As ações do Banco do Brasil (BBAS3) caíram mais de 12% nos últimos dias, pressionadas por mudanças contábeis nas provisões para perdas com inadimplência e por uma leitura negativa do mercado em relação à condução da gestão da estatal. O movimento acende o alerta para investidores que observam um possível recuo ainda mais acentuado nos lucros da instituição em 2025.
O que causou a queda nas ações do Banco do Brasil?
A forte desvalorização teve como gatilho a divulgação do balanço do primeiro trimestre de 2025, marcado por um aumento significativo nas provisões para perdas com crédito, o que reduziu de forma abrupta o lucro líquido do período. O mercado avaliou negativamente a decisão de concentrar essas provisões em um único trimestre, em vez de diluí-las ao longo do tempo, como fazem outras instituições financeiras.
Além disso, casas como Genial Investimentos e Bradesco BBI rebaixaram suas recomendações para as ações do BBAS3 de “compra” para “neutra”. Espera-se ainda que analistas estrangeiros façam o mesmo, o que pode intensificar a pressão vendedora.
Impacto da resolução 4.966 do CMN
Um fator-chave para esse movimento contábil foi a resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que estabelece critérios mais rígidos para provisões de crédito. A norma, aprovada em 2024 e com vigência em 2025, exige que os bancos reforcem suas reservas em relação aos riscos de inadimplência.
A decisão do Banco do Brasil de aplicar a resolução de forma abrupta, em vez de gradual, gerou críticas de analistas e investidores. O principal argumento é que essa escolha distorce a percepção do desempenho financeiro, penalizando o lucro trimestral e, por consequência, afetando a atratividade da ação.
Aluguel de ações dispara e cenário técnico piora
Do ponto de vista técnico, o aumento expressivo no aluguel de ações do BBAS3 indica que investidores institucionais estão apostando na queda do papel. A análise gráfica mostra que, após romper o suporte dos R$ 25, os próximos pontos críticos estão na faixa de R$ 23, e, em caso de nova deterioração, podem atingir os R$ 21,40 ou até mesmo R$ 19.
A diretoria e a polêmica com o agronegócio
Em comunicado, a diretoria do Banco do Brasil justificou o aumento das provisões citando a inadimplência no agronegócio e o cenário macroeconômico adverso, incluindo a alta da Selic. No entanto, a explicação foi mal recebida por parte do mercado, que viu na fala uma tentativa de transferir a responsabilidade da gestão de risco para fatores externos.
Críticos destacam que o setor agropecuário é um dos pilares do PIB brasileiro e que políticas públicas recentes têm pressionado o desempenho do setor. A tentativa do Banco do Brasil de atribuir a culpa exclusivamente ao agro foi considerada por muitos como uma simplificação excessiva.
Comparação com outros bancos e falhas de gestão
Diferentemente de concorrentes como Itaú e Bradesco, que realizaram provisões gradativas e mantiveram um nível estável de inadimplência, o Banco do Brasil concentrou o impacto negativo no primeiro trimestre, afetando a previsibilidade dos resultados e provocando desconfiança no mercado.
A inadimplência no BBAS3 já vinha dando sinais de alta desde o início de 2024. Em março de 2025, a taxa de atraso acima de 90 dias subiu para 1,7%, evidenciando a necessidade de gestão mais proativa.
Perspectivas para os próximos trimestres
O cenário para o restante de 2025 não é animador. A continuidade do aumento das provisões, associada ao ambiente macroeconômico desafiador — com juros elevados, crescimento estagnado e pressão fiscal — tende a manter o lucro líquido do banco em patamares mais baixos. Projeções apontam que os lucros trimestrais, que superavam os R$ 9 bilhões em 2023, devem se aproximar de níveis registrados em 2020, período marcado pela pandemia.
Investidores devem acompanhar com atenção os próximos balanços. Caso o Banco do Brasil siga elevando suas provisões de forma agressiva, a rentabilidade sobre o patrimônio (ROE) pode sofrer uma deterioração significativa, o que impactaria não só o valor da ação, mas também a política de dividendos.
Comprar, vender ou esperar?
Com a ação testando níveis técnicos críticos e o mercado em compasso de espera por novas avaliações de analistas estrangeiros, a decisão de comprar ou não BBAS3 depende da tolerância ao risco e da confiança na recuperação da lucratividade no médio prazo.
Enquanto alguns investidores enxergam oportunidade na faixa dos R$ 21, outros preferem aguardar uma maior estabilização dos resultados e maior clareza sobre a estratégia da diretoria.
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