Um dos FIAGROs mais acompanhados do mercado, o RURA11, começou 2024 com sinais claros de que o pior pode já ter passado. Mesmo após meses de incertezas e inadimplências, o fundo surpreendeu positivamente na geração de resultados. A seguir, destrinchamos os números, estratégias e riscos que envolvem o ativo.
Geração de caixa forte em março
O RURA11 entregou R$ 0,106 por cota em geração de resultado no mês de março — um número acima do esperado, especialmente num mês com menor número de dias úteis, que afetou a performance de vários fundos atrelados ao CDI, como os da Kinea. O bom desempenho chamou atenção do mercado e indica uma recuperação operacional relevante.
Apesar disso, o rendimento efetivo pago não surpreendeu. Isso se deve à estratégia do Itaú de reforçar a reserva de lucro do fundo, blindando o portfólio contra eventuais inadimplências futuras.
Reserva de lucro em nível histórico
Hoje, o RURA11 conta com R$ 11,3 milhões em reserva de lucro acumulada, equivalente a cerca de R$ 0,07 por cota. A expectativa é que o fundo continue acumulando resultado até ultrapassar os R$ 0,10 por cota. Isso permitiria uma retomada dos dividendos a níveis mais atrativos, acompanhando outros fundos do mesmo segmento.
A política do Itaú de constituir reservas robustas é uma tentativa clara de blindar a imagem do banco diante do risco de inadimplência — algo que pesa fortemente sobre os FIAGROs.
Transparência limitada na DRE: um ponto de atenção
Embora o desempenho do mês tenha sido bom, a Demonstração de Resultados (DRE) do fundo deixou dúvidas. Dos R$ 5,9 milhões listados como “outras receitas”, não foi informado de forma clara a origem do valor — algo relevante, já que representa mais de um terço da receita total no período.
Além disso, foi feita uma provisão de R$ 3,8 milhões, apoiada justamente por esse lucro extraordinário. Ao todo, o fundo já acumula R$ 21,2 milhões em PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) — equivalente a quase dois meses de rendimento.
Garantias reais e diversificação: os pilares da segurança
O RURA11 ainda se destaca no cenário dos FIAGROs por dois fatores principais:
- Boa diversificação por segmento, o que dilui riscos setoriais;
- Estrutura de garantias reais, como alienações e cessões fiduciárias.
Apesar de algumas críticas à efetividade das garantias no setor agrícola, a estrutura do RURA11 é considerada mais sólida que a média — especialmente em comparação com outros FIAGROs menores.
Casos problemáticos: Portal Agro e Copagri
O fundo ainda convive com casos de inadimplência herdados, como:
- Portal Agro, que representa o caso mais grave: a distribuidora e seus clientes inadimpliram com o fundo. Isso comprometeu a operação de CRAs com cessão de recebíveis — uma estrutura que tem mostrado fragilidades no agro.
- Copagri, em processo judicial recente, cujo desfecho deve demorar. Porém, representa apenas 0,8% do patrimônio líquido do fundo, o que limita o impacto direto.
Pedro Merola: uma reviravolta positiva
Um ponto de alívio foi a saída de Pedro Merola da lista de risco, após iniciar os pagamentos renegociados mesmo em processo de recuperação judicial. Embora o histórico do devedor gere dúvidas — já que tentou incluir o CRA no plano de recuperação — o atual fluxo de pagamentos tem sido honrado.
Fundamentos e perspectiva para o investidor
Apesar das turbulências, o fundo apresenta:
- Boa diversificação de ativos e inquilinos;
- Taxa média atrativa (CDI + 3,9%);
- Estrutura de garantias acima da média no setor.
Para o investidor disposto a ter paciência e acompanhar a evolução da reserva de lucro, o fundo pode voltar a entregar rendimentos próximos de R$ 0,10 por cota, o que o colocaria novamente entre os destaques do setor agro.
Sim, desde que o investidor tenha um perfil mais tolerante a risco e esteja disposto a acompanhar de perto o fundo. A fase crítica parece ter passado, mas o setor agro ainda exige atenção. O RURA11, por ser vinculado ao Itaú e apresentar estrutura sólida, é uma das melhores opções entre os FIAGROs — apesar das cicatrizes recentes.
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