
Os médicos dizem que, se uma pessoa tiver dores de cabeça três vezes ou mais no mês, ela precisa procurar atendimento. E alertam: tomar remédios por conta, com muita frequência, pode piorar as dores e dificultar o tratamento correto. O Sistema Único de Saúde detectou uma possível consequência de um hábito muito perigoso dos brasileiros: a automedicação.
Luz apagada, olhos fechados e silêncio. É assim que a promotora de eventos Viviane Travellini Nascimento Farah, de 49 anos, tenta reduzir os sintomas da enxaqueca. Ela convive com a doença há 20 anos. Tem até 15 crises por mês, com dores de cabeça fortes, náuseas e tonturas.
“Eu sou conhecida pela família inteira: ‘E a sua dor?’. Ninguém pergunta como você está? Fala: ‘E a sua dor?'”, conta Viviane.
Ela tomou tantos remédios que os analgésicos comuns nem fazem mais efeito, e os anti-inflamatórios já causaram uma doença no fígado.
“Ele distendeu, ele quase dobrou de tamanho, ele ficou enorme. Eu fiz uma biópsia e tudo mais na época do fígado, e foi constatado que era uma hepatite medicamentosa. Eu precisava tirar o anti-inflamatório da minha vida”, diz Viviane.
Dados do Ministério da Saúde mostram que o SUS fez 109 mil atendimentos para tratar enxaqueca entre janeiro e abril. Em 2024, no mesmo período, foram menos de 70 mil. O ano de 2024 terminou com 258 mil atendimentos. Dez anos antes, em 2014, foram 40 mil.
“O que a gente tem visto nos últimos anos, especialmente nos últimos cinco anos no Brasil, é um aumento da conscientização sobre o problema da enxaqueca na população. Ao mesmo tempo, também, os profissionais de saúde, os médicos, que têm tido mais acesso à informação em função da chegada, nos últimos anos, de novos tratamentos”, diz Gabriel Taricani Kubota, coordenador do Centro de Dor do Departamento de Neurologia da FM/USP.
Consumo excessivo de remédios para dor de cabeça torna enxaquecas mais dolorosas; entenda por quê
Jornal Nacional/ Reprodução
Os médicos dizem que, se uma pessoa tiver dores de cabeça três vezes ou mais no mês, ela precisa procurar atendimento. E alertam: tomar remédios por conta, com muita frequência, pode piorar as dores e dificultar o tratamento correto. Um estudo da Organização Mundial da Saúde aponta que até 5% da população tem dor de cabeça medicamentosa por causa do uso excessivo de remédios.
Um centro trata pacientes com dor crônica em São Paulo. Lá, eles aprendem a prevenir e a usar remédios corretos para reduzir as crises.
“O medicamento, a gente tem que pegar como um auxiliador. Nós temos que pensar em todas as outras questões que essa paciente deve fazer. Então, são mudanças no estilo de vida, no hábito de vida, que vão fazer com que essa melhora seja mais eficaz”, afirma Clebson Gonçalves, farmacêutico do CR Dor Bom Retiro/SP.
A Viviane está prestes a começar um tratamento novo, com orientação médica. O sonho é ter mais qualidade de vida:
“Eu preciso encontrar uma resposta para minha dor. Eu não aguento mais ficar com dor. Para mim, já deu”.
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