O fundo Fiagro KNCA11, gerido pela Kinea Investimentos, manteve a distribuição de rendimentos em R$ 1,18 por cota no mês mais recente, mesmo tendo gerado um resultado superior de R$ 1,21 por cota no período. A diferença, de R$ 0,03, foi integralmente destinada à reserva de lucros, que já soma expressivos R$ 1,32 por cota.
Com patrimônio líquido superior a R$ 2 bilhões e mais de 75 mil cotistas, o KNCA11 permanece entre os maiores e mais negociados Fiagros do mercado. No entanto, a estratégia de retenção recorrente de resultados tem sido questionada por investidores, principalmente diante do cenário atual de juros elevados, que favorece os ativos indexados ao CDI.
Distribuição de rendimentos e formação de reservas
Desde o início de 2025, o fundo tem adotado uma política conservadora de distribuição, com recorrentes retenções mensais. Abaixo, os dados de geração e pagamento por cota em cada mês:
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Janeiro: gerou R$ 1,34 | distribuiu R$ 1,12 → reserva: R$ 0,22
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Fevereiro: gerou R$ 1,20 | distribuiu R$ 1,14 → reserva: R$ 0,06
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Março: gerou R$ 1,23 | distribuiu R$ 1,20 → reserva: R$ 0,03
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Abril: gerou R$ 1,21 | distribuiu R$ 1,18 → reserva: R$ 0,03
Ao todo, o fundo acumulou R$ 0,34 em reservas no ano, o equivalente a quase 30% de uma distribuição mensal. Essa postura sugere cautela por parte da gestão, mas levanta questionamentos sobre a aderência à regra dos 95% obrigatórios para fundos imobiliários e Fiagros, cujo descumprimento exige justificativas formais.
Valor de mercado e desconto patrimonial
A cota de mercado do KNCA11 encerrou o mês cotada abaixo de R$ 95, representando desconto de aproximadamente 7% frente ao valor patrimonial, atualmente em torno de R$ 102. Esse desconto pode indicar uma oportunidade de entrada, sobretudo para investidores interessados em fundos com geração recorrente de caixa e indexação robusta.
A liquidez média diária gira em torno de R$ 2 milhões, mas tem apresentado leve queda desde o início do segundo trimestre, em linha com a redução do volume negociado em Fiagros em geral.
Composição da carteira: indexação mista e foco em bioenergia
A carteira do KNCA11 é majoritariamente composta por ativos de crédito privado estruturado — principalmente Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) — com uma composição equilibrada entre indexadores:
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56% atrelados ao CDI, com taxa média de CDI + 4,5%
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44% atrelados ao IPCA, com taxa média de IPCA + 8,08%
Essa estrutura híbrida permite ao fundo capturar ganhos tanto em cenários de inflação quanto em contextos de juros elevados, como o atual, com Selic acima de 14%.
Setorialmente, o KNCA11 tem forte exposição ao segmento de bioenergia, especialmente nas áreas de açúcar e etanol, que juntos representam a maior parcela do portfólio. Os ativos estão distribuídos entre emissores de primeira linha do agronegócio brasileiro, com histórico positivo de pagamentos.
Alavancagem elevada e operação em reestruturação
O fundo apresenta alavancagem de 11,1% sobre o patrimônio líquido, considerada elevada para padrões do setor. Essa alavancagem se dá via operações compromissadas, utilizadas para antecipar liquidez ao portfólio. Embora ainda sob controle, o patamar reforça a necessidade de boa gestão de fluxo de caixa.
Um exemplo recente foi a operação com a Baía Etanol, cujo CRA sofreu amortização antecipada de R$ 8,3 milhões. A empresa já havia quitado R$ 45,5 milhões, e o restante será reestruturado com novo cronograma de pagamentos, sujeito à deliberação em assembleia. O impacto estimado no patrimônio líquido do fundo foi de 1,1%.
Expectativas e projeções de rendimento
Com a Selic estabilizada entre 14% e 15%, a expectativa é que o KNCA11 mantenha rendimentos mensais na faixa entre R$ 1,20 e R$ 1,30 por cota. A parcela do portfólio indexada ao IPCA pode apresentar leve desaceleração nas distribuições, refletindo os índices de inflação mais baixos registrados em abril (IPCA de 0,38%) e maio (estimativa abaixo de 0,35%).
Caso a gestão opte por utilizar parte da reserva acumulada, o fundo tem margem para elevar pontualmente o valor pago aos cotistas, sem comprometer o equilíbrio financeiro. Contudo, não há sinalização nesse sentido no relatório mais recente.
Pipeline de investimentos e perspectivas para o segundo semestre
Até o momento, o fundo não realizou novas aquisições no segundo trimestre, limitando-se a reforçar posições existentes. O relatório aponta pipeline de operações em análise, com potencial de execução ainda no final de junho, o que pode reaquecer a carteira e refletir positivamente nas distribuições futuras.
A gestão também destacou o monitoramento do cenário macroeconômico, especialmente a expectativa de inflexão da Selic no segundo semestre, que poderá influenciar as estratégias de alocação entre ativos indexados.
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