
Carolina Arruda convive com a neuralgia do trigêmeo há mais de uma década
Arquivo pessoal/Carolina Arruda
Carolina Arruda, que convive há mais uma década com neuralgia do trigêmeo, conhecida como a “pior dor do mundo”, se recupera após uma série de procedimentos na Santa Casa de Alfenas (MG). A jovem deve permanecer no hospital até a quarta-feira (20). A informação foi confirmada ao g1 pelo médico responsável pelo caso da paciente.
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Nesta nova etapa do tratamento, a jovem fez uma série de cirurgias, incluindo:
Reposicionamento do neuroestimulador, dispositivo implantado para reduzir a percepção da dor;
Reabastecimento da bomba de infusão de medicamentos, que libera remédios continuamente e precisa ser recarregada a cada dois ou três meses;
Crioablação, técnica que “congela” o nervo em até -70ºC para interromper os sinais de dor enviados ao cérebro.
Logo após, a paciente entrou em sedação profunda com infusão de cetamina e ficou na UTI, sob monitoramento, de quinta-feira (14) a domingo (17).
Essa foi a segunda vez que Carolina Arruda ficou sedada na UTI do hospital. A primeira ocorreu no início do tratamento, quando a paciente permaneceu cinco dias em sedação para tentar controlar o sofrimento agudo. Na ocasião, ela relatou um alívio inédito, mas temporário.
Nesta internação, o medicamento usado foi a cetamina, comumente utilizado como anestésico e que, atualmente, também tem sido indicado para casos de dor crônica e depressão grave.
Conforme o médico responsável, estudos mostram que a cetamina pode aliviar a dor, reduzir o uso de opioides e melhorar o humor. Apesar de ter um efeito limitado em relação ao tempo, o procedimento é de baixo custo e risco.
“Ela [cetamina] age bloqueando receptores no sistema nervoso que amplificam os sinais de dor e, no caso da depressão, ajuda a restaurar conexões entre neurônios”, explicou Carlos Marcelo de Barros.
Médico de jovem com a ‘pior dor do mundo’ fala sobre nova etapa de tratamento na Santa Casa de Alfenas
Caso complexo
O quadro de Carolina Arruda é considerado de alta complexidade pela equipe médica devido à resistência da dor aos tratamentos convencionais.
“A Carolina ainda sofre muito com a dor. A gente não tem hoje perspectivas de novos e avançados tratamentos para ela. Acho que dentro da medicina praticamente já se esgotou. Existem possibilidades cirúrgicas, mas com riscos muito altos, que a própria paciente não quer se submeter a isso”, afirmou.
De acordo com o médico, os tratamentos realizados até agora não eliminaram totalmente a dor, mas trouxeram avanços importantes na rotina da paciente.
“De antes para depois do tratamento, ela passou a internar menos, conseguiu voltar para a faculdade, consegue exercer essa atividade dela que ela faz em redes sociais, mas ela ainda é uma paciente que sofre com dor incapacitante. E ultimamente ela tinha apresentado uma queda de performance, tanto na dor, quanto psicoemocional”, disse o médico em entrevista à EPTV, afiliada Globo.
E a vaquinha?
O caso de Carolina Arruda repercutiu nas redes sociais após ela criar uma vaquinha no dia 1º de julho de 2024. A campanha tinha como objetivo inicial arrecadar recursos para custear um processo de eutanásia na Suíça, país onde a prática é legalizada.
A meta estipulada era de R$ 150 mil. Até esta quinta-feira (19), a arrecadação somava R$ 145.225,19, o equivalente a 97% do valor, com a contribuição de 3.846 doadores.
Após o início do tratamento na Santa Casa de Alfenas, o destino da vaquinha foi alterado. Segundo a descrição da própria campanha, o recurso passou a ser voltado para custear despesas médicas no Brasil, como medicamentos, consultas, deslocamentos e adaptações em equipamentos implantados.
Na página, Carolina explica que decidiu dar prioridade às tentativas atuais de tratamento, colocando em segundo plano a ideia inicial da eutanásia.
“Decidi dar uma chance a esse tratamento como última alternativa antes de considerar outras medidas mais definitivas. Caso não haja uma redução de pelo menos 50% na dor, vou precisar reavaliar o caminho nos próximos anos”, escreveu.
De acordo com a própria paciente, os próximos passos ainda envolvem ajustes de medicamentos e possíveis novos procedimentos, em um processo que pode levar de três a quatro anos. A vaquinha, portanto, se mantém como uma forma de garantir os custos dessa jornada.
Histórico do tratamento
Carolina Arruda convive com a neuralgia do trigêmeo bilateral há mais de uma década. A condição é caracterizada por crises súbitas e intensas de dor facial, geralmente descrita como choque elétrico ou facada, causada pela irritação ou compressão do nervo trigêmeo. O caso de Carolina é raro por ser bilateral, refratário e atípico, o que dificulta o controle da dor.
Em julho de 2024, Carolina foi convidada para o tratamento na Santa Casa de Alfenas após a repercussão de sua vaquinha online, na qual buscava recursos para realizar eutanásia na Suíça, país onde a prática é legalizada.
Na primeira consulta, o médico apresentou pelo menos quatro opções de tratamento. Ao longo do processo, ela se submeteu a dois deles: o implante de uma bomba intratecal para administração de fármacos e o implante de neuroestimuladores. Entenda mais abaixo.
Carolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo e mostra nas redes sociais a rotina do tratamento na Santa Casa de Alfenas
Reprodução / Instagram
Pouco antes do implante dos neuroestimuladores, Carolina pediu alta temporária para visitar a família. Em entrevista ao g1, ela contou que a dor persistia, mas que a frequência e a duração das crises haviam diminuído.
Em 26 de julho, ela voltou para o hospital e recebeu, no dia seguinte, o implante dos neuroestimuladores: eletrodos para estimular o nervo e bloquear a transmissão da dor. Os dispositivos foram instalados na medula espinhal e no Gânglio de Gasser, origem facial do nervo trigêmeo.
No dia 17 de agosto, foi realizado o implante de uma bomba de medicamentos capaz de liberar os fármacos diretamente no sistema nervoso, reduzindo o trajeto até o ponto de dor. Inicialmente, ela recebeu morfina e depois fentanil.
Entenda como o bluetooth ajudou Carolina a controlar a dor disparando ‘impulsos bloqueadores’
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Mesmo ainda enfrentando “dores incapacitantes”, Carolina recebeu alta hospitalar no fim de agosto de 2024. Na ocasião, a Santa Casa de Alfenas informou que no momento não havia nova proposta terapêutica e que seguiriam com os ajustes necessários das terapias já implantadas. Ainda segundo o hospital, o plano de tratamento poderia ser reavaliado caso houvesse melhora no quadro clínico e psicoemocional da paciente.
Durante a internação, Carolina Arruda fez terapias adjuvantes como a eletro neuromodulação
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