Essa é a análise do economista Roberto Troster, ex-economista-chefe da Febraban e hoje à frente do Instituto de Inteligência Econômica. Segundo ele, o maior problema do país não é apenas fiscal — é um déficit de ambição.
“O mundo está mudando muito mais rápido que o Brasil, e isso é perigosíssimo. O país está ficando para trás”, alerta.
Mas afinal, por que o Brasil insiste em juros tão altos, crescimento tão baixo e reformas sempre inacabadas?
Juros altos no Brasil: Sintoma de um modelo obsoleto
O Brasil mantém uma das maiores taxas de juros reais do mundo, atualmente na casa de 9% acima da inflação.
Nos EUA, o juro real não passa de 2%. A diferença — segundo Troster — está no chamado “entulho inflacionário”, um conjunto de distorções que ainda carregamos da época da hiperinflação:
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Sistema bancário pouco transparente
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Cobrança de impostos embutidos no crédito (IOF, PIS, Cofins, IR)
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Indexadores obsoletos como o IGP-M, que distorcem contratos
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Moeda remunerada com liquidez diária, que gera efeito perverso sobre a inflação
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Spread bancário altíssimo, mesmo com a Selic caindo
O Spread bancário é o verdadeiro vilão
Mesmo com o avanço dos bancos digitais, o custo do crédito no Brasil continua absurdamente alto. Dados revelam que:
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Crédito rotativo do cartão ultrapassa 400% ao ano
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Crédito pessoal simples fica acima de 100%
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Cheque especial beira os 150% anuais
Pior: os bancos pequenos, supostamente concorrentes dos grandes, cobram as maiores taxas do mercado, ao contrário do que muitos imaginam.
“O problema não é só educação financeira. É a forma como o crédito é concedido e precificado no Brasil. É abuso de poder econômico”, dispara Troster.
O peso oculto da política monetária
O Banco Central utiliza a Selic como principal instrumento de combate à inflação, mas ignora outras ferramentas eficientes, como o câmbio.
Enquanto países como Argentina, China e até os EUA combinam política monetária e cambial, o Brasil escolheu elevar juros como solução única.
O efeito? Uma economia travada, consumo reprimido e investimento produtivo sufocado.
Custo da dívida pública: O buraco sem fundo
Em 2025, o Brasil deve gastar mais de R$ 1 trilhão em juros da dívida, valor 17 vezes maior que o superávit primário projetado.
Isso significa que:
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O país gasta mais com juros do que com saúde, educação e justiça somados.
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A cada alta dos juros, o governo paga mais, aumentando o déficit, o que leva a novos aumentos de juros. É um ciclo vicioso.
A comparação com o mundo: Onde estamos errando?
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Paraguai: Crescendo mais que o Brasil, com impostos menores e menos burocracia, atraindo empresas brasileiras.
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Chile: Bancos operando com spreads menores e rentabilidade semelhante à brasileira.
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China e Índia: Crescem com planejamento de longo prazo, metas claras e foco em tecnologia, educação e produtividade.
“Nos falta ambição. A China tem planos quinquenais. Aqui vivemos de apagar incêndios”, ressalta Troster.
O que fazer para sair deste ciclo?
Soluções apontadas por Roberto Troster:
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Eliminar a moeda remunerada com liquidez diária. Forçar prazos mínimos de 6 meses para aplicações.
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Acabar com depósitos compulsórios remunerados. Só em 2024, custaram R$ 71 bilhões — quase cinco vezes o superávit primário.
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Revisar indexadores. Substituir IGP-M e outros índices que não refletem a inflação real.
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Reformular o modelo tributário sobre crédito. Reduzir IOF, PIS, Cofins e impostos que encarecem as operações.
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Criar um centro financeiro offshore em São Paulo. Assim como existe nas Ilhas Cayman, Londres e Frankfurt, com regras específicas para atrair investimentos e reduzir o custo de captação.
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Atuar no câmbio como instrumento de controle inflacionário. Algo que o Brasil abandonou, mas que funciona em economias desenvolvidas.
E a política? O maior entrave
O país não avança porque falta vontade política. Todos sabem o que precisa ser feito: revisar subsídios, cortar gastos improdutivos, rever privilégios e realizar reformas profundas.
Porém, a falta de liderança e o medo do conflito político paralisam decisões fundamentais.
“No Brasil, há uma cultura do jeitinho, de evitar o conflito. Só que governar é justamente tomar decisões difíceis e arbitrar interesses divergentes.”
Brasil: Potencial gigante, mas refém de suas próprias escolhas
Apesar de tudo, o Brasil tem potencial para crescer 6% ao ano, segundo Troster. Mas, para isso, é necessário romper com as práticas que há décadas empobrecem o país:
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Dependência de juros altos
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Crescimento baseado em estímulos populistas de curto prazo
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Ausência de planejamento estratégico de longo prazo
A pergunta que fica é: até quando vamos aceitar crescer como voo de galinha, enquanto o mundo avança?
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