Começo celebrando uma justiça feita: a homenagem ao querido Levi Vasconcelos, que recebeu o título de cidadão feirense. Ao vê-lo agraciado, não deixei de recordar quando eu mesmo fui honrado com essa distinção. No caso dele, foi o reconhecimento a uma vida inteira de jornalismo brilhante; no meu, confesso, predominou a generosidade dos vereadores. De todo modo, foi um presente que reacendeu minhas memórias com a cidade.Lembro-me bem de como tudo começou. Era 1989, quando o então candidato a presidente Fernando Collor visitou o jornal A TARDE, acompanhado do empresário Pedro Irujo.Naquele mesmo dia, entre o alvoroço da visita e a curiosidade, Arthur de Almeida Couto, diretor do jornal, se aproximou de mim – eu estava diante de uma máquina de escrever Facit – e disse: “vamos fortalecer a regionalização do jornal. Você vai para Feira de Santana”. Eu prontamente respondi: “vamos conversar sobre isso”. Ele replicou: “você não tem idade para conversar comigo. Me procure amanhã no meu escritório”. Foi nesse tom, direto e surpreendente, que fui designado para chefiar a sucursal de A TARDE em Feira de Santana. Era uma missão de liderança, embora, naturalmente, também assumisse reportagens e coberturas. Não houve nem tempo de pensar: de um dia para o outro, eu estava lá, montando a sucursal.Fiz amigos que se tornaram família. Antônio José Laranjeira, colunista que também comandava o comercial da sucursal, um homem de palavra e de simpatia, circulava pela sociedade com a leveza de quem entra na sala de casa. Por ocasião da minha saída do jornal, anos depois, Laranjeira escreveu uma carta a Jorge Calmon, dizendo que o A TARDE não perdia apenas um repórter, mas um amigo. Guardo essas palavras como um dos maiores tesouros da minha vida profissional.Tive o privilégio de conviver com pessoas como o ex-prefeito Colbert Martins e o ex-deputado Chico Pinto, dois gigantes da política, ao lado do eterno governador e amigo João Durval Carneiro. Além de colegas da lida, como de Zadir Marques Porto, jornalista de uma retidão exemplar. E não posso esquecer Emídio Oliveira, o motorista que nos guiava pelas ruas com a mesma paciência com que escutava nossas histórias. Teve ainda Reginaldo Pereira, que hoje chamo de irmão e com quem posso contar em qualquer lugar e em qualquer circunstância. Na noite, seja do inesquecível Zequinha – figura marcante na vida feirense –, seja no Timbau, tive a honra de desfrutar da amizade do lobisomem Anchieta Nery com sua boemia generosa, Valter Xéu e sua alegria contagiante, Conceição Lobo, que se foi cedo demais. Nomes que carrego comigo como recordações guardadas num álbum de memórias.Feira de Santana me deu também o primeiro grande cargo público, como secretário de Comunicação da prefeitura, a convite do então prefeito João Durval. Foi um laboratório de vida, de erros e acertos, que moldou minha trajetória.O Fluminense de Feira, por sinal, fez questão de aumentar minha paixão: foi vice-campeão baiano quando eu estava à frente da sucursal, e jurei amor ao tricolor do sertão. Mais tarde, já como secretário estadual de comunicação, defendi com a mesma garra a imprensa feirense. Sabia que, sem os jornais, rádios, televisões e blogs da cidade, a Bahia ficava incompleta.Anos mais tarde, foi o vereador Paulão do Caldeirão, figura popular e espontânea, quem apresentou o projeto de lei que me concedeu o título de cidadão feirense. Aceitei com alegria. Na sessão solene, ao lado de velhos amigos, senti a história se fazer num círculo bonito: cheguei como forasteiro, saí como um dos seus.Por isso, digo com orgulho e um fundo de saudade: Feira é um capítulo especial da minha vida. Foi a escola que me lançou como chefe de uma sucursal, ao mesmo tempo em que me ajudou a crescer como repórter, foi o palco que me deu o primeiro cargo público, foi a casa onde encontrei amigos para a vida inteira. Tudo o que vivi ali é permeado pela gratidão. Quando me perguntam de onde venho, a resposta sai pronta: venho também de Feira de Santana.
Artigo: Também venho de feira
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