Com a proximidade das eleições de 2026, o mercado financeiro brasileiro tem demonstrado alta sensibilidade a rumores e movimentações políticas. Na quinta-feira (20), o dólar disparou e chegou a bater R$ 5,69 após a circulação de uma reportagem sobre um suposto “pacote de bondades” do governo federal, incluindo um possível aumento do Bolsa Família para R$ 700, além de novos créditos para motociclistas e moradias precárias.
A reação imediata dos investidores fez o câmbio subir fortemente, mesmo com o dólar recuando globalmente frente a outras moedas fortes. Em meio à especulação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, veio a público para desmentir a existência de qualquer plano de elevação do benefício social. Segundo ele, não há estudos nesse sentido, e o Vale Gás seguirá sendo custeado com os recursos já previstos no Orçamento.
Além disso, Haddad destacou que apresentará ao presidente Lula, na próxima semana, medidas pontuais voltadas ao cumprimento da meta de déficit fiscal zero. A equipe econômica ainda avalia um contingenciamento de até R$ 20 bilhões para reforçar o compromisso fiscal, medida que será detalhada no relatório oficial previsto para o dia 22.
Mercado financeiro desconfiado com riscos fiscais
Apesar do desmentido do ministro, o mercado manteve o tom de cautela. A desconfiança em relação ao compromisso do governo com o ajuste fiscal ficou evidente não só na valorização do dólar, mas também na leve pressão sobre os juros futuros. Analistas lembram que o histórico recente de medidas eleitoreiras, como a “PEC Kamikaze” de 2022, aprovada pelo governo Bolsonaro, alimenta o temor de que ações semelhantes possam ocorrer novamente.
Outro fator que alimenta a volatilidade é o crescimento de rumores sobre uma possível candidatura de Fernando Haddad ao Senado em 2026. Embora o ministro tenha desconversado sobre o tema em entrevistas recentes, pesquisas indicam que ele seria um candidato competitivo, o que poderia antecipar sua saída da Fazenda já em abril do próximo ano. Essa possibilidade preocupa o mercado, que vê Haddad como uma voz moderada na equipe econômica.
Ibovespa ignora ruído político e bate recorde
Em contrapartida, o Ibovespa não se deixou abalar pelos rumores e voltou a registrar recorde histórico, superando os 139 mil pontos. A valorização foi impulsionada pelo fluxo estrangeiro atraído pelo ambiente internacional mais positivo, diante da perspectiva de manutenção ou corte dos juros pelo Federal Reserve (Fed) e do alívio nas tensões comerciais globais.
A expectativa de estabilização da Selic no patamar elevado de 14,75% também tem favorecido a entrada de capital estrangeiro na bolsa brasileira, em busca de melhores retornos. Esse movimento foi reforçado por fortes resultados corporativos domésticos e pela relativa estabilidade econômica.
Contingenciamento à vista e fusão no setor de alimentos
Enquanto o mercado repercute os sinais políticos e fiscais, a equipe econômica prepara um primeiro congelamento de despesas, estimado em até R$ 20 bilhões, conforme revelou reportagem da Folha de S. Paulo. Técnicos avaliam que parte desse ajuste poderá ser feito de maneira fracionada ao longo do ano, com o objetivo de evitar o agravamento do quadro fiscal e sustentar a trajetória da dívida pública.
No setor corporativo, destaque para o anúncio da fusão entre Marfrig e BRF, criando a MBRF Global Foods Company, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, com presença em 117 países. O negócio, que transforma a BRF em subsidiária da Marfrig, ainda depende de aprovação dos acionistas e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Perspectivas: volatilidade à frente com foco nas eleições
Os analistas alertam que o episódio desta semana é apenas um prenúncio da volatilidade que deve marcar o mercado brasileiro até 2026. Cada nova manchete ou rumor poderá provocar reações intensas, especialmente diante das dúvidas sobre a real disposição do governo em manter a disciplina fiscal frente às pressões políticas.
Enquanto isso, o câmbio seguirá sensível a qualquer sinal de aumento de gastos, enquanto a bolsa pode continuar a atrair investidores, beneficiada pela conjuntura internacional e pela resiliência de algumas empresas brasileiras.
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