Enquanto o debate econômico gira em torno de cortes e reformas, uma bomba silenciosa mina as contas públicas: os juros. Em 2025, o Brasil deve registrar um déficit primário — ou seja, sem contar os juros da dívida — de cerca de 0,6% do PIB. No entanto, o déficit nominal, que inclui os juros pagos, beira os 8%. O recado é claro: quase todo o rombo nas contas públicas brasileiras está nos encargos da dívida.
O tamanho da fatura: quando o juro é o vilão
Segundo analistas, o desequilíbrio fiscal brasileiro hoje não está no resultado primário — que se aproxima do equilíbrio —, mas na desproporção do gasto com juros. E esse custo elevado não é por acaso: ele reflete o prêmio de risco exigido por investidores para financiar um governo que perdeu a confiança do mercado.
Esse fenômeno leva à seguinte constatação: não é o tamanho do déficit primário que preocupa, mas a incapacidade do governo em sinalizar compromisso com um controle mais rigoroso e sustentável das despesas.
Como chegamos até aqui? O fim da âncora fiscal crível
O cenário atual é consequência direta do enfraquecimento das regras fiscais. Desde a revogação do teto de gastos — medida adotada no governo Temer e que limitava o crescimento das despesas públicas à inflação —, o Brasil passou a operar sob um novo arcabouço fiscal mais flexível, que permite ao governo ampliar gastos acima da inflação.
Embora o novo arcabouço traga metas de resultado primário, ele tem sido frequentemente burlado com artifícios contábeis e receitas extraordinárias. Isso alimenta a dúvida: até que ponto o governo está comprometido em conter o crescimento da dívida?
O efeito da desconfiança: juros altos e dívida crescente
O mercado reage com ceticismo diante das manobras fiscais. Com a confiança abalada, investidores exigem retornos maiores para emprestar ao governo — o que eleva o custo dos títulos públicos e aumenta o juro real da dívida.
Esse ciclo vicioso de desconfiança, juro elevado e crescimento da dívida só pode ser interrompido com sinalizações críveis de responsabilidade fiscal.
Dois fatores comprometem a credibilidade do governo:
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Histórico fiscal recente: O Brasil ainda carrega as cicatrizes da crise fiscal de 2014-2015. A flexibilização da meta primária ao longo do ano — como ocorreu no governo Dilma — ainda está fresca na memória do mercado.
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Institucionalidade fragilizada: Ao substituir o teto de gastos por um modelo mais permissivo, o governo retirou a âncora mais respeitada das contas públicas. Isso aumentou o risco de contabilidade criativa e alterações casuísticas nas metas fiscais.
É possível reverter? Caminhos para a estabilidade
Apesar do cenário preocupante, especialistas veem espaço para recuperação. Com um crescimento do PIB na faixa de 2% a 3% ao ano e controle das despesas, o Brasil pode alcançar um superávit primário de 1,5% do PIB nos próximos três a quatro anos — patamar necessário para estabilizar a trajetória da dívida pública.
Contudo, para isso se concretizar, seria necessário retomar regras fiscais mais rígidas e eliminar a possibilidade de aumentos constantes nas despesas acima da inflação.
O que está em jogo?
Se não houver um freio nas despesas e um resgate da credibilidade fiscal, o país continuará preso a juros elevados, dificultando a queda da inflação e o crescimento sustentável da economia. E, mais grave ainda, manterá a dívida pública em uma rota perigosa — com risco de efeito dominó sobre o crédito, o investimento e o emprego.
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