Ferro-velho: empresário é acusado de mortes, sumiços e torturas em Salvador

Quatro homicídios, quatro tentativas de assassinato, diversos casos de tortura e ameaças. Esse é o histórico criminal que pesa contra Marcelo Batista da Silva, empresário do ramo de ferro-velho, preso nessa terça-feira, 26, no bairro de Pirajá, em Salvador, durante uma operação realizada por equipes do Departamento de Homicidios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil. Ele está preso preventivamente e deve passar por audiência de custódia nessa quarta-feira, 27.Marcelo é apontado por vítimas e testemunhas como mandante e também executor dos crimes ocorridos em 2016 e 2024.As ações criminosas, segundo a PC, ocorriam dentro do próprio estabelecimento comercial e contavam com o suposto envolvimento de policiais. A polícia apura que o homem agia motivado por vigança, já que desconfiava que os funcionários estavam furtando materiais no ferro-velho.

Delegados Victor Spinola, Lígia de Sá, diretora do DHPP, e José Nélis de Araújo

|  Foto: Ag. A TARDE | Luan Julião

“O que é inusitado é que o acusado é pontuado em diversos procedimentos criminais. O que nós percebemos é que existe uma conexão nos fatos de que se trata de funcionários e que lhes são imputados supostos furtos”, explica o delegado José Nélis de Araújo, da 3ª Delegacia de Homicídios Baía de Todos-os-Santos (DH/BTS), do DHPP.Os crimes eram cometidos, em sua maioria, contra ex-funcionários e funcionários. Ele foi preso por atentar contra a vida de três homens, que seriam seus ex-funcionários, em 3 de novembro de 2024. Marcelo também é investigado pela tentativa de morte Joamilson Oliveira de Souza, em 2015. Embora tenha sobrevivido ao ataque, Joamilson morreu tempos depois. A polícia apura se o empresário tem envolvimento na execução dele.

Investigadores do DHPP tiveram dificuldades para acessar o ferro-velho

|  Foto: Divulgação Polícia Civil

“As vítimas [sobreviventes] compareceram ao departamento, fizeram o reconhecimento dele, inclusive, como autor dos disparos de arma de fogo, juntamente com outros envolvidos, os quais as vítimas apontam como supostos policiais. Esses policiais já estão sendo identificados novamente para que sejam chamados ao departamento, mas as vítimas apontam. Eles vivenciaram a cena de pânico muito grande, que foram feitos vários disparos”, contou o delegado. Mortes, torturas e extorsãoO empresário é apontado também como o responsável pelas mortes de Adson Davi do Carmo Santos, e da companheira dele, Priscila Cruz dos Santos, em 8 de novembro de 2015, em Boa Vista de São Caetano.Na ocasião, Joamilson Oliveira de Souza também foi baleado e sobreviveu. “O que é relevante é que a testemunha sobrevivente [Joamilson] depois é executada. Também é mais um dos casos que o DHPP apura para ver se ele [Marcelo] tem participação”, revelou Nélis Araújo.Em 21 de junho de 2016, Uanderson Xavier Dias, o Gordo, 22 anos, Clóvis Antônio Santana Junior, 22, e o primo dele, o soldado Polícia Militar Marcelo Durão Costa, 34, foram presos suspeitos pelo duplo homicídio e a tentativa.Além disso, Marcelo é investigado pelas mortes e ocultações dos corpos de Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento, 24, e Matuzalém Silva Muniz, 25. Na ocasião, os rapazes trabalhavam para ele e desapareceram no dia 4 de novembro de 2024.

Paulo Daniel e Matuzalém estão desaparecidos desde o dia 4 de novembro de 2024

|  Foto: Reprodução Redes Sociais

Conforme o delegado, as três tentativas de homicídio que aconteceram no dia 4 de novembro têm ligação com os sumiços de Paulo Daniel e Matuzalém.”Esse caso [tentativas] acontece às 18 horas, no dia 3 de novembro, 2024. O que vai acontecer é que o Matheus, que teria envolvimento nessa situação, não teria avisado do ocorrido na noite de domingo [3], quando então, as duas vítimas [Paulo Daniel e Matuzalém] não estão sabendo o que aconteceu e são surpreendidas dentro do ferro-velho. Os dois crimes têm conexão”, afirma ele.”Aliás, o que a polícia já chegou à conclusão de que existem acusações feitas pelo acusado que não fazem o menor sentido e de funcionários que passaram por tortura, que foram levados para o fundo do galpão e ali foram surrados. Funcionários que foram ameaçados para que pagasse um valor exorbitante pelo que foi subtraído do ferro-velho, que ele entendeu ter sido subtraído do ferro-velho. Existe ameaça contextualizada dentro do procedimento. E, por fim, funcionários que foram encontrados no ferro-velho e teriam sido executados, conforme a prova dos autos, foram executados e tiveram os corpos ocultados”, finalizou Nélis Araújo.Investigação e provas”A família vinha batendo à porta do departamento [DHPP] solicitando que fosse dada uma resposta. Porque a família procura a cura para o sofrimento dela e encontrou aqui o amparo. Então eles foram claros em entender que se sentiam ameaçados e que não tinham a resposta das instituições de segurança pública e aguardavam que a Secretaria da Segurança Pública e o Departamento de Homicídio dessem a resposta e hoje, finalmente, nós cumprimos o mandado de prisão do acusado”, contou o delegado.

Ainda conforme o responsável pelas investigações, a prisão de Marcelo foi embasa em provas substanciais. “A perícia no local, a perícia no veículo aponta que, de fato, o veículo que as vítimas estavam apresenta perfurações de arma de fogo. A seguir, as vítimas conseguem, com o veículo em movimento, escapar dos disparos que foram efetuados e procuram o departamento para que fosse dada justamente uma resposta”, esclareceu ele. Nélis Araújo seguiu: “Acredito que existem inúmeras provas que pontuam, que vão desde similaridades em exame de DNA, do que foi encontrado no veículo, as provas científicas, e também o fato de que vítimas, após a movimentação dos procedimentos, sofreram ameaça por parte do acusado”. A prisãoMarcelo Batista da Silva foi preso por força de mandado de prisão preventiva, no início da tarde dessa terça-feira, 26, no ferro-velho, que fica na Estrada de Pirajá, em Pirajá. Segundo o delegado Victor Spinola, do DHPP, o empresário tentou se esconder para evitar a prisão.

“Adentramos no ferro-velho e ele [Marcelo], juntamente com mais outros dois indivíduos, estava escondido no terceiro pavimento. Ele se escondeu embaixo de um armário, ele deitou debaixo desse armário e tentou ficar escondido. Mas, os policiais que acessaram esse terceiro pavimento conseguiram identificar que a mobília estava desalinhada, que tratava de um lugar que havia sido mexido, e aí levantaram esse armário e conseguiram visualizar ele”, revelou Spinola, afirmando que o homem não resistiu à prisão. Os outros homens serão investigados.

Marcelo reforçou as portas do ferro-velho para dificultar a entrada da polícia

|  Foto: Divulgação Polícia Civil

Ainda conforme o delegado, os investigadores tiveram dificuldades de acessar o imóvel, já que prevendo a ação policial, Marcelo reforçou as portas da empresa.”Ao chegar no local, tivemos bastante dificuldade, porque trata-se de um ferro-velho e, de forma bastante inteligente, bastante sagaz, ele dificultou acesso já prevendo que as forças policiais iam alcançá-lo. Então, tinha um gradis, o portão era bastante reforçado, dificultou a nossa entrada, mas a gente conseguiu fazer o movimento dos obstáculos que nos impediam”, celebrou Spinola o sucesso da operação. O que diz a defesa de Marcelo O advogado Paulo Vilaboim, responsável pela defesa do empresário, afirmou ter sido surpreendido com a nova decretação de prisão preventiva contra seu cliente. De acordo com ele, a medida foi “desnecessária”, especialmente pelo fato de Marcelo já ter tido uma prisão anterior revogada e estar utilizando tornozeleira eletrônica.

“Para mim, foi uma surpresa essa prisão, até porque ele já tinha uma prisão revogada, se encontrava usando tornozeleira. Uma prisão desnecessária, requerida e definida de forma desnecessária, porque ele acompanha todos os atos do processo”,

declarou o defensor

Vilaboim apontou ainda que Marcelo está preso inocentemente, já que não existe compra de que eele tentou matar as vítimas.”Ele responde a uma suposta tentativa de homicídio. Esse é o inquérito que tinha aí já um tempo antes do fato, em que pessoas foram furtar na empresa dele e pegou lá uma uma condutora de um veículo, que ia levar o material furtado. E ela vai [a vítima] dar uma queixa dizendo que é tentativa homicídio. Mas, o erro foi que a polícia não pegou ela e conduziu para a delegacia”, explicou ele.O defensor afirmou que em razão desse inquérito, Marcelo vinha comparecendo regularmente a todos os atos processuais, inclusive mantendo compromisso formal nesse sentido. “Ele está comparecendo certo, com certidão no processo, com tudo. Agora, esse inquérito ele nem sabia da existência. Nós fomos surpreendidos com esse decreto preventivo”, reafirmou.

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Questionado sobre os casos de homicídio e desaparecimento que também envolvem o nome de Marcelo, como o de Adson, Priscila, Daniel e Matusalém, o advogado esclareceu que atua apenas nos processos relacionados às três tentativas de homicídio e ao desaparecimento dos dois últimos, não tendo conhecimento sobre os demais casos.“Vamos demonstrar ao juiz que decretou a prisão preventiva que efetivamente não há necessidade dessa prisão. Ele tem um compromisso de comparecer e vai comparecer a todos os outros processos”, concluiu o advogado.

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