Vacinas contra o câncer: inovação aponta para futuro promissor no tratamento da doença

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Uma fronteira em expansão

A ideia de usar vacinas contra o câncer não é nova, mas vem ganhando força nos últimos anos com o avanço das pesquisas. Em alguns países, já existem opções aprovadas para contextos específicos, como câncer de próstata e melanoma.

De acordo com o Dr. Ramon Andrade de Mello, oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, os resultados recentes mostram que a estratégia está mais próxima da prática clínica. “As vacinas contra o câncer representam uma das fronteiras mais promissoras da medicina. E a expectativa é que seu uso seja cada vez mais amplo conforme novas tecnologias chegam aos estudos clínicos”, afirma.

Como funcionam as vacinas terapêuticas

Ao contrário do que acontece com vacinas tradicionais, que previnem infecções, as vacinas contra o câncer têm caráter terapêutico. O objetivo é estimular o sistema imunológico a identificar e atacar células tumorais já existentes.

Há também as vacinas profiláticas, que reduzem o risco de câncer ao evitar infecções ligadas ao surgimento de tumores — como a do HPV, que previne o câncer de colo do útero, e a da hepatite B, que ajuda a reduzir o risco de câncer de fígado. Mas, quando se fala em “vacina para câncer”, geralmente se trata de abordagens usadas após o diagnóstico.

Diferentes estratégias em desenvolvimento

Hoje, as vacinas terapêuticas podem seguir caminhos distintos:

Antígenos tumorais compartilhados: utilizam proteínas presentes em células cancerígenas, mas ausentes nas saudáveis, para treinar o sistema imune. Têm vantagem de servir a muitos pacientes, mas podem falhar em tumores que não expressam fortemente aquele antígeno.

Vacinas personalizadas: desenvolvidas a partir da análise genética de cada tumor, criando um tratamento sob medida para cada paciente. São mais precisas, porém caras e demoradas para serem produzidas, o que limita seu uso em casos urgentes.

O papel do RNA mensageiro

Um estudo recente da Universidade da Flórida, publicado na Nature Biomedical Engineering, apresentou uma inovação: uma vacina baseada em RNA mensageiro capaz de ativar amplamente o sistema imunológico. Diferente das versões personalizadas ou dependentes de proteínas específicas, essa fórmula demonstrou eficácia em reduzir tumores em animais, inclusive em cenários de alta mutação.

“O grande diferencial é a ampla aplicabilidade. A mesma vacina pode atender diferentes pacientes e tipos de câncer, com resultados animadores”, destaca Dr. Ramon. Pesquisadores já trabalham para adaptar a tecnologia e iniciar testes em humanos.

Disponibilidade atual e perspectivas no Brasil

No Brasil, a única vacina terapêutica aprovada para uso é a BCG, aplicada em casos de carcinoma superficial de bexiga. Fora isso, outras imunoterapias, como anticorpos monoclonais e a terapia celular CAR-T, já estão disponíveis e têm mostrado eficácia em diversos tipos de câncer.

Ainda assim, as vacinas apresentam vantagens adicionais. Podem criar uma memória imunológica duradoura, reduzindo riscos de recidivas, e atuar contra múltiplos alvos tumorais. Além disso, funcionam bem em combinação com outros tratamentos, ampliando o potencial terapêutico.

Um novo paradigma na oncologia

Para o Dr. Ramon Andrade de Mello, esse avanço abre espaço para uma revolução na forma de tratar a doença. “Estamos diante de uma mudança de paradigma. As vacinas contra o câncer trazem a promessa de tratamentos mais eficazes, menos agressivos e capazes de oferecer esperança a milhões de pacientes em todo o mundo”, conclui.

Fontes

Dr. Ramon Andrade de Mello – Médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, pesquisador sênior do CNPQ e pesquisador honorário da Universidade de Oxford. Instagram: @dr.ramondemello

Estudo: Nature Biomedical Engineering – RNA cancer vaccine study

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