‘Muitas incertezas’, diz pai de bebê que recebeu antídoto para picada de cobra ao invés de vacina em SC


Autoridades de saúde investigam troca de vacina por antídoto para veneno de cobra
O pai de um dos 11 recém-nascidos que receberam antídoto para picada de cobra no lugar da vacina de hepatite B relatou momentos de tensão após ser informado sobre o engano da equipe. O caso aconteceu no Hospital Santa Cruz de Canoinhas, no Norte de Santa Catarina, e é investigado pelo Ministério Público do estado.
“Fiquei muito nervoso, até por não ter conhecimento do que poderia ocasionar no meu filho. Muitas incertezas passaram na minha cabeça a respeito de como continuaria a saúde do meu filho”, disse o analista logístico Everton Massaneiro, que é pai de primeira viagem, à NSC TV.
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As aplicações ocorreram entre quarta (9) e sexta-feira (11), mas foram divulgadas na segunda (14). Os bebês não apresentaram reações adversas e são acompanhados. Uma sindicância interna foi aberta.
Investigação
A 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas instaurou uma Notícia de Fato para apurar o caso. O MPSC informou que determinou a coleta de informações iniciais junto ao hospital, ao município e à gerência regional de Saúde, que devem responder em até 10 dias.
Entre os pontos questionados estão o armazenamento dos medicamentos, a identificação dos profissionais envolvidos, o estado de saúde dos bebês e as medidas adotadas para evitar novos erros.
Para a gerência regional de Saúde, o MPSC questionou se o órgão tomou conhecimento dos fatos e quais foram as providências adotadas.
A 4ª Promotoria de Justiça também solicitou informações sobre a eventual existência de convênio entre o hospital e o município, bem como os mecanismos de fiscalização adotados pela administração pública local.
“O objetivo é reunir elementos que permitam avaliar a pertinência de evolução deste procedimento para inquérito civil ou adotar medidas judiciais cabíveis”, afirmou o promotor Leonardo Lorenzzon no despacho.
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Frascos semelhantes podem ter causado erro na aplicação em bebês
Após o caso ser divulgado, a prefeita Juliana Maciel informou que parte dos atendimentos do Hospital Santa Cruz é feita pelo SUS e que o município repassa cerca de R$ 1 milhão por mês para custear os atendimentos.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Canoinhas disse que foi comunicada do erro na segunda-feira (14) pela Regional de Saúde de Mafra e que as famílias dos bebês foram avisadas imediatamente. Os recém-nascidos estão sendo acompanhados pela Vigilância Epidemiológica.
Onze recém-nascidos recebem antídoto contra picada de cobra ao invés de vacina de hepatite
Hospital Santa Cruz de Canoinhas
Vacina x soro antiofídico
A semelhança entre os frascos de medicamentos pode ter motivado o erro que levou a aplicação de antídoto para picada de cobra nos bebês recém-nascidos. Conforme a unidade, os dois medicamentos são do mesmo laboratório e têm cores iguais.
A vacina contra hepatite B é aplicada em recém-nascidos nas primeiras 12 horas de vida para prevenir a infecção pelo vírus, que pode causar doenças hepáticas crônicas.
Já o soro antiofídico é um tratamento de emergência utilizado para neutralizar os efeitos do veneno de cobras peçonhentas, como jararaca e jararacuçu. A aplicação é restrita a casos específicos e pode causar reações adversas se administrado de forma inadequada.
Segundo Karin Adur, diretora do hospital, a diferença entre os medicamentos está no tamanho e na descrição no rótulo. “Os remédios são do Instituto Butantan e estavam em prateleiras separadas, mas eles eram de frascos semelhantes”, disse.
Aplicação de antídoto para cobra em vez de vacina a 11 bebês é investigada
Hospital Santa Cruz de Canoinhas/Divulgação
Em nota, o Butantan destacou que produtos são de responsabilidade das unidades de saúde que realizam a aplicação. Disse ainda que a “padronização dos rótulos e embalagens de vacinas e soros distribuídos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) é definida pelo Ministério da Saúde (MS), independentemente do fabricante” (íntegra da nota no fim do texto).
Os bebês receberam um medicamento chamado de imunoglobulina heteróloga, conhecido também como soro antibotrópico, e usado contra a picada de jararaca. Apesar disso, a diretora da unidade afirma que a dose aplicada foi de apenas 0,5 ml, muito abaixo do necessário para tratar pacientes picados por serpentes. Isso minimizou o risco para os bebês.
“Se esses bebês fossem picados por uma jararaca, receberiam 20 ml desse soro em uma reação menos severa. Se fosse um pouco mais delicado, seria 120 ml”, afirmou.
O que diz o Estado
A Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE) também foi avisada sobre o caso e destacou que não houve registro de reações graves nos bebês. A orientação para os pais é manter as crianças em observação por até 30 dias.
O estado afirmou também que os bebês devem receber a vacina contra a Hepatite B (dose zero) em um mês, assim como a vacina BCG, que previne contra as formas graves da tuberculose. Ambas são os primeiros imunizantes para as crianças.
O que disse o hospital
O Hospital Santa Cruz de Canoinhas informa que identificou, no dia 11 de julho de 2025, uma ocorrência envolvendo a administração de medicamento em sua unidade de maternidade, a qual está sendo devidamente apurada por meio de sindicância interna.
Desde o primeiro momento, o Hospital adotou todas as medidas de assistência e acolhimento às famílias e aos recém-nascidos envolvidos, que vêm e serão monitorados de forma contínua por nossa equipe multidisciplinar.
Reforçamos que, nenhuma reação adversa foi identificada nos recém-nascidos, os quais não estão internados, permanecem estáveis e sob acompanhamento, estando todas a famílias sendo acompanhadas por nossa equipe que está seguindo todos os protocolos de segurança dos pacientes.
O Hospital reafirma seu compromisso com a transparência, com a ética profissional e, sobretudo, com a segurança e bem-estar de seus pacientes e da comunidade, adotando todas as providências cabíveis para o total esclarecimento do ocorrido.
O que disse o Instituto Butantan
O Instituto Butantan lamenta o ocorrido no hospital de Canoinhas (SC) e se solidariza com as famílias envolvidas. O Instituto esclarece que a correta armazenagem e administração desses produtos são de responsabilidade das unidades de saúde que realizam a aplicação.
A padronização dos rótulos e embalagens de vacinas e soros distribuídos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) é definida pelo Ministério da Saúde (MS), independentemente do fabricante.
O soro antiofídico mencionado possui baixo índice de contraindicações, conforme descrito em bula. Ainda assim, por se tratar de um produto de uso específico, cabe à vigilância municipal garantir o acompanhamento médico adequado dos bebês.
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