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Além da meta de fazer uma música genuína, sempre foi importante para eles que também não houvesse repetição. Ao longo de três décadas, a banda teve diferentes momentos: beberam da fonte setentista nos primeiros anos, ainda como Dr. Cascadura, depois exploraram sons mais pesados, sempre com espaço para fugir do óbvio, falar de amor e das doçuras e dissabores de Salvador.“Quando a gente estava na ativa, estávamos o tempo inteiro criando um universo. Porque uma banda autoral, se ela não criar um universo próprio, ela acaba sucumbindo à coisa da moda, da tendência. E o Cascadura sempre teve uma assinatura, desde a primeira fase”, define Thiago.A diversidade é, segundo Fabão, o motivo dos discos parecerem tão diferentes, mas numa distinção complementar, de forma que, apresentados juntos no repertório dos shows, transparecem a verdadeira essência do Cascadura. “Quando a gente está tocando, tudo vira uma narrativa única. Todos os momentos acabam tendo um mesmo narrador, contando capítulos diferentes de uma história”, diz Fabão.Capítulos esses que se mostram atemporais e fazem com que a banda atraia públicos de todas as idades. Nas redes sociais, é fácil achar um comentário pedindo o lançamento de camisas da banda em tamanhos infantis, para a “nova geração de fãs”.Esse é um fenômeno que chama a atenção dos integrantes e que, para eles, diz muito sobre o legado do Cascadura. “Eu lembro de um fã que foi no show do ano passado com o filho de 18 anos. Ele disse para nós: ‘esse é o primeiro show dele. Ele já conhece a música desde guri, mas eu não deixava ele vir. Agora que já tem 18 anos, pode’. E isso é massa, que eles tenham essa referência”, diz Fabão.As despedidasFalando sobre o retorno aos palcos, Thiago brinca que existe uma “maldição do último show”. Quando, em 2022, Fabão anunciou no palco, de surpresa, que aquela era a última apresentação do Cascadura, ele pensou: “Isso não vai dar certo, porque esse show foi muito bom”. Ao longo das três décadas de história, a banda parece ter se deparado com muitas “maldições” de despedida, seja com shows ou álbuns, mas estes sempre estiveram mais para fortúnios que maldições.O lançamento de Bogary, em 2006, é um grande exemplo. O álbum nasceu da vontade de acabar com a banda, como eles mesmos definem. Estavam voltando de um show em São Paulo, decididos a fazer um último disco com músicas que já estavam prontas e depois anunciar o fim do Cascadura. Gravaram e mixaram em menos de 20 dias. Nesse meio tempo, porém, o disco anterior chegou até Lobão, que comandava a revista de variedades OutraCoisa, na qual lançava artistas da cena com seus CDs encartados.“A revista queria muito que cada edição tivesse um representante de algum lugar diferente, então o Lobão comprou essa história de lançar uma banda da Bahia. A OutraCoisa ofereceu uma exposição muito boa, porque você não precisava ir numa loja para ver o disco, ele estava na rua, nas bancas de revista. Nessa, a gente também chamou atenção de nomes chaves do rock brasileiro, como Nando Reis, que acabaram nos dando uma chancela”, conta Fabão.“A gente fala que renasceu como uma fênix, porque a banda estava semimorta e de repente voltou com um álbum muito coeso”, completa Thiago. “E então a gente teve Caetano Veloso, por exemplo, que já era fã da banda, querendo começar a ir em shows e ficando até o final, de madrugada, para vir falar com a gente depois”.Próximos passos
| Foto: Denisse Salazar | Ag. A TARDE
Para o futuro do Cascadura, os integrantes têm alguns planos em mente. Por ora, a atenção está voltada para a preservação do legado da banda: produzir versões em vinil dos discos, alimentar a lojinha com produtos que os fãs adoram (como as camisetas) e disponibilizar toda a discografia no Spotify.Mas, também há outras atividades sendo discutidas entre eles para 2026, ano que marca duas décadas do lançamento de Bogary, que marcou para eles uma virada de chave. “É uma data muito significativa. Bogary é um álbum que sai sempre nas listas de principais discos de rock da Bahia, porque de fato marca essa fase, uma época muito legal do rock baiano. Marcou realmente uma mudança de geração”, diz Thiago. Para a comemoração, a intenção é expandir os shows e levá-los para outras cidades, sobretudo nordestinas, mas também para lugares como São Paulo e Rio de Janeiro.Hoje, Fabão mora no Canadá, onde integra a comunidade acadêmica de Toronto. Já Thiago Trad vive entre Salvador, Nova York, e Vale do Capão, na Chapada Diamantina. Com as agendas de cada integrante, é difícil para eles dizer se o futuro guarda possibilidades de novos álbuns e músicas inéditas. O material existe – Fabão nunca para de compor, seja em solo brasileiro ou no Canadá – e o desejo de continuar reunindo a banda também, especialmente com a formação atual, que tem química de sobra. “Agora a gente está indo para mais dois shows. O ‘último último’ show. E podem ser os últimos shows, de fato, mas também podem não ser. A gente nunca sabe. Nossa vontade é que continue”, diz o baterista.“Eu acho que o Cascadura simboliza hoje esse encontro de várias gerações e gêneros. Todo mundo tem uma relação com Cascadura e a gente também se sente parte das histórias de todo mundo que vem contando alguma história musical na Bahia dos anos 1990 para cá. A gente está aí com casa lotada, podendo fazer um show muito honesto e de qualidade. Podendo dizer, sem falsa modéstia, que esse é o melhor que a Cascadura pode oferecer: os melhores músicos, o melhor som”, finaliza Thiago.CASCADURA: ‘Juntos Somos Nós 2025’ / amanhã e sábado (24), 20h / Participações: Ronei Jorge e Jajá Cardoso (Vivendo do Ócio, amanhã) e Paulinho Oliveira (dia 24) / Discotecagem: BigBross / Praça das Artes (Beco do Porvir, 4, Pelourinho) / Ingressos entre R$ 65 e R$ 150 / Vendas: Sympla*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.