apontada como um ponto forte e difícil de replicar em outras cidades.
Desafios para consolidar o hub
A análise da BIP identificou pontos críticos que precisam avançar para o Rio se consolidar como hub de IA e data centers. Entre eles estão o acesso confiável e competitivo à energia, a ampliação da rede elétrica e de telecomunicações, a disponibilidade de terrenos com licenciamento ágil, além de mão de obra qualificada e incentivos fiscais adequados.
Desafios para a implantação de data centers no Rio:
Energia: embora o Brasil tenha uma matriz energética 83% renovável, o acesso à rede elétrica e o custo da energia ainda são pontos de atenção.
Infraestrutura: é necessário garantir terrenos adequados, facilidade de licenciamento e expansão futura.
Regulamentação: o excesso de regulação pode inibir a inovação. “Se eu controlar demais, posso ficar para trás de inovações que estão acontecendo”, alertou Pozzi.
Mão de obra: o Rio possui profissionais qualificados, mas precisa manter a qualidade de vida para evitar a fuga de talentos.
Conectividade: o acesso a backbones e redes 5G é essencial para garantir a operação dos data centers.
Energia é o maior custo na operação de um data center. É preciso que seja limpa, competitiva e confiável. Também precisamos de regulamentação que incentive a inovação sem travar o setor. Se controlarmos demais, ficaremos para trás”, alertou Eduardo.
O estudo também destacou a necessidade de facilitar a obtenção de licenças, garantir escalabilidade futura das instalações e aperfeiçoar a infraestrutura urbana para receber esses empreendimentos.
Pontos de atenção:
Licenciamento e conexão à rede elétrica: O processo de conexão de data centers à rede elétrica via ONS é moroso e pode levar meses ou até anos se seguir o trâmite padrão.
Custo da energia: Embora o custo da energia no Brasil seja competitivo, há discussões sobre subsídios e encargos que adicionam riscos ao setor.
Redundância e manutenção: Existem interrupções pontuais, mas também oportunidades de evolução nos sistemas de redundância, manutenções preventivas e monitoramento em tempo real.
Expansão de capacidade: A expansão da capacidade de conexão de grandes cargas é um processo lento, que pode limitar o desenvolvimento futuro dos data centers.
Estabilidade política e posição estratégica
Um ponto favorável ao Brasil, segundo a BIP, é sua estabilidade geopolítica e neutralidade nas disputas internacionais.
“O Brasil precisa continuar sendo um país neutro e favorável ao negócio, sem ideologia. Ninguém vai construir data center onde tem guerra ou ditadura. Precisamos manter um ambiente seguro e competitivo”, afirmou Eduardo.
A análise também cita a vantagem natural do país por não estar exposto a desastres como terremotos e vulcões, além de contar com abundância de recursos renováveis.
Regulação e legislação
Apesar do potencial energético e da infraestrutura já existente, o estudo da BIP apontou que a regulação favorável aos investimentos ainda é um dos principais desafios para o desenvolvimento do setor no Rio.
A obtenção de licenças ambientais, a previsibilidade nos prazos e a ausência de incentivos fiscais robustos são barreiras que precisam ser superadas.
Principais Iniciativas:
Marco Legal de Data Centers (ReData): segurança jurídica, atração de investimentos, incentivos fiscais e financiamentos
Regulamentação de IA no setor público e setores específicos
LICIN 2.0 e Grupo de Trabalho “Licenciamento Zero”: digitalização e simplificação do processo de licenciamento
PL nº 4669/2025: Política Estadual de Fomento à IA
Marco Legal da Inteligência Artificial (MLIA): princípios éticos, risco, governança, transparência, auditoria e conformidade para o uso responsável da IA
Revisão da Lei Geral de Proteção de Dados
Eduardo Pozzi também destacou a necessidade de avançar com o Redata, marco legal dos data centers, e com a regulamentação da inteligência artificial.
“Se a gente esperar ter tudo nacional, vai passar e a gente ficou para trás. Então a gente tem que entender a realidade e, se quer jogar, precisa jogar até o final do jogo”, argumentou.
Para ele, o Brasil precisa encontrar um equilíbrio entre segurança jurídica e estímulo à inovação, tornando-se um ambiente pró-negócios.
Avaliação final
No cenário atual, o Rio já se destaca no uso de energia renovável — 83% da matriz elétrica brasileira — e na qualidade das conexões de telecom. A meta, segundo o estudo, é avançar de 3,5 para 4 pontos, entrando no patamar “muito atrativo” globalmente, segundo a BIP.
“O Rio pode jogar esse jogo e ser protagonista no mundo de data centers. Temos energia renovável, backbones já instalados, qualidade de vida na região e mercado consumidor crescente. É um ciclo virtuoso: mais empresas atraem mais data centers, que atraem mais mão de obra e inovação”, disse Eduardo.
Pontos positivos para o Rio AI City:
Matriz energética brasileira com 83% de fontes renováveis;
Infraestrutura de telecomunicações;
Presença de backbones e redes com redundância;
Boa conectividade;
Região da Barra da Tijuca com terrenos disponíveis;
Facilidade de expansão futura e boa acessibilidade urbana;
Ambiente atrativo para profissionais qualificados;
Potencial para retenção de talentos no ecossistema de inovação;
Sistema elétrico robusto e confiável;
Capacidade instalada e potencial de expansão para grandes cargas;
Prefeitura engajada no fomento ao projeto;
Parcerias público-privadas em andamento;
Ambiente geopolítico estável;
Ausência de riscos naturais como terremotos ou vulcões.
A visão da Elea Data Centers
Para Alessandro Lombardi, presidente da Elea, o Rio AI City é parte de uma estratégia nacional para reduzir a dependência externa e repatriar dados brasileiros. Hoje, segundo ele, 60% dos dados do país estão armazenados nos Estados Unidos, principalmente na Virgínia.
“O Brasil é a segunda maior nação das Américas e uma das grandes democracias. Por que não tem a soberania dos seus dados? Queremos criar aqui uma base robusta de data centers, atrair big techs e transformar o Rio em um ecossistema global de inovação”, afirmou Lombardi.
A Elea prevê quatro unidades de IA no complexo da Barra da Tijuca — uma já em funcionamento, ainda dedicada à nuvem, e outras três em implantação. A empresa atua como âncora do projeto e espera atrair bilhões de dólares em investimentos e empresas para o Brasil.
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