Homem investigado por crime de estupro na Bahia segue foragido; inocente foi preso em SP no lugar dele por erro na grafia do nome


Jabison Andrade da Silva, denunciado pela ex-companheira por estuprar a enteada entre os anos de 2008 e 2015 em Ubatã, no sul da Bahia, está foragido
Arquivo Pessoal
Jabison Andrade da Silva, denunciado pela ex-companheira por estuprar a enteada entre os anos de 2008 e 2015 em Ubatã, no sul da Bahia, está foragido e segue procurado pela Polícia Civil. A informação foi confirmada ao g1 nesta sexta-feira (18).
O eletricista autônomo Jabson Andrade da Silva, de 56 anos, morador da região do Grajaú, Zona Sul de São Paulo, ficou mais de uma semana preso injustamente no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na Zona Oeste, acusado de ter cometido o crime por causa de um “i”.
Jabson Andrade da Silva nasceu em Araci, Bahia, mas mora na capital paulista desde 1991. É casado há 33 anos e tem duas filhas. Não tem passagem pela polícia.
Foi justamente a pequena diferença na grafia nos nomes dos dois que levou o morador de São Paulo a ser o procurado pela Justiça e ficar preso entre 7 e 15 de julho.
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Entenda: Quando o estupro foi denunciado na delegacia de Ubatã, o nome citado no inquérito policial foi Jabson, sem a letra “i”. O erro persistiu até o mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça.
Em nota, o Tribunal de Justiça da Bahia informou que o juiz Eduardo Camilo comunicou ter pedido a soltura de Jabson depois que o “o Ministério Público e a Polícia Civil acusaram que erraram no Inquérito Policial e na denúncia informando outra pessoa” (leia nota completa no final da reportagem).
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) disse que apresentou parecer à Justiça em 11 de julho se manifestando pela revogação da prisão preventiva de Jabson. “Após detida análise dos autos e da petição apresentada pela defesa, constatou-se a existência de indícios de possível equívoco na qualificação do custodiado, apontando possível homonímia entre ele e o real autor dos fatos.”
Surpresa e hostilidade
Jabson Andrade da Silva, de 56 anos, ficou preso mais de uma semana injustamente em SP
Arquivo Pessoal
Em entrevista ao g1, o eletricista contou que estava em casa com a esposa quando policiais foram até o imóvel com o mandado de prisão, no dia 7 de julho, uma segunda-feira, durante uma operação que prendeu quase mil foragidos da Justiça.
“Era por volta de 10h, e os policiais foram à minha casa. Perguntaram se eu tinha passagem pela polícia, e eu disse que não. Aí ele disse: ‘Olha, estou aqui com um mandado de prisão que vem do estado da Bahia. A acusação de um crime gravíssimo, coisa séria’. Aí perguntei o que era e me disseram que era estupro de vulnerável. Falei que não havia feito nada e que minha consciência estava limpa. Nisso, minha mulher já começou a passar mal”, contou.
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Jabson foi levado para um distrito policial e chegou a informar que deveria haver algum erro, que não era ele quem estavam procurando. No dia seguinte, Jabson foi para o Fórum da Barra Funda, onde passou por uma audiência de custódia. Na sequência, foi levado para uma cela no CDP Pinheiros.
“É até difícil relatar como foi. As coisas foram acontecendo a cada instante. A cela que me deixaram, tinha um rapaz que já tinha puxado 20 anos de cadeia, juntando todas as prisões. Tinha sido preso umas quatro, cinco vezes. Foi horrível. A comida é pouca, e o lugar é feito para ninguém gostar daquilo. É desumano.”
O eletricista ainda contou que sofreu com a hostilidade por parte dos agentes penais.
“Quando cheguei, eles rasparam a cabeça e me fizeram colocar a mão numa grade. Um policial penal gritou comigo: ‘Recolhe a mão, seu arrombado’. É assim o tratamento lá dentro. Te tratam muito mal. Você não pode responder nada. É enlouquecedor. Tem pessoas que surtam lá dentro. Eu falava que era inocente, mas diziam que todos falam isso”, ressaltou.
Segundo Jabson, nos anos 2000, confundiram o nome dele em um processo de falso testemunho em Suzano, no interior de São Paulo, e ele teve que comprovar que era homônimo.
Luta para comprovar inocência
Jabson Andrade da Silva, de 56 anos, no momento em que foi solto no dia 15 de julho após ficar preso por engano
Arquivo Pessoal
Assim que o eletricista foi levado para a delegacia, a família dele começou a se mobilizar para que pudessem juntar provas de que aquele mandado de prisão não era para ele.
De acordo com a filha de Jabson, Catherine Lourenço, a família tinha certeza da inocência dele, porque quando teve acesso ao processo, descobriu que a mulher que denunciou o crime afirmava que o homem acusado era um companheiro dela, com quem tinha convivido por cerca de 6 anos na Bahia.
“Meu pai morava em São Paulo havia anos. Tem uma filha de um relacionamento quando ele era jovem e tem eu. Nunca teve enteada”, contou.
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Uma das provas que a família de Jabson enviou para a Justiça foi a carteira de trabalho dele, que comprovava que o eletricista trabalhava como zelador em um condomínio em São Paulo, na época dos crimes, entre 2008 e 2015.
O advogado da família, Carlos Magno, afirma ainda que prenderam Jabson sem conferências básicas no local onde o processo começou.
“Houve falha em promover as diligências mínimas, de conferência da data de nascimento, filiação, RG, CPF, [conferências] necessárias para confirmar a real identidade. E selaram o destino de um inocente à prisão sob a alegação de um crime de capitulação tão grave que o mesmo precisou ficar isolado na ala denominada “Seguro” do Centro de Detenção Provisória”.
Na terça-feira (15), Jabson teve a prisão preventiva revogada após o juiz assinar o alvará de soltura e foi solto. A família o aguardava do lado de fora, o que o deixou muito aliviado. Um vídeo gravado pela filha mostra o momento da soltura.
O que dizem as autoridades da Bahia
Tribunal de Justiça:
“O juiz Eduardo Camillo, Titular da Vara de Ubatã, comunicou que: ‘o Ministério Público e a Polícia Civil acusaram que erraram no Inquérito Policial e na denúncia informando outra pessoa. Com isso, eu decidi pela liberdade dele ontem à tarde. Alvará de soltura já devidamente assinado’.”
Ministério Público:
“Informamos que o Ministério Público do Estado da Bahia apresentou parecer à Justiça, na última sexta-feira (11), manifestando-se pela revogação da prisão preventiva de Jabson Andrade da Silva. No documento, o MPBA registra que, após detida análise dos autos e da petição apresentada pela defesa, constatou-se a existência de indícios de possível equívoco na qualificação do custodiado, apontando possível homonímia entre ele e o real autor dos fatos.”
O que dizem as autoridades de São Paulo
Secretaria da Segurança Pública:
“A Polícia Civil esclarece que a prisão do homem citado ocorreu com base em um mandado de prisão em aberto expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado da Bahia e cadastrado no Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões (BNMP). Após a detenção, o mesmo permaneceu à disposição da Justiça. Informações sobre o inquérito policial e indiciamento do homem devem ser solicitadas junto aos órgãos competentes do Estado da Bahia.”
Tribunal de Justiça:
“Como se trata de processo de outro Estado, a única informação que temos aqui é que ele passou por audiência de custódia no TJSP em 8/7/25, por um cumprimento de mandado de prisão.”
Secretaria de Administração Penitenciária:
“A Secretaria da Administração Penitenciária informa que a pessoa citada foi colocada em liberdade ontem (15), em virtude de revogação de prisão preventiva concedida pelo Poder Judiciário.”
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